Será com poucas palavras, e sobretudo com uma mensagem de boas-vindas, que Eduarda Abbondanza abrirá esta quinta-feira mais uma edição da ModaLisboa. Ao fim de 60 edições, a fundadora da organização de promoção da moda nacional ainda fica nervosa e prefere dar voz aos outros, ainda que ela seja uma das mulheres que mais sabe e faz sobre a moda em Portugal.
Core é o mote daquilo que nos próximos dias vai acontecer na Lisboa Social Mitra, em Marvila, e que, segundo a responsável, promete ir ao âmago daquilo que faz pulsar a ModaLisboa: os seus criadores.
“Tudo o que fazemos tem por base a proteção da moda de autor em Portugal. Sempre foi assim”, realça Eduardo Abbondanza, vincando que a ModaLisboa não é só a fashion week e que a organização trabalha o ano inteiro para proteger a moda de autor.
O evento semestral acaba por ser aquele que tem mais visibilidade junto do grande público e é, cada vez mais, oportunidade para falar de sustentabilidade, inovação e tecnologia, e outras mudanças paradigmáticas dentro dos ciclos da moda. “Não que nos estejamos a virar para dentro, mas temos refletido sobre todas estas questões mais estruturantes da área da moda”, diz.
“assunto inexistente”, diz Eduarda Abbondanza
© Rita Chantre / Global Imagens
Daí que o primeiro dia do evento seja marcado pelas Fast Talks, conferências moderadas por Joana Barrios, abertas ao público mediante inscrição gratuita, que refletirão sobre os desafios da moda de autor em dois momentos distintos.
O primeiro será um enquadramento prático da atualidade nacional e internacional da indústria, com a participação, entre outros, de Olivia Spinelli, coordenadora de Design de Moda e diretora artística do IED Moda Milano, e Anastasia Bilous, editora de moda da Elle Ucrânia. No segundo, os designers de moda Ana Duarte (Duarte), Constança Entrudo, Joana Duarte (Béhen), João Magalhães, Luís Carvalho, Marta Gonçalves (Hibu), Nuno Baltazar, Nuno Gama e Valentim Quaresma irão partilhar “as suas perspetivas do presente e estratégias de futuro”.
“As conferências serão uma oportunidade livre para que cada criador intervenha sobre o seu caminho único, tome uma posição, verbalize a sua realidade e exponha a sua perspetiva sobre a prática da moda de autor e o contexto atual, social, político e ambiental, em que é aplicada”, salienta a Associação ModaLisboa.
“Sendo um dos grandes poluentes, a moda tem a missão de se estruturar em termos de boas-práticas”, acrescenta Eduarda Abbondanza, referindo algumas situações em que a investigação e a inovação têm contribuído para fazer esse caminho e ajudado a resolver problemas relacionados com o excedente de produção, a toxicidade dos materiais ou a certificação.
Há agora soluções laboratoriais menos poluentes, modelização 3D e até 2030 haverá um passaporte digital — que usa tecnologia do blockchain (a mesma das criptomoedas) — que mostrará a pegada ecológica em todas as fases do processo de produção de uma peça de roupa.
Obsessão da organização
Eduarda Abbondanza recorda que, em 2017, a associação começou a trabalhar a sustentabilidade e que, em 2020, na sequência de um estudo às práticas internas, adotou um conjunto de medidas para reduzir o próprio impacto. “Somos uma organização muito obcecada” com estas questões, assegura. “Não tem a ver com trends, nem com agendas. Está no ADN.”
Em 31 anos de ModaLisboa “mudou tudo”. A moda deixou de ser “assunto inexistente”, surgiu toda uma nova linguagem e disciplinas associadas ao setor e surgiram novos designers. Na sexta-feira, os desfiles começam precisamente pelos mais novos, com a iniciativa Sangue Novo.
Os cinco finalistas — Çal Pfungst, Darya Fesenko, Inês Barreto, Molly98 e Niuka Oliveira, competem por dois prémios: o Prémio ModaLisboa x IED — Istituto Europeo di Design Milano inclui um mestrado em design de moda no IED de Milão, no valor de 20 100 euros e uma bolsa de quatro mil euros; e o Prémio ModaLisboa x Tintex Textils, que inclui uma residência artística de três semanas na Tintex e desenvolvimento de uma coleção-cápsula e ainda uma bolsa de 1500 euros.
As coleções criadas no âmbito dos prémios serão apresentadas na plataforma Workstation, e os dois vencedores recebem também mentoria da ModaLisboa.
Desfiles dos profissionais
Na sexta-feira são ainda apresentadas coleções de Arndes, da Salsa Jeans, de Filipe Augusto, de Valentim Quaresma e de Olga Noronha.
Para sábado estão marcadas as apresentações de Constança Entrudo, sete jovens designers formados pelo Istituto Europeu de Design (Nicolò Artibani, Lorenzo Attanasio, Alessandro Bonini, Gaia Ceglie, Luca De Prà, Giovanni Marchetti e Maria Eleonora Pignata), Luís Buchinho, Mustique, Kolovrat, Buzina, Luís Carvalho, Béhen e Gonçalo Peixoto.
No domingo são apresentadas as coleções de João Magalhães, Duarte, Hibu, Carlos Gil, Nuno Gama, Nuno Baltazar, Dino Alves e Cal Me Gorgeous by Luís Borges.
Embora as apresentações das coleções sejam acessíveis apenas por convite, há uma programação paralela acessível ao público em geral. Além das Fast Talks, há exposições e um lounge, onde estão presentes várias marcas e há roullotes de venda de comida.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito das Imagens: Rita Chandre / Global Imagens
