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Uma amostra da mobilidade do futuro circulou pela Praça do Comércio

A ‘Feira da Mobilidade – Lisboa Vive a Rua’ organizada pela CML e o Portugal Mobi Summit teve um pouco de tudo: segurança, inovações, entretenimento e mudanças de comportamento. Durante dois dias, participaram muitos ciclistas e famílias, por um futuro mais sustentável.

Quem visitasse no últimosábado o pavilhão da Mapfre na Feira da Mobilidade, na Praça do Comércio, tinha à sua espera uma grande surpresa. A ideia da seguradora espanhola era mostrar o perigo dos ângulos mortos na circulação na cidade.

No caso, um autocarro da Carris, dois modelos de ciclistas ao lado e, no chão, fitas a mostrar uma vasta superfície que o motorista do autocarro não conseguirá ver. Os ciclistas ou peões que estiverem naquele ângulo correm sérios riscos e a atenção tem de ser máxima.

Do lugar do motorista é impossível ver alguém que esteja a circular apenas a um metro de distância, do lado direito do autocarro. Fizemos a experência. É quase inacreditável. Quando o autocarro vira à direita ou se desvia de algum obstáculo, atropela quem esteja desatento do seu lado direito. A maior parte das mortes de ciclistas e peões ocorre por causa destes ângulos mortos. Ainda não há estatísticas, mas as seguradoras conhecem o fenómeno.

Esta era a vertente de segurança, mas havia muito mais: no segundo e último dia da Feira da Mobilidade-Lisboa Vive a Rua, houve animação, muitas famílias e turistas a circularem por um espaço amplo dedicado ao transporte sustentável.

A organização foi da Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com Portugal Mobi Summit. Grupos dançavam zumba, crianças experimentavam brinquedos didáticos sobre segurança rodoviária, alguns adultos atreviam-se pela primeira vez a manobrar veículos elétricos. A feira contou com exposições de equipamentos e outros produtos de empresas. A Praça do Comércio foi um ponto de encontro para toda a cidade, com um sol esplendoroso a pairar sobre o Tejo.

A eletrificação dos transportes está a avançar velozmente em vários domínios e na Feira da Mobilidade foram exibidas várias inovações. No pavilhão da EDP estavam três modelos de carregadores domésticos para veículos elétricos e muitos visitantes espantavam-se com a pequena dimensão dos dispositivos.

Estas soluções têm diferentes preços e capacidade, mas permitem carregar a bateria do carro durante a noite, com custos muito favoráveis para o consumidor. O uso constante deste tipo de carregamento simples é bem inferior ao preço de encher o depósito de um veículo a combustíveis fósseis.

No pavilhão da Transtejo-Soflusa era possível antecipar a revolução que se prepara na Grande Lisboa, com o lançamento de uma frota de dez novos navios elétricos para fazer a travessia do Tejo. As embarcações estão a ser construídas nos Astilleros Gondán, nas Astúrias, em Espanha, estando a ser ultimada a fase de instalações e certificação dos postos de carregamento das baterias. A empresa teve a feliz ideia de batizar os navios com nomes de aves e o primeiro será o Cegonha Branca.

A bicicleta foi rainha e aquele espaço estava repleto de utilizadores. Um destes ciclistas, Pedro Fonseca, usava uma bicicleta elétrica de transporte capaz de carregar até 200 quilos, o que lhe permite fazer todos os trajetos diários. “Só ando de bicicleta em Lisboa”, disse.

Na sua opinião, os políticos vão necessitar de “coragem para tirar lugares de estacionamento e criar ciclovias com continuidade”. A segurança dos ciclistas aumenta com estas vias dedicadas, mas a rede está fragmentada, muitas vezes não tem lógica ou as marcas não são nítidas.

Os ciclistas frequentes dizem que os percursos são difíceis, pois por vezes a bicicleta tem de seguir um caminho mais longo. Há também demasiados cruzamentos e por vezes é preciso acompanhar o movimento dos carros (os ciclistas defendem-se usando os passeios).

Alguns condutores exercem pressão psicológica sobre os ciclistas, o que faz com que muitas pessoas não se sintam seguras, sobretudo as mais idosas. A redução de velocidade dos automóveis para 30 quilómetros seria uma medida capaz de aumentar a segurança e levar a uma maior utilização destas formas mais lentas de transporte.

A cidadania está a acordar para estas questões, que mexem com comportamentos sociais. Existe um movimento crescente de mobilidade suave (que implica circulação mais lenta). De manhã, algumas centenas de ciclistas juntaram-se na parte lateral da feira e era impressionante o número de famílias, com crianças, os cartazes nas bicicletas de diferentes modelos, incluindo muitos veículos elétricos. Também havia bandeiras e notava-se a satisfação dos participantes.

O grupo viera da Praça de Espanha, pelo interior da cidade, convergindo na Praça do Comércio. Estas pessoas organizaram-se pelas redes sociais e pertenciam a um grupo, Kidicalmass, um movimento internacional que envolve 500 cidades e defende uma mudança de mentalidade em relação ao uso de bicicletas no transporte urbano.

Segundo Rita Ferreira, da organização deste movimento em Portugal, o objetivo é melhorar a segurança para os ciclistas, sobretudo perto das escolas, convencer as pessoas a usarem as bicicletas ou a andarem a pé.

O nome é inspirado na ideia de massa crítica, daí que este movimento de cidadãos esteja a crescer depressa, podendo em breve abranger todos os distritos do País. No fundo, pretende-se que haja ruas mais seguras, mais ciclovias, é defendida a redução da velocidade a que se circula nas vias urbanas.

Os participantes nesta feira tiveram amplas ofertas de entretenimento e informação, também houve tempo para passear num ambiente tranquilo. Uma das atrações populares foi um simples banco de baloiço, com a palavra ‘Lisboa’ por cima, ideia de Paula Martins, da Direcção-geral de Mobilidade.

Formavam-se filas para as pessoas se sentarem e, hoje aquele lugar deve ter sido dos mais fotografados em toda a capital. No fundo, um elemento simbólico, a mostrar que as ideias simples podem ter um impacto importante na vida das comunidades.

A mobilidade sustentável é o futuro dos transportes e as cidades estão a mudar com o impulso de autarquias e empresas, de movimentos e cidadãos. Esta feira, que encerra com música de DJ, foi apenas uma amostra do que aí vem.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Rita Chantre / Global Imagens