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TAP. Negócio da manutenção no Brasil foi bom no geral mas não faria de novo, admite Fernando Pinto

O antigo presidente executivo da TAP Fernando Pinto considerou esta quarta-feira que o negócio de manutenção no Brasil, comprado à Varig há 20 anos, “foi bom” no geral mas, se conseguisse adivinhar o futuro, não o faria de novo.

“No geral, isso [VEM/TAP ME Brasil] foi bom. Se me pergunta se faria de novo? Não, eu tentaria fazer de outra forma, para não ter esses custos, problemas e tudo mais, mas ninguém consegue adivinhar o futuro”, afirmou Fernando Pinto, que foi hoje ouvido na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas e Habitação, a requerimento da IL, no âmbito das conclusões da Inspeção-Geral das Finanças (IGF) sobre a compra da Manutenção e Engenharia Brasil (VEM/TAP ME Brasil).

A auditoria da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) às contas da TAP, divulgada em setembro, critica a participação no negócio de manutenção no Brasil, afirmando que a racionalidade económica não foi demonstrada e que se perspetivam “perdas muito significativas”.

“Não se encontra demonstrada a racionalidade económica da decisão da administração da TAP, SGPS, de participar no negócio da VEM/TAP ME Brasil e, posteriormente, de não aceitar uma proposta da Geocapital, de 23/01/2007, de renegociar a parceria no sentido, designadamente, de partilhar riscos e encargos, tendo, ao invés, optado pelo reforço da sua posição na VEM, sem orientações das tutelas ou da acionista Parpública nesse sentido, ficando acionista única da Reaching Force e detentora de 90% do capital da VEM”, lê-se no documento.

“Perspetivam-se perdas muito significativas com aquele negócio pela não recuperabilidade dos valores envolvidos, que, até 2023, ascendiam a 906 milhões de euros”, segundo o relatório.

Na audição de hoje, Fernando Pinto lembrou que, à época, a manutenção era o “melhor negócio do mundo na aviação”, mas o contexto alterou-se posteriormente, com as diversas crises, entre as quais a do petróleo, em 2008.

Adicionalmente, explicou, os custos da VEM aumentaram com a valorização do real no Brasil, que levou também aos aumentos dos custos com mão-de-obra.

O antigo presidente executivo (CEO), que deixou a TAP em 2017, adiantou que a compra da VEM contou com o “entusiasmo total” da Parpública, que considerava a manutenção de aeronaves “o melhor negócio”.

O antigo responsável explicou que, a partir do momento em que a TAP percebeu que a ME Brasil não dava resultados, tentou-se a venda, várias vezes, mas sem sucesso.

Adicionalmente, Fernando Pinto apontou que encerrar a empresa não foi uma opção, porque traria prejuízos muito maiores à TAP, devido a questões fiscais no Brasil, que a empresa estava a questionar legalmente.

“Naquele tempo, eu não apostava no encerramento, apostava, sim, na recuperação e isso aconteceu, em 2018, antes do problema com a covid-19, ela [VEM] teve resultados operacionais positivos”, realçou.

Questionado sobre as afirmações do antigo administrador da companhia aérea Diogo Lacerda Machado, de que o negócio no Brasil “foi de longe o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos” e que sem ele a companhia, provavelmente, hoje não existiria, Fernando Pinto concordou que a manutenção ajudou ao crescimento do transporte aéreo — a TAP SA — que tinha bons resultados.

Quanto ao ex-acionista David Neeleman, Fernando Pinto considerou que Portugal tem muito a agradecer-lhe, por ter aberto o mercado americano à TAP.

Em entrevista à Lusa, em janeiro de 2022, a então presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, anunciou que, após tentativas de venda falhadas, o grupo tinha decidido encerrar gradualmente as operações de Manutenção e Engenharia Brasil (TAP ME), como parte do plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia no mês anterior, que exigia a separação dos ativos não-essenciais, nomeadamente o negócio de manutenção no Brasil, e os de ‘catering’ (Cateringpor) e de ‘handling’ (Groundforce).

TAP deve ser privatizada com bom parceiro e ótima negociação, diz ex-presidente executivo da empresa
O antigo presidente executivo da TAP Fernando Pinto considerou esta quarta-feira que a companhia aérea deve ser privatizada e que o processo tem de ser feito com um “bom parceiro” e com uma “ótima negociação”.

“Eu acredito numa empresa privatizada, acho que deve ser, tem de ser com um bom parceiro e com uma ótima negociação”, afirmou Fernando Pinto.

Questionado também sobre a privatização dos aeroportos, que levou à concessão à ANA/Vinci por 50 anos, Fernando Pinto considerou que as infraestruturas aeroportuárias têm de ser privadas, mas realçou que as concessões “têm de ser muito bem controladas”, com um sistema de acompanhamento “muito forte”.

Em declarações aos jornalistas, no final da audição, Fernando Pinto considerou que faz sentido a TAP ser vendida a uma empresa aérea, ou alguém que tenha ligações e conhecimento do mercado aéreo.

“Pura e simplesmente um investidor, não funciona”, defendeu, apontando que a participação do investidor português Humberto Pedrosa no passado “foi muito boa”, porque é preciso ter alguém com a cultura do país.

Quanto à percentagem a vender, Fernando Pinto referiu que essa é uma decisão do Estado, mas, dependendo da empresa que entrar, se o acordo for bom, não precisa de ficar com a maioria da companhia aérea, precisa sim é de um acordo de gestão da empresa.

“A minha gestão na TAP sempre foi independente, respeitando, obviamente, o Estado, mas eu sempre fui muito respeitado pelo Estado na minha gestão”, afirmou.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: www.observador.pt