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Portugueses insatisfeitos com a democracia e mais ainda com os políticos

Cinquenta anos depois do 25 de Abril, os portugueses fazem um retrato sombrio do país. Há uma maioria insatisfeita com o estado da democracia (51%) e em particular com os políticos, que não se preocupam com os interesses das pessoas (67%).

De acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, a vida piorou nos últimos anos (39%) e só um terço acredita que poderá melhorar no curto prazo (33%).

Habitação (69%) e Justiça (64%) são as áreas que geram maior descontentamento. Apesar de, na população em geral, a insatisfação com o estado atual da democracia ser maioritária (51%), há resultados diferentes consoante quem responde.

Na divisão por sexo, uma vez que eles são mais otimistas (53%) e elas mais pessimistas (54%). Na faixa etária: quanto mais velhos, mais satisfeitos (56% nos 65 ou mais anos), quanto mais novos, mais insatisfeitos (62% nos 18/34 anos).

No rendimento: quanto maior, melhor a avaliação (55% para os do topo), quanto menor, pior a avaliação (56% para os do fundo). E até no voto: os eleitores dos dois maiores partidos fazem uma avaliação positiva da democracia (64% entre os socialistas), mas os que votam nos mais pequenos fazem uma avaliação negativa (67% entre o Chega).

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Votar é importante

Onde se deteta uma opinião mais vincada (e negativa) é na avaliação que os portugueses fazem dos políticos e da sua capacidade de conduzir o país. Quando confrontados com a afirmação de que os eleitos se preocupam com o interesse das pessoas, dois terços discordam (67%).

Há também uma maioria significativa que não acredita na capacidade de o Estado atuar em nome de todos (58%). Isto não é sinónimo, no entanto, de descrença total nas soluções do sistema político: 85% acreditam no poder do voto e 67% encontram pelo menos um partido que representa os seus pontos de vista e valores.

Quando se pergunta qual seria a forma ideal de melhorar o funcionamento da democracia (a partir de uma lista de cinco possibilidades), destacam-se as qualidades pessoais, seja de quem quer ser eleito, seja de quem elege: 33% respondem que precisamos de melhores líderes políticos (41% no caso dos eleitores da Iniciativa Liberal); 26% acham que o mais importante é ter cidadãos mais informados e participativos (51% no caso dos eleitores do Livre). Só depois aparecem a prosperidade económica (15%), a igual- dade (13%) e a reforma do sistema eleitoral (11%).

Condições de vida

A insatisfação com os políticos resultará, pelo menos em parte, da avaliação negativa que os portugueses fazem das suas condições de vida. São mais os que dizem que a sua vida “piorou” nos últimos anos (39%) do que aqueles que sentiram uma melhoria (17%), embora haja 43% para os quais ficou tudo igual.

A esperança no futuro próximo também não é elevada: 33% acham que vai melhorar (quanto mais jovens mais otimistas), 30% que continuará tudo na mesma, e 31% que vai piorar (quanto menor o rendimento, maior o pessimismo dos inquiridos).

Com tanto ceticismo, não surpreende que, postos perante sete direitos sociais inscritos na Constituição da República, a avaliação volte a ser negativa. A Habitação e a Justiça são as duas áreas que geram maior insatisfação, com um saldo negativo (diferença entre respostas positivas e negativas) de 40 e 30 pontos, respetivamente.

No caso da Habitação, destaca-se o descontentamento das mulheres, dos que têm 50 a 64 anos e, curiosamente, dos que têm melhores rendimentos. Na Justiça, a frustração é particularmente elevada nos homens, nos que têm 65 ou mais anos e nos que fazem parte da classe média baixa.

Num segundo patamar de insatisfação com os Direitos Sociais constitucionais, que são afinal áreas fundamentais para o funcionamento do país, aparecem a Educação (com destaque para o descontentamento de quem tem 35 a 49 anos), o trabalho (que preocupa sobretudo quem tem menores rendimentos) e a Segurança Social (que deixa particularmente frustrada a classe média baixa).

Um pouco melhor é a avaliação à Saúde (saldo negativo de cinco pontos), sendo que, entre os homens, os mais velhos e a classe média até há mais gente satisfeita do que insatisfeita. Última nota para o Ambiente, com saldo negativo de um ponto, mas avaliado de forma bastante positiva pelos mais jovens, contrariando a ideia de que são os mais inconformados nesta matéria.

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Confiança, só nos militares e polícias. Tribunais, Parlamento e Governo sem crédito

Os portugueses só confiam em duas instituições do regime democrático: as Forças Armadas e as forças policiais. A Presidência da República fica em 3.º lugar, mas já com saldo negativo. No fundo da tabela estão os tribunais e juízes, o Governo e a Assembleia da República, ou seja, os que fazem as leis e os que deveriam castigar quem não as cumpre.

A Presidência da República é uma espécie de exceção à regra da desconfiança que paira sobre as instituições em que há políticos eleitos.

Mas o retrato resulta, ainda assim, num saldo negativo de oito pontos (mais respostas negativas do que positivas) para o atual inquilino do Palácio de Belém: quando se analisam os diferentes segmentos da amostra, Marcelo Rebelo de Sousa só consegue saldo positivo entre os mais velhos e entre os eleitores da AD, do PS e da IL.

Bem mais sombrio é o panorama relativamente ao Governo (saldo negativo de 30 pontos) e à Assembleia da República (32 pontos). No primeiro caso, ainda se encontra uma exceção entre os eleitores da Aliança Democrática (55% confiam no Governo), mas no Parlamento nem isso.

Em linha com o descontentamento genérico relativamente à área da Justiça (64% dos inquiridos estão insatisfeitos, 34% satisfeitos), quando se pergunta pela confiança relativamente ao Ministério Público e aos tribunais e juízes, os resultados são maus, em particular relativamente a estes últimos, que acusam um saldo negativo de 29 pontos (quase dois terços respondem que é pequena ou muito pequena, com destaque para os mais pobres).

No caso do Ministério Público, o saldo é de 18 pontos negativos, contando-se entre os mais desconfiados os portugueses mais velhos.

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

Sondagem de opinião realizada pela Aximage para JN/DN/TSF. Universo: indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região.

A amostra teve 811 entrevistas efetivas: 711 entrevistas online e 100 entrevistas telefónicas; 391 homens e 420 mulheres; 183 entre os 18 e os 34 anos, 218 entre os 35 e os 49 anos, 228 entre os 50 e os 64 anos e 182 para os 65 e mais anos; Norte 281, Centro 173, Sul e Ilhas 133, A. M. Lisboa 224. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros.

O trabalho de campo decorreu entre 29 de março e 3 de abril de 2024. Taxa de resposta: 70,42%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,4%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Rui Manuel Fonseca / Arquivo Global Imagens