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Região Norte é a mais fustigada pela inflação na comida, Lisboa no custo da energia

A taxa de inflação de Portugal medida em setembro deste ano face a igual mês de 2021 saltou para um máximo de três décadas na ordem dos 9,3%, disse ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmando assim a sua primeira estimativa feita no final de setembro.

Mas a taxa nacional encerra em si diferentes realidades e apertos. Ontem, o INE detalhou pela primeira vez os números da inflação no qual é possível ver os vários impactos da subida do custo de vida por regiões, por tipos de consumo, etc. Também aqui foram batidos vários recordes.

A região Norte aparece, em termos do custo associado ao consumo final de bens essenciais, como a mais fustigada do País pela subida de preços.

A norte, o preço médio da comida galgou 17,7% em apenas um ano até setembro último – a média nacional está nos 16,4%.

A segunda região mais cara é a Área Metropolitana de Lisboa, com uma inflação de 16,6% nos produtos alimentares.

De referir que o grupo designado “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” tem o maior peso no cabaz normalizado que serve para calcular o Índice de Preços no Consumidor (IPC). Vale cerca de 22% da despesa considerada.

Em regiões com maior densidade de pobreza e desigualdade, o peso do consumo de comida tende, obviamente, a absorver mais da despesa dos agregados familiares e consumidores finais.

Portanto, quanto maior a inflação aqui, maior a pressão para empurrar famílias para situações cada vez mais difíceis na gestão dos seus orçamentos correntes.

Outro grande item do IPC com peso cimeiro é, claro, os dos produtos energéticos, onde se incluem luz, gás, gasóleos, gasolinas, combustíveis para aquecimento.

Os consumidores finais da área da grande Lisboa são os que mais sentem o aperto: em setembro, a inflação homóloga nesta classe de produtos foi de 23,9%.

A região Norte surge bastante fustigada, a escassas décimas de distância, com uma inflação anual de 23,1% e acima da média nacional que ronda os 22,2% na energia, indicam os dados do INE.

Há sinais notórios de que as regiões que concentram mais turismo e passagem de pessoas possam estar a ser contaminadas por uma subida mais agreste dos preços.

A rubrica de produtos que, a nível nacional, lidera a inflação medida em setembro é, sem surpresa, a dos “restaurantes e hotéis”: segundo o INE, a subida homóloga dos preços neste agrupamento setorial foi de quase 18%. É praticamente o dobro da inflação média nacional (os já referidos 9,3%).

Em resumo: Portugal regista hoje uma inflação que já vai em mais de 9%. A região metropolitana de Lisboa lidera nesse indicador global com uns superlativos 9,9%. O Norte do país acarta com uma subida geral de preços de 9,4%.

As regiões menos afetadas, ainda assim com inflações elevadas para o histórico das últimas décadas do euro, são Açores (6,4%) e Alentejo (7,6%).

OE nacional, não regional

Com a dispersão que existe nos preços (por regiões, por perfil de consumo dos milhões de famílias residentes), percebe-se que as médias em que assentam os orçamentos do Estado podem motivar distorções ou servir menos a alguns do que a outros.

A nova proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) prevê que a inflação nacional fique em 7,4% este ano e que desça muito em 2023, para 4%.

Por exemplo, o aumento legal das pensões em 2023 que decorreria de uma inflação na ordem dos 7%, acabou por ser esvaziado (em cerca de metade) através de um esquema de antecipação de liquidez em nome do combate à crise.

Mas um pensionista médio da região Norte ou de Lisboa já pode estar a enfrentar uma erosão superior no seu poder de compra. Basta ver que a inflação nestas duas regiões supera a média nacional.

No caso dos pensionistas mais pobres, a maioria, pior ainda. Com uma propensão maior (a serem obrigados, no fundo) a gastar mais dinheiro em comida, luz e gás, podemos estar a falar em pessoas cuja inflação efetiva, sentida, pode rondar hoje bem mais de 7% ou 8%, quando a comida já custa mais 11% no caso dos alimentos (média nacional do aumento registado de janeiro a setembro, segundo cálculos do DV com base nos dados do INE).

O mesmo problema tende a colocar-se no caso do aumento previsto para o salário mínimo. Para os trabalhadores mais precários ou jovens, com uma previsível propensão ao consumo de bens essenciais superior, a subida de 7,8% apontada para 2023 pode ser curta, também.

Sendo certo que há alguns apoios sociais para atenuar estes efeitos da inflação galopante e do risco de pobreza que implicam nas camadas mais “vulneráveis”.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Ina Fassbender / AFP