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“Um homem do campo” de convicções centristas. François Bayrou nomeado novo primeiro-ministro francês

François Bayrou foi esta sexta-feira nomeado novo primeiro-ministro francês pelo presidente Emmanuel Macron.

Bayrou, de 73 anos e bem conhecido na política francesa há décadas, ficou “encarregue de formar um governo” segundo um comunicado de imprensa da Presidência.

Será o quarto chefe de Governo francês desde a reeleição de Macron em abril de 2022 para um mandato de cinco anos.

O experiente Bayrou, recentemente ilibado num caso de alegado desvio de fundos do Parlamento Europeu, terá que sobreviver à censura parlamentar e restaurar a estabilidade do país, uma vez que nenhum partido detém a maioria na Assembleia Nacional.

O presidente do Movimento Democrático (MoDem, da aliança presidencial), fundado em 2007, terá de construir uma maioria relativa estável na Assembleia Nacional, atualmente fragmentada em três blocos (esquerda, macronistas/direita e a extrema-direita), para assim conseguir aprovar projetos de lei e adotar um orçamento para 2025 que a França não tem atualmente.

O Governo de Bayrou terá de contar com deputados moderados da esquerda e da direita para se manter no poder e talvez com alguns conservadores, com Macron a tentar evitar que a líder da União Nacional (RN), Marine Le Pen, detenha o poder de desfazer o executivo, como aconteceu com Barnier, e apostando na ala esquerda da sua aliança, nomeadamente nos socialistas.

Bayrou foi recebido no Palácio do Eliseu às 08:30 horas locais (07:30 de Lisboa) para uma reunião com o chefe de Estado que durou uma hora e quarenta e cinco minutos, saindo sem fazer qualquer comentário à imprensa, segundo a agência France-Presse.

Esta foi a terceira vez que os dois trocaram impressões, depois de Emmanuel Macron se ter reunido com líderes partidários com o objetivo de nomear um novo chefe de Governo desde a demissão do conservador Michel Barnier, após a moção de censura histórica aprovada na Assembleia Nacional, a primeira desde 1962.

Michel Barnier, antigo comissário europeu de 73 anos, foi nomeado a 05 de setembro dois meses após as eleições legislativas antecipadas que deram a vitória à coligação de esquerda da Nova Frente Popular, estando apenas dois meses em Matignon e tendo um governo minoritário e o mais curto da história da V República.

É esperado que a transferência de poder entre o primeiro-ministro demissionário e o sucessor François Bayrou, três vezes candidato às eleições presidenciais (2002, 2007 e 2012), seja feita nas próximas horas no Hôtel de Matignon, residência oficial do primeiro-ministro francês.

Bayrou é um aliado centrista de Macron e uma personalidade com quem o chefe de Estado já se reuniu duas vezes desde a queda do executivo de Michel Barnier no dia 4 de dezembro.

A imprensa francesa havia colocado em cima da mesa também os nomes de Bernard Cazeneuve, antigo primeiro-ministro de François Hollande, de Catherine Vautrin, ministra conservadora dos Territórios e Descentralização, e de Sébastien Lecornu, ministro conservador da Defesa.

A demissão de Barnier surgiu na sequência da derrota do seu Governo na semana passada numa moção de censura apresentada pelo bloco de partidos de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e apoiada pela extrema-direita de Marine Le Pen, União Nacional (RN, sigla em francês).

Esta foi a primeira vez que o Governo francês foi censurado por uma moção desde 1962, num momento em que este que é um dos países-chave da União Europeia (UE) atravessa uma incerteza política e económica.

A moção de censura ao Governo minoritário de centro-direita foi aprovada por 331 votos na Assembleia Nacional, obrigando Barnier a demitir-se após apenas três meses no cargo, para o qual foi nomeado por Macron em 05 de setembro – o mandato mais curto de um primeiro-ministro francês desde a Segunda Guerra Mundial.

“Um homem do campo” de convicções centristas

O novo primeiro-ministro de França, François Bayrou, 73 anos, é um defensor de longa data da política centrista francesa e é reconhecido por ser um dos primeiros apoiantes do Presidente Emmanuel Macron.

Filólogo de formação, este filho de agricultores que gosta de se apresentar como “um homem do campo”, ingressou na política aos 25 anos como conselheiro do departamento dos Pirenéus-Atlânticos, onde se localiza Pau, a sua terra natal.

Na sua juventude, lutou com um caso grave de gaguez, que só superou com anos de terapia da fala e foi um aluno distinguido na universidade, onde, aos 23 anos, foi agraciado com o mais alto grau de qualificação para professores em França.

Apesar da sua longa vida política, viveu sempre na quinta onde nasceu e onde criou cinco filhos com a sua mulher, Élisabeth Perlant.

Em 1986, foi eleito para a Assembleia Nacional como representante da União para a Democracia Francesa (UDF), uma confederação centrista e sete anos depois foi nomeado ministro da Educação do Governo de Édouard Balladur.

Enquanto líder da pasta da Educação (1993-1997), Bayrou propôs diversas reformas, como o financiamento de escolas privadas por autoridades locais, e foi altamente contestado acabando por ver as suas sugestões rejeitadas pelo Conselho Constitucional.

No final dessa década, em 1998, tornou-se líder da UDF, unificando-a e afastando-se dos conservadores do então RPR, antecessor do União por um Movimento Popular (UMP).

Posteriormente, fundou o Movimento Democrático (MoDem) em 2007, consolidando a sua visão de um centrismo independente e modernizador.

O novo primeiro-ministro foi três vezes candidato à presidência (em 2002, em 2007 e em 2012), tendo ficado em terceiro lugar em 2007.

Em 2017, Bayrou decidiu não concorrer ao Eliseu, apoiando o centrista Emmanuel Macron.

Foi nomeado ministro da Justiça no primeiro Governo de Édouard Philippe (2017-2020), mas acabou por sair pouco tempo depois, no âmbito de um escândalo em que foi acusado de utilização indevida de fundos do Parlamento Europeu, onde foi eurodeputado entre 1999 e 2002.

Foi absolvido em fevereiro, mas o seu partido político e oito outros responsáveis acusados foram considerados culpados.

A acusação indicava que estaria envolvido num esquema de desvio de fundos para pagar a funcionários do partido a que preside, o Movimento Democrático.

À saída do tribunal, Bayrou disse que a decisão do tribunal marcava o fim de um “pesadelo de sete anos”.

Ainda assim, Bayrou continuou a desempenhar um papel fundamental como conselheiro de Macron, sobretudo nas eleições de 2022.

Bayrou é também um especialista na figura do rei Henrique IV de Navarra, que pôs fim às guerras religiosas entre católicos e huguenotes do século XVI, também nascido em Pau e também defensor de políticas de moderação.

Oposição receia que Bayrou seja continuidade do macronismo e ameaça com nova censura

Os líderes da oposição francesa aceitaram a nomeação de François Bayrou como primeiro-ministro de França, o quarto nome a ocupar o cargo em 2024, mas ameaçam censurar o novo executivo caso não exista uma mudança política.

A líder da União Nacional na Assembleia Nacional, Marine Le Pen, apelou ao novo primeiro-ministro, cujo nome foi hoje anunciado pelo Presidente francês Emmanuel Macron, para que “faça o que o seu antecessor não quis fazer: ouvir e escutar a oposição para construir um orçamento razoável e ponderado”.

“Qualquer política que consista apenas em prolongar o macronismo, rejeitado duas vezes nas urnas, só pode levar a um beco sem saída e ao fracasso”, afirmou Le Pen na rede social X.

François Bayrou, de 73 anos, “será encarregado de dialogar com todos os partidos políticos”, excluindo a União Nacional (RN) e França Insubmissa (LFI), “a fim de encontrar as condições de estabilidade e de ação”, disse entretanto a comitiva de Macron à agência noticiosa France-Presse (AFP).

“Não haverá censura ‘a priori'”, disse, por sua vez, Jordan Bardella, presidente da União Nacional, cujos votos, juntamente com os dos deputados de esquerda, ajudaram a destituir o anterior governo do conservador Michel Barnier.

Em declarações aos ‘media’, Bardella garantiu que serão mantidas “as mesmas linhas vermelhas” que tinham com o anterior executivo.

Já o partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI) anunciou que vai apresentar uma moção de censura contra o Governo de Bayrou, porque este não vem dos partidos da esquerda como esta ala política pede desde a vitória nas eleições legislativas de julho.

“Os deputados vão ter duas opções: apoiar o resgate de Macron ou a censura. Nós fizemos a nossa”, afirmou a presidente do LFI na Assembleia Nacional, Mathilde Panot, na rede social X, acrescentando que é “mais uma candidatura para o adiamento de Emmanuel Macron”.

Os socialistas, os ecologistas e os comunistas, as outras forças da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que se têm mostrado abertos a um acordo político, não ficaram satisfeitos com a nomeação de François Bayrou.

“A nomeação de um primeiro-ministro do seu próprio campo envia um sinal errado”, afirmou o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), Fabien Roussel, que, no entanto, afirmou que “julgará com base nas provas”.

Fabien Roussel disse que não censuraria o Governo de Bayrou ‘a priori’, pedindo que este se comprometa a construir maiorias e compromissos e a “uma mudança de política”.

Para a líder dos Ecologistas, Marine Tondelier, “quanto mais Emmanuel Macron perde terreno em termos eleitorais, mais se agarra àqueles que lhe são muito próximos e que encarnam o macronismo mais fiel”, e acrescentou que tal “é incompreensível em termos eleitorais”.

“Se for para manter as mesmas pessoas, deixar Bruno Retailleau [ministro do Interior] lá dentro, não fazer nada em relação às pensões, à ecologia, à justiça fiscal (…) não vejo que outra opção teremos”, defendeu Tondelier, numa referência a uma potencial moção de censura.

Já os dirigentes socialistas, que ainda não se pronunciaram após o anúncio da nomeação, deverão esperar também para conhecer os objetivos de Bayrou, que terá agora de nomear um executivo e definir as suas principais linhas políticas, das quais dependerá a sua sobrevivência enquanto chefe de Governo.

Após uma semana de consultas de Macron com líderes partidários para encontrar um sucessor para Michel Barnier, cujo executivo foi derrubado por uma moção de censura de contornos históricos em 04 de dezembro, Bayrou terá a difícil tarefa de sobreviver à ameaça de censura de uma Assembleia Nacional fragmentada e sem um bloco maioritário.

François Bayrou tem “as qualidades para defender o interesse geral e construir a estabilidade essencial que os franceses esperam”, num momento difícil para a França, disse o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, garantindo que os membros do grupo político presidencial “partilham estes objetivos e estarão ao seu lado”.

O antigo ministro centrista dos Negócios Estrangeiros do governo de Barnier, Jean-Noël Barrot, afirmou acreditar que Bayrou, presidente do Movimento Democrático (MoDem, da aliança presidencial), será capaz de “responder à profunda necessidade de paz e unidade do país”, segundo uma mensagem publicada na rede social X.

François Bayrou terá uma enorme tarefa à frente do Governo, tendo o Orçamento do Estado para 2025 como prioridade, numa altura em que a França está fortemente endividada e o projeto de orçamento da Segurança Social levou à queda do seu antecessor.

Para segunda-feira, está previsto que a Assembleia Nacional vote uma “lei especial” para assegurar a continuidade de financiamento do Estado. A “lei especial” estenderá temporariamente as normas orçamentais de 2024, até que o novo Governo francês consiga que o orçamento para 2025 seja aprovado.

Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal