Dois golos marcados (e mais dois anulados) ao Liechtenstein chegaram para Portugal manter o apuramento imaculado e somar o nono triunfo seguido na fase de qualificação para o Euro 2024 – prova para a qual a seleção já está apurada.
Cristiano Ronaldo e João Cancelo marcaram os golos num dos piores jogos da era Roberto Martínez, que segue 100% vitorioso ao serviço da seleção e em apuramentos (19 vitórias em 19 jogos, juntando Portugal e Bélgica).
José Sá foi titular, tornando-se no 59.º guarda redes a defender a baliza nacional. Desde a chamada de Fernando Santos para a Taça das Confederações de 2017, que o agora guardião do Wolverhampton esperava por uma oportunidade para cumprir “o sonho de criança” aos 30 anos. Teve-a ontem, assim como Toti Gomes, que esperou bem menos para estreia.
Roberto Martínez sempre elogiou a entrega do defesa central dos wolves nos treinos mesmo sabendo que podia ir para a bancada jogo sim, jogo sim. Hoje, no Rheinpark Stadion, jogou ao lado de jogadores que antes escolhia para jogar na PlayStation.
Além de estrear os dois jogadores do Wolverhampton, o selecionador surpreendeu ao sentar o até ontem totalista Rúben Dias e apostar num esquema ultra-ofensivo. A ideia explicada pelo próprio antes do jogo era abdicar duma estrutura rígida, para reagir muito rápido e defender muito à frente. Daí a linha de três defesas – João cancelo, Toti Gomes e António Silva – e Rúben Neves como médio mais defensivo.
Martínez sabia que a seleção iria jogar a maior parte do tempo no meio-campo do adversário e queria ver como a equipa iria controlar o contra-ataque do adversário e a capacidade de recuperar a bola em zonas avançadas do terreno.
Não resultou como o selecionador pretendia. Portugal foi muito lento, previsível e algo cerimonioso ofensivamente. Muito por culpa do Liechtenstein, que optou por uma tática à antiga e celebrizada por José Mourinho: colocou o autocarro à frente da baliza e criou uma muralha intransponível até ao minuto 47, apesar das tentativas de Rúben Neves (13″), Gonçalo Ramos (30″) e Ronaldo (45″+3 e 45″+4).
Os mesmos, outra dinâmica
Para uma seleção que não ganha há 34 jogos e somou a 22.ª derrota seguida, chegar ao intervalo sem sofrer golos era uma grande vitória. Mas o segundo tempo foi bem diferente e começou com uma bola no poste. Ronaldo aproveitou uma jogada ensaiada para tentar inaugurar o marcador, mas o remate foi devolvido pelo poste.
A frustração do capitão só durou um minuto. Benjamin Büchel nada pôde fazer para travar o remate de CR7, que assim fez o primeiro de Portugal, chegando aos dez golos neste apuramento – é o melhor marcador desta fase a par de Lukaku – e aos 128 pela seleção em 204 partidas, provando que aos 38 anos ainda é o melhor goleador da equipa.
A dinâmica da seleção fez a diferença no segundo tempo. Com os mesmos jogadores, a exibição foi outra. O golo da tranquilidade chegou por João Cancelo e com alguma ajuda extra do guardião adversário. O lateral do Barcelona foi talvez o melhor em campo, num jogo em que Bernardo Silva e Bruno Fernandes foram meros figurantes.
Antes mesmo do selecionador português começar a mexer alguns peões em campo, tendo em conta que domingo joga de novo (com a Islândia) para fechar a fase de apuramento para o próximo Campeonato da Europa, Salanovic isolou-se, mas não conseguiu bater José Sá. Foi a melhor ocasião do Liechtenstein e permitiu ver em ação o estreante guardião português.
Já com Ricardo Horta, Bruma e Vitinha e sem Bernardo Silva, Ronaldo e Bruno Fernandes em campo, Portugal teve dois golos anulados. Um a João Félix e outro a Gonçalo Ramos. Depois ainda houve tempo para uma terceira estreia.
O lateral portista João Mário entrou para o lugar de Cancelo, tornando-se o 636.º internacional da história. E assim, num só jogo, o técnico fez mais estreias do que nos oito encontros anteriores, em que só lançou João Neves e Gonçalo Inácio.
Para a história fica o triunfo mais magro de sempre de Portugal sobre o Liechtenstein, que continua a ter esse empate (2-2) de 2004 frente à seleção lusa como memória mais bonita.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Sebastien Bozon / AFP