A taxa de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE), o preço do refinanciamento normal cobrado aos bancos da zona euro, aumentou em mais meio ponto percentual (0,5 pontos), para 2,5%, anunciou a instituição baseada em Frankfurt e presidida por Christine Lagarde.
Também disse preto no branco que o agravamento do custo do financiamento terá de continuar e que a partir de março o BCE vai começar a desfazer-se de obrigações do tesouro e outros títulos que tem na sua posse, o que pressionará os juros ainda mais em alta, sobretudo os que estão a cargo dos contribuintes e dos governos.
Tal movimento tenderá a fazer subir a despesa pública e dificulta a redução do défice, por exemplo, exigindo mais cortes noutras despesas e/ou agravamentos na receita, à luz das regras ativas do Pacto de Estabilidade.
Aumentos severos dos juros
Sobre as taxas de juro, na nota desta quinta, o BCE diz mesmo que “espera aumentá‑las significativamente porque a inflação permanece demasiado elevada e se projeta que continue acima do objetivo durante demasiado tempo”.
O nível de juros da zona euro fica assim no valor mais elevado desde o final de 2008, estava o mundo mergulhado numa grave crise financeira e a caminho de uma grave crise económica e de dívidas públicas.
Até julho deste ano e durante cerca de seis anos (desde março de 2016), as taxas de juro da zona euro estiveram em 0%.
Com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, a inflação ficou descontrolada, puxada pelo custo exorbitante da energia e dos alimentos, tendo disparado para níveis nunca vistos na História do euro, continuando atualmente próxima dos 10%.
Este valor é cinco vezes maior do que o objetivo formal e legal da autoridade liderada por Christine Lagarde (inflação em torno de 2% no médio prazo).
Por isso, o conselho do BCE, onde têm assento todos os governadores dos bancos centrais da zona euro, Mário Centeno incluído, “decidiu hoje aumentar as três taxas de juro diretoras do BCE em 50 pontos base [0,5 pontos percentuais] e, com base na revisão em alta substancial das perspetivas quanto à inflação, espera continuar a aumentá‑las”.
Este ano, depois de um longo período de juros zero, o BCE começou por aumentar juros em 0,5 pontos em julho, e como a inflação continuou a sua cavalgada, subiu o equivalente a mais 0,75% em setembro e repetiu a dose em novembro.
Agora sobe, mas mais devagar, como aliás os analistas e dos decisores dos mercados de capitais mundiais já estavam a antecipar. A inflação continua alta, mas dá sinais de que pode ter atingido o pico.
Além disso, a atividade económica e o emprego começam a vacilar em alguns setores, havendo também medo de que esta subida repentina e agressiva dos juros gere problemas graves de malparado a famílias, empresas e ato contínuo arrase com as contas dos bancos novamente.
Como referido, o conselho do BCE “considera que as taxas de juro ainda terão de aumentar de forma significativa a um ritmo constante, no sentido de serem atingidos níveis que sejam suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo”.
Ou seja, “manter as taxas de juro em níveis restritivos reduzirá, com o tempo, a inflação, ao refrear a procura, e protegerá também contra o risco de uma persistente deslocação, em sentido ascendente, das expectativas de inflação”.
BCE começa a livrar-se de dívida pública em março
“As taxas de juro diretoras do BCE são o principal instrumento ao dispor do conselho do BCE para estabelecer a orientação da política monetária”, mas o sistema de bancos centrais do euro e o BCE têm na sua posse quantidades enormes de dívida pública e privada que compraram e conservaram nos balanços durante anos de modo a manter as taxas de juro em níveis muito baixos, nalguns casos até zero ou negativas.
Portugal, que é um país muito endividados, foi dos que mais beneficiou desses programas de compras de ativos.
Mas esse tempo de juros a preço de saldo para os governos da zona euro acaba a partir de março que vem. O BCE vai deixar de fazer alguns “reinvestimentos” de obrigações do tesouro e privadas.
A entidade de Frankfurt revela que “o conselho do BCE também debateu hoje os princípios para normalizar os títulos detidos pelo Eurossistema para fins de política monetária” e a ideia é que “a partir de março de 2023, a carteira do programa de compra de ativos (asset purchase programme – APP) diminuirá a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurossistema não reinvestirá todos os pagamentos de capital de títulos vincendos [que chegam à maturidade]”.
“A diminuição ascenderá, em média, a 15 mil milhões de euros por mês até ao final do segundo trimestre de 2023 e o seu ritmo subsequente será determinado com o tempo”, sendo que “na reunião de fevereiro, o conselho do BCE anunciará os parâmetros detalhados para a redução das posições do APP”, disse a instituição, em comunicado.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
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