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Português Neemias é campeão da NBA e Celtics conquistam o 18.º título

O basquetebolista português Neemias Queta só precisou de três temporadas, e uma nos Boston Celtics, para conquistar o mais desejado título do basquetebol ao nível de clubes, o campeonato norte-americano, a NBA.

“É muito importante para mim poder carregar o nome e a bandeira de Portugal. Estar aqui neste palco e ser um dos pioneiros da modalidade no nosso país… É algo que não encaro levemente. Trata-se de uma experiência muito enriquecedora para mim”, disse o basquetebolista português, em declarações à estação televisiva ESPN.

Os Boston Celtics conquistaram na madrugada desta terça-feira um histórico 18.º título de campeões da Liga norte-americana de basquetebol (NBA), ao vencerem em casa os Dallas Mavericks por 106-88, num quinto jogo da final dos play-offs que dominaram por completo.

Em resposta à pesada derrota sofrida no jogo anterior, a equipa de Boston foi ‘avassaladora’, não desperdiçando o segundo ‘match point’, para, exatamente 16 anos depois, voltar a arrebatar o cetro e a deixar para trás na liderança do ranking os rivais Los Angeles Lakers [17 títulos, o último em 2020].

O jogo do título acabou por não ter história, já que os Celtics nunca estiveram a perder, acabaram o primeiro período já 10 pontos à maior (28-18) e a primeira parte com mais 21 (67-46), margem que pouco baixou ao longo de toda a segunda parte.

O internacional luso, que se estreou na competição em 2021/22, na primeira de duas épocas pelos Sacramento Kings, logrou em tão pouco tempo o que alguns, enormes figuras da história da modalidade, perseguiram e não conseguiram durante ‘uma vida’.

O jogo do título acabou por não ter história, já que os Celtics nunca estiveram a perder, acabaram o primeiro período já 10 pontos à maior (28-18) e a primeira parte com mais 21 (67-46), margem que pouco baixou ao longo de toda a segunda parte.

O internacional luso, que se estreou na competição em 2021/22, na primeira de duas épocas pelos Sacramento Kings, logrou em tão pouco tempo o que alguns, enormes figuras da história da modalidade, perseguiram e não conseguiram durante ‘uma vida’.

Independentemente do que for o seu futuro na competição, Neemias Queta já fez história e, aos ‘netos’, poderá sempre dizer que foi campeão da NBA, apenas três anos depois de cumprir o sonho de chegar à principal competição mundial.

O ‘gigante’ luso de 2,13 metros tem já o prémio coletivo mais cobiçado, mas a sua terceira época na prova, depois de duas em Sacramento, não foi, de todo, a de afirmação, apesar de ter batido quase todos os seus recordes individuais.

Numa equipa recheada de grandes jogadores, ou não fosse a campeã de 2023/24, Neemias Queta teve pouco ‘espaço’ para se mostrar e raramente entrou na rotação de Joe Mazzulla, sendo que a sua utilização nos play-offs foi praticamente nula.

O português esteve em campo apenas em três dos 19 jogos dos Celtics, incluindo um na final, em que entrou a 5.25 minutos do final, com o conjunto de Boston a perder por 45 pontos com os Mavericks, no que foi a única derrota na série (84-122).

No pouco tempo que teve nas ‘finals’, somou dois pontos, convertendo o único ‘tiro’ que tentou, e logrou ainda uma desarme de lançamento, ‘vencendo’ por sete enquanto esteve em campo.

Antes, atuou nos dois primeiros jogos das meias-finais de conferência, com os Cleveland Cavaliers, entrando, na vitória por 120-95 e no desaire por 94-118, com os jogos resolvidos. Somou dois pontos e três ressaltos, em oito minutos.

Ainda assim, e depois de assinar um contrato standard com os Celtics, em 08 de abril, integrou o ’15’ do conjunto de Boston escolhido para os play-offs e esteve sempre no banco.

Com a utilização em três jogos dos play-offs, os primeiros de sempre, Neemias Queta totalizou 31 em 2023/24, pois tinha estado em 28 da fase regular, quase todos (24) saldados por triunfos do conjunto do Massachussets.

Nunca época em que também foi utilizado, com maior destaque, na equipa secundária, os Maine Celtics, finalistas vencidos da G-League, face a um contrato de duas vias, Neemias teve os seus jogos mais conseguidos no final da época regular.

Com Joe Mazzulla a poupar as ‘estrelas’ para os play-offs, o português teve quase 20 minutos em dois jogos e aproveitou-os bem, conseguindo 16 pontos (oito em 10 nos ‘tiros’ de campo) e seis ressaltos face aos Charlotte Hornets e 19 pontos (oito em 11), nove ressaltos e seis desarmes frente aos Washington Wizards.

Antes, Neemias Queta cumpriu mais de 10 minutos de utilização em mais 16 encontros, para um total de 18, com um máximo de 22.55 no reduto dos Los Angeles Clippers, em 23 de dezembro de 2023, num triunfo por 145-108 para o qual contribuiu com 14 pontos, 12 ressaltos e três assistências.

O português também superou os 20 minutos (20.46) quatro dias antes, no reduto dos Golden State Warriors, num desaire por 132-126, após prolongamento, conseguindo outro ‘duplo duplo’, com 10 pontos e 10 ressaltos.

Mas, na maioria dos jogos (54), Neemias não foi sequer utilizado, por estar nos Maine Celtics, por lesão ou, simplesmente, por opção de Mazzulla, que, ao longo da época, teve sempre, porém, palavras elogiosas para com o português.

O maior problema do internacional luso, que na época regular teve médias de 5,5 pontos e 4,4 ressaltos, em 11,9 minutos, foi ter à sua frente o letão Kristaps Porzingis e Al Horford, ambos bem mais versáteis e atiradores, o experiente Luke Kornet e, na segunda metade da época, Xavier Tillman.

Com apenas 24 anos, a tendência é que Neemias Queta possa vir a ter mais minutos em 2024/25, isto se permanecer na NBA, nos Boston Celtics, que têm a opção de renovar com o português, ou em outra equipa.

Título de Neemias vai ser inspiração para cada vez mais jovens basquetebolistas

O basquetebolista português Neemias Queta reforçou o seu papel de “inspiradora referência” para os mais jovens com o anel de campeão da Liga norte-americana (NBA) conquistado ao serviço dos Boston Celtics, disse à Lusa o presidente da federação.

“Começar por felicitar o Neemias, por ter concretizado primeiro um sonho, que era chegar à NBA, e depois conseguir aquilo que só um número muito restrito [de jogadores] à escala planetária consegue realizar, obtendo o anel mais cobiçado pelos milhares de jogadores que já se cruzaram com a NBA”, afirmou à Lusa Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB).

O dirigente felicitou o poste internacional português “por aquilo que já deu à promoção” do basquetebol nacional, mas também pela “resiliência, vontade e enorme talento” que evidenciou no seu percurso de três anos na NBA, a par das qualidades humanas.

“Eu não queria deixar passar em claro como é bom ver que ele continua a ser uma pessoa humilde e responsável. Isso reforça-o como aquele exemplo que vai servir ainda mais para alimentar o sonho de milhares de jovens basquetebolistas e outros que ainda não começaram no basquete, mas que vão ser influenciados por ele”, destacou o dirigente.

Neemias Queta é “um exemplo de atleta” e também “uma inspiradora referência” que prova que “tudo é possível se acreditarmos no nosso valor e se estivermos determinados em atingir os nossos objetivos”, reforçou o presidente da federação sobre a “força de vontade indómita” e a “vontade férrea de triunfar” do poste luso.

“Basta ver o que se passa na terra dele, no Vale da Amoreira [na Moita, distrito de Setúbal], em que o campo 3×3 em sua homenagem e outros campos estão sempre completamente cheios de jovens. Antes jogavam futebol, agora estão lá a jogar basquetebol, porque querem seguir aquele que é um grande herói”, prosseguiu Manuel Fernandes.

Mesmo tendo somado poucos minutos em apenas três jogos nos play-offs, um deles na final da edição 2023/24, em que os Celtics derrotaram os Dallas Mavericks por 4-1, o dirigente lembrou que Neemias “tem ganhado as apostas que fez” nos Celtics, que passaram a ter o maior número de títulos (18) na competição.

Assinou pela formação de Massachusetts com um contrato para jogar em duas competições (NBA e G-League), “mais baixo em termos de valores e que lhe dava menos segurança”, e depois conseguiu o contrato ‘standard’, com o qual pôde jogar nos play-offs, ao cumprir 28 jogos na fase regular da NBA, explicou.

“Ele deu um contributo, mais modesto, mas não esteve só lá para apoiar a equipa, deu também um contributo para que os Celtics chegassem até aqui”, sublinhou o dirigente, acrescentando: “Orgulhamo-nos por este feito que não nos passava pela cabeça há quatro ou cinco anos”.

O futuro de Neemias Queta na NBA está assegurado, garantiu o presidente da FPB, quer seja em Boston quer seja noutra equipa da competição “que precise de um jogador com as características que ele tem”.

O dirigente está convicto de que “a maior referência que o basquetebol português já alguma vez teve” vai deixar de ser inédito, apontando como exemplo Rúben Prey, internacional português de 19 anos do Joventut Badalona, de Espanha, que especialistas indicam ter “potencial enorme” para chegar à NBA.

E, realçou ainda Manuel Fernandes, também haverá mais jogadoras portuguesas na WNBA, a Liga feminina norte-americana de basquetebol, seguindo as pisadas das “emblemáticas” Mery Andrade e Ticha Penicheiro.

Campeão Neemias Queta tornou sonho em realidade e vai ter espaço relevante na NBA
O título da NBA conquistado por Neemias Queta é um sonho tornado realidade para o basquetebolista português, disse à Lusa o selecionador nacional, mostrando-se convicto de que o jogador vai ter um espaço relevante na Liga norte-americana.

“Será importante, fundamentalmente, para ele e para o futuro dele, mas será importante também para o basquetebol português no seu todo. É um sonho que se torna realidade, em primeiro lugar para o Neemias, mas muito importante também para o basquetebol português, que eu espero que gere uma onda de entusiasmo totalmente justificada”, afirmou Mário Gomes, sobre a conquista do poste internacional português.

Apesar de ter somado poucos minutos em apenas três jogos nos play-offs, um deles na final da edição 2023/24, em que os Celtics derrotaram os Dallas Mavericks por 4-1, o selecionador ressalvou à Lusa que o seu papel era o de jogador de rotação para quando a equipa precisasse.

Ainda assim, Neemias teve “um papel importante”, porque, “às vezes, o contributo daqueles que jogam menos é tão importante como o contributo dos que jogam mais”, sendo certo, lembrou, que as suas prestações na fase regular garantiram a assinatura de um contrato ‘standard’, permitindo-lhe ser opção na fase a eliminar da competição.

“Certamente que eles estão satisfeitos com o trabalho do Neemias e as coisas vão acontecer naturalmente”, referiu Mário Gomes, convicto de que os Boston Celtics, “um dos dois principais clubes da NBA, só equiparável” aos Los Angeles Lakers, contam com o poste português para o futuro.

O selecionador disse acreditar que o internacional português “vai conseguir ter um papel mais relevante do que tem neste momento na NBA”, sublinhando: “Ele vai saber dar tempo ao tempo, vai saber aproveitar as oportunidades que tiver e vai ser um jogador, estou convencido, com o seu espaço e com um espaço relevante na NBA”.

Mário Gomes recordou o momento em que conheceu o então adolescente Neemias Queta e da certeza que teve de que o jogador português “iria chegar à NBA” a partir do momento em que traçou essa meta.

“Além das características físicas e morfológicas que tem, é alguém com a mentalidade e o caráter certos para atingir os objetivos a que se propõe”, sustentou, acrescentando que soube “dar os passos certos nas alturas apropriadas”, incluindo a passagem de três anos pela Universidade de Utah State, que não encurtou apesar de muito pressionado para isso.

O selecionador português vincou que, “pelo jogador que é, e acima de tudo pela pessoa que é”, Neemias Queta “merece ter toda a sorte do mundo”.

“Mas só no dicionário é que a sorte vem antes do trabalho. Ele trabalhou muito para chegar onde está agora e portanto, para mim, a partir do momento em que as condições se começaram a conjugar, não é uma surpresa. Há muito mérito dele”, ressalvou.

O título de campeão da NBA da Neemias, argumentou ainda o selecionador, terá um impacto na fidelização de mais jovens jogadores à modalidade, “porque acreditarão que é possível cumprir sonhos”.

“Porque até há pouco tempo era uma miragem ter um jogador na NBA, e era uma miragem ainda maior ter um jogador integrado numa equipa campeã. Isso são sonhos que se concretizam e que alimentam outros sonhos”, concluiu Mário Gomes.

Vida de Nemias Queta dava “um filme de Hollywood”, segundo o treinador Henrique Pina

A vida do basquetebolista português Neemias Queta dava “um filme de Hollywood”, disse Henrique Pina, antigo treinador de sub-16 do novo campeão da NBA, ponto mais alto de um percurso que acaba por ser “uma surpresa”.

“A vida dele daria um filme de inspiração de Hollywood. Porque desde o dia em que ele chegou, com algumas debilidades físicas, passados 12 anos [ver] o homem que está, com a envergadura e o complemento físico que ele tem, só com muito trabalho que foi feito e muita força psicológica”, disse à agência Lusa o atual treinador do Estoril Basket.

De acordo com o técnico, o sucesso do internacional português ao serviço dos Boston Celtics, apesar de ser “um grande orgulho a nível nacional”, também “não deixa de ser uma surpresa”.

Quando o treinou, nos escalões jovens do Barreirense, Henrique Pina augurava-lhe um percurso “forte na Liga portuguesa” e que pudesse “chegar à seleção nacional”, mas “nunca se pensaria” que um dia iria “chegar à NBA e logo à equipa campeã”.

Até porque, explicou o técnico, só a enorme força psicológica de um jogador que, naquele tempo, até era “franzino”, fez com que nunca abandonasse a modalidade.

“O percurso dele e a vida pessoal fez com que fosse muito forte psicologicamente, que nunca desistisse. O Neemias morava a cerca de 10 ou 12 quilómetros do pavilhão e muitas das vezes vinha a pé treinar. Com aquela idade, tinha tudo para desistir, mas pela parte psicológica conseguiu chegar onde está com todo o mérito”, recordou Henrique Pina.

Desse tempo, em que o atual campeão de basquetebol da NBA se deslocava a pé desde o Vale da Amoreira, um bairro social na Moita, até ao pavilhão do clube da margem sul do Tejo, o técnico recorda, ainda, um jovem com “dificuldades” físicas.

“Ele era muito franzino, tinha ali algumas carências de saúde, alguns problemas de locomoção. Como era muito grande e, depois, meio franzino, muitas vezes passava o tempo no chão porque caía”, confidenciou o técnico à agência Lusa.

Por isso, apesar do “trabalho físico que depois foi feito” com o jovem internacional português, de 24 anos, e que “surtiu” efeito, o percurso de Neemias acaba por ser surpreendente para os seus antigos treinadores.

“Para nós todos é uma surpresa, ninguém pode dizer que não. Ver o Neemias, enquanto jovem, enquanto atleta, tornar-se campeão da NBA, é um grande orgulho a nível nacional termos um atleta nesse patamar, mas não deixa de ser uma surpresa. Uma boa surpresa”, concluiu Henrique Pina.

Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal