É um número excessivo, “que nos magoou a todos”. Foi desta forma que o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, reconheceu haver espaço para polémica quanto ao investimento no palco-altar que está projetado para a Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar na capital entre 1 e 6 de agosto.
Os 4,2 milhões de euros anunciados para pagar a estrutura na qual o Papa Francisco irá celebrar a missa final do evento geraram protestos desde o momento em que foi conhecido o preço, com críticas da oposição lisboeta e do coordenador do projeto para a JMJ, José Sá Fernandes, que garantiu existirem soluções “mais baratas”.
E a polémica ganhou força com o Presidente da República e o Patriarcado a contradizerem-se. Primeiro, veio Marcelo frisar não ter tido conhecimento oficial do valor da obra; depois, o Patriarcado de Lisboa garantiu que o PR sabia dos 4,2 milhões. E por fim veio o bispo auxiliar de Lisboa desmentir o Patriarcado.
Deverá haver uma reunião entre as várias entidades envolvidas para perceber onde se pode cortar custos. A Fundação JMJ já se dispôs a poupar nos seus pedidos.
Em conferência de imprensa, Américo Aguiar salientou ter existido uma conversa “com o Presidente da República, com o primeiro-ministro, com os autarcas e com a ministra que acompanha o processo [Ana Catarina Mendes]”. E nela, afirmou, “ficou combinado ver-se onde se podia debater e cortar alguns custos”. Ou seja, a Igreja compromete-se a tentar reduzir os custos da infraestrutura.
Para o Presidente da República, o assunto “está esclarecido”. “D. Américo Aguiar acabou de dizer, desmentindo a nota do Patriarcado, que o Presidente da República não sabia o valor do altar. A Igreja, e bem, desmentiu aquilo que tinha vindo numa nota e que tinha provocado a minha estupefação”, declarou.
Numa longa conferência, D. Américo Aguiar, que é também presidente da Fundação JMJ, explicou que, “nos próximos dias”, a organização vai reunir-se com as equipas responsáveis pelo projeto para aferir “qual a razão desse valor”. “Parcelas que puderem ser eliminadas, pediremos para o serem”, frisou.
Durante a tarde, também Marcelo já tinha pedido para que se respeite o período atual e a “visão simples, pobre, não triunfalista” de Francisco. “Ele próprio é exemplo de uma forma de ser e pensar que, mesmo que não estivéssemos em guerra e mesmo que não estivéssemos na situação social em que nos encontramos, convida à simplicidade”, defendeu o Presidente.
Recorde-se que a estrutura em causa terá de ter capacidade para aguentar em cima do palco 2 mil pessoas – mil bispos, 300 concelebrantes, 200 membros do coro, 30 tradutores de língua gestual de vários idiomas, 90 membros da orquestra, além de convidados, staff e equipa técnica.
“Querem ou não o Papa em Lisboa?”
Sob ataque da oposição socialista durante todo o dia, Carlos Moedas falou após a conferência de imprensa de D. Américo Aguiar, recusando razões para a polémica e lembrando que existe um orçamento fechado e aprovado, com o qual se comprometeu, e do qual não irá desviar-se.
“Quando cheguei [à Câmara de Lisboa], a minha preocupação foi limitar os custos. Fui eu que disse que a CML não ia gastar mais do que 35 milhões de euros”, lembrou o autarca assumindo “com muito gosto” esse investimento. “A questão aqui é se nós queremos ou não ser, naqueles dias, o centro do mundo como vamos ser, com jovens de todo o mundo que vão estar nesta cidade.
E o retorno, acreditem, vai ser multiplicado. Tudo isto que vamos investir, terá retorno a multiplicar por 10 ou por 20. Eu não tenho dúvida de que vamos ter um retorno enorme”, declarou. E resumiu: “Querem ou não ter o Papa em Lisboa?”
Sobre o contrato, explicou que, sem nada feito a seis meses da Jornada, o ajuste direto seria a única solução possível. “A única maneira que temos de ter tudo pronto naquele dia é o ajuste direto.” Mas ainda assim, garante ter ponderado entre várias propostas: “Essa decisão foi política; não fomos por um ajuste direto puro”, disse Moedas, revelando que havia preços da ordem dos 8 milhões de euros.
A oposição na câmara acusa a liderança PSD/CDS-PP de falta de transparência nos investimentos para a JMJ e pede esclarecimentos. O Chega quer ouvir o presidente da Câmara de Lisboa no Parlamento.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal