Teve de tudo um pouco: maracatu, doces, homenagens, momentos de afirmação racial, sucessos da Xuxa…. A primeira noite do Santos Carnaval 2024, nesta sexta-feira (2) e madrugada de sábado (3), fez as escolas de samba levantarem o público nas arquibancadas da Passarela do Samba Dráuzio da Cruz e agitou a galera que estava nas sacadas dos prédios vizinhos na Zona Noroeste.
Além do ritmo, as agremiações deram um show de cores e adereços com seus carros alegóricos. Apresentaram-se, pela ordem, Padre Paulo, Bandeirantes do Saboó e Vila Mathias, todas lutando pelo título do grupo de acesso. Na sequência, foi a vez do grupo especial, com a Zona Noroeste, União Imperial, X-9 e Real Mocidade.
Quem deu boas-vindas ao público foi a Corte Carnavalesca que, este ano, está representada por Fábio Rocha Baptista (Rei Momo), Arlene Pereira Marcolino (rainha) e Priscila Mara Gomes de Almeida (princesa). Completaram a hierarquia festiva Marcos de Brito Silva e Tereza Cristina Pereira Félix, respectivamente, cidadão e cidadã samba.
A primeira noite do Carnaval santista recebeu ainda um convidado especial: Neguinho da Beija-Flor. O jovem de 74 anos esbanjou simpatia acompanhando escolas, passeando pelo público e não negando nenhuma foto pedida pelos fãs. “É uma honra ser embaixador do Carnaval de Santos”.
O Santos Carnaval 2024 teve uma ‘pegada’ diferente: a implantação da quarta cabine de jurados fez as escolas mudarem de estratégia este ano. Se antes elas se permitiam “relaxar” depois de passarem pelas três cabines, este ano elas mantiveram a ginga e o pique por toda a avenida.
PADRE PAULO
Nascida no Estuário, a Mocidade Independente de Padre Paulo abriu o Santos Carnaval 2024. A escola entrou na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz às 21h02, ao som do samba-enredo ‘Maracatu – Resistência e Manifestação’. A parte final do enredo “Maracatu, africanidade” levantou o público que estava na arquibancada.
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A agremiação evidenciou uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras, trazendo a história do maracatu desde suas origens em Pernambuco, combinando tradições africanas, portuguesas e indígenas, até seu histórico de resistência ao representar as lutas do povo e sua grandiosidade cultural, religiosa e ancestral.
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BANDEIRANTES DO SABOÓ
Com um enredo de dar ‘água na boca’, a Bandeirantes do Saboó levou ‘Uma Doce Magia’ à passarela. Já na entrada, às 22h08, o público relembrou o sucesso “Doce Mel”, da apresentadora e cantora Xuxa. A escola reuniu 700 integrantes – incluindo fadas, o famoso personagem Chapeleiro Maluco, bruxas e magos – divididos em dez alas que coloriram os olhos de quem via os carros decorados com pirulitos, balas e bombons.
E as guloseimas não ficaram só nos adereços, os componentes distribuíram doces e muita alegria para a galera.
A agremiação comparou o trabalho artesanal de cozinheiros e confeiteiros ao dos grandes alquimistas de outrora, em busca de suas fórmulas e ‘receitas’ perfeitas.
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VILA MATHIAS
Última escola do grupo de acesso a entrar na noite de sexta-feira, a Vila Mathias prestou uma homenagem a uma das mais tradicionais escolas de samba da Capital, a Barroca Zona Sul, que este ano completa seu cinquentenário. A agremiação entrou na passarela às 23h15, com anjos de branco e verde.
O enredo ‘Exaltando o Reduto de Gente Bamba, a Vila Canta a Faculdade do Samba’ foi apresentado com uma explosão de cores, não limitado ao amarelo e azul do pavilhão da Vila Mathias.
Com 600 componentes, desfilou com uma deusa guerreira, um índio empurrando arco e flecha e, entre os destaques, a ala das baianas que reverenciam Nossa Senhora. O desfile lembrou momentos marcantes da agremiação, desde a fundação até a ascensão à elite do carnaval paulistano, passando pelos grandes enredos, trajetórias de seus baluartes e conquistas.
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UNIDOS DA ZONA NOROESTE
Com as cores vermelho, verde e branco, a Unidos da Zona Noroeste turbinou sua apresentação colocando uma réplica de um caminhão na passarela, prestando um tributo à classe dos caminhoneiros. A proposta foi a de valorizar a luta diária desses trabalhadores pelas estradas Brasil afora e seu fundamental papel para o desenvolvimento do País. O Galo – destaque do primeiro carro alegórico – não só é o símbolo da escola, como também era uma referência ao horário que muitos trabalhadores acordam para ganhar o ‘pão’ nas estradas Brasil afora.A Unidos da Zona Noroeste fez uma homenagem a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, representado em um carro alegórico, mostrando o anseio de reencontrar a família e dar a ela uma condição melhor. Nossa Senhora, a Padroeira do Brasil, abençoou a pista e os integrantes da agremiação, ostentando as cores azul e dourado.
Uma curiosidade envolve a agremiação este ano: sua madrinha é a Mocidade Amazonense – e as duas disputam juntas o Grupo Especial este ano. O enredo apresentado foi ‘Com fé em São Cristóvão e nas rodas de meu caminhão, hoje o galo transporta o futuro da nação’, do carnavalesco Dionísio Mago.
UNIÃO IMPERIAL
“O negro é ouro, é joia rara. A resistência que não se cala”, o refrão foi cantado nas arquibancadas, camarotes e frisas da passarela, quando a União Imperial entrou em cena, à 01h33, com o enredo ‘Azeviche, a ascensão da áurea cor’. A agremiação do Marapé mostrou um samba para reafirmar a relevância social e étnico-racial da negritude como símbolo do movimento político e libertário na Cidade.
Mas o que é azeviche? Muitos que estavam na festa devem ter se perguntado. É uma pedra preta, milenar e valiosa e foi representado na narrativa por figuras relevantes na luta por igualdade, combate ao preconceito e ativismo negro, como Pai Felipe, Quintino de Lacerda, Luiz Gama, Esmeraldo Tarquínio, Alzira Rufino (todos em memória), e Djamila Ribeiro.
Dos 1.400 componentes divididos em 14 alas, tendo como um dos destaques a modelo e dançarina Scheila Carvalho como mestre de bateria.
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X-9
Com o enredo “Meu Nome é Favela”, a X-9 entrou na passarela às 2h46, com 2.300 componentes distribuídos em 16 alas, apresentando um tema de grande apelo popular. Em busca do vigésimo título, a escola provou que “resistir é viver com alegria” – como diz a letra cantada pelo público em euforia.
Intercalando entre alas, protestos eram formados por componentes da Pioneira acorrentados e encapuzados, formando a palavra ‘favela’.
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O último carro alegórico clamava por “paz, saúde e educação” – palavras escritas em caixas no colo de um menino em cima de uma montanha de lixo.
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REAL MOCIDADE SANTISTA
Os corações que tendiam bater mais fraco na madrugada mudaram de ideia às 0406, quando a Real Mocidade Santista trouxe a campo uma emocionante homenagem a uma das grandes artistas da música brasileira: a paraibana Elba Ramalho. “Oi tum, tum, bate coração” veio das caixas de som e levantou a galera.
O enredo ‘Oxente, Real Mocidade, Santista! Elba, a sua história faz história. Ai que saudade d’ocê!’ veio com referências ao cordel, aos ritmos consagrados pela cantora e pelos grandes sucessos que marcam seus mais de 50 anos de carreira. A ‘Festa do Interior’ veio para fechar a primeira noite do Carnaval Santos 2024.
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Público se emociona
O prefeito Rogério Santos destacou que se tratava de uma noite muito especial. “As escolas e o público estão promovendo um Carnaval maravilhoso para todos prestigiarem. Estamos com escolas de samba fortíssimas. Este ano, contamos com maior número de julgadores e novas regras de rebaixamento. A disputa vai ser ainda maior, com resultado mais interessante para quem estiver assistindo”.
Quem não conteve a emoção de estar mais um ano acompanhando toda a folia do Carnaval santista foi Andreia da Silva, 55, que não deixou de mostrar sua torcida. “Todo ano estou nesta linda festa, que mostra empenho e dedicação de cada escola. A X-9 é a minha favorita, com toda a certeza, mas estou amando os enredos e as cores que já mostraram por aqui”.
Também fiel à X-9, Monica Machado, 56, está de volta à arquibancada depois de anos, dessa vez acompanhada pela amiga Andreia. Para a professora que veio do Guarujá só para assistir a escola, as baterias e fantasias são um espetáculo à parte.
“Mesmo sem presenciar essa alegria por algum tempo, sou fã do Carnaval de Santos. Desde sempre, tenho paixão por todos os adereços e ritmos que os integrantes usam. Não perco um detalhe.”
Outra moradora de Vicente de Carvalho, Guarujá, a cuidadora Vera Lucia dos Santos, 54, estreava sua participação em desfiles de Carnaval. Ao lado de amigas, ela revelou não ter uma escola do coração, mas estava ansiosa para ver a passagem de algumas agremiações. “No passado, cheguei a sair em bandas de Carnaval. Hoje estou mais sossegada. Adoro assistir aos desfiles desde pequena”.
Equipe
Presente no evento com cinco viaturas e quatro motolâncias, o Samu registrou 17 ocorrências e cinco encaminhamentos para unidades de Saúde. Destas, uma foi considerada grave – suspeita de AVC, com a vítima sendo levada para a Santa Casa de Santos.
Ao todo, 180 profissionais da Prefeitura participaram do evento, entre profissionais da Cultura, Comunicação, Saúde, Segurança e CET-Santos.
Fonte: Prefeitura Municipal de Santos
Crédito das imagens: Francisco Arrais e Marcelo Martins