O ar frio e seco do Ártico está a descer para latitudes mais baixas e vai chegar a Portugal esta semana. “Há uma tendência para que a ‘corrente de jacto’, que são ventos muito fortes que ocorrem a cerca de 11 quilómetros de altitude, chegue à Península Ibérica”.
“Quando essa ‘corrente de jacto’ vem para sul traz ar polar até latitudes mais baixas. Éo que está a acontecer”, explica Filipe Duarte Santos, geofísico e antigo presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O resultado já está à vista um pouco por toda a Europa. Na Noruega, a temperatura desceu, no sábado, 6, abaixo dos -30ºC mas a sensação térmica era de -37ºC. Na Suécia foi registado um recorde de baixa temperatura, com -43,6ºC, na quarta-feira, 3.
Em Portugal, a semana vai começar com temperaturas muito baixas mas o dia mais frio será quinta-feira, 11, com vários distritos do Continente a descerem a temperaturas negativas. O valor mais baixo, segundo as previsões do IPMA, ocorrerá na Torre, na Serra da Estrela, com -9ºC.
“Estas temperaturas baixas resultam de uma invasão de ar frio e seco que vem do Ártico, das zonas de latitudes elevadas do hemisfério norte. Devido a essa ‘corrente de jacto’ estar muito para baixo, essas temperaturas chegam até à Península Ibérica e até ao Norte de África”, avisa Filipe Duarte Santos.
O académico, que preside atualmente ao Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), avança, ainda, que este tipo de fenómenos extremos, de muito frio como o que se vai fazer sentir esta semana, “serão cada vez mais frequentes”.
“Com as alterações climáticas há uma modificação na circulação geral da atmosfera que tende a fazer com que a ‘corrente de jacto’ tenha estes meandros mais pronunciados. Portanto, isto é uma coisa que já ocorreu várias vezes. Temos temperaturas muito baixas, a latitudes mais baixas, e depois temos, por outro lado, temperaturas anormalmente elevadas que vão até ao Ártico, ao Pólo Norte, quando a ‘corrente de jacto’ está mais para cima. Trata-se de uma desregulação do clima”.
O professor acrescenta: “São ventos que vêm dessas regiões, chegam a latitudes mais baixas e trazem ar frio e seco”. O vento pode baixar, ainda mais, a sensação térmica, o que leva a que se sinta mais frio.
Para quinta-feira, dia 11, o IPMA não prevê chuva. “O que temos é um anticiclone na Europa, que é o oposto de uma depressão. Temos céu limpo, o chamado bom tempo, com essas condições não há precipitação. Quanto mais frio há menos possibilidade de precipitação temos”.
“Porque quando a temperatura é mais alta o ar tem mais humidade. Tem mais vapor de água do mar. Em Portugal, se a temperatura é muito baixa há tendência para não chover. Mas há outros locais, como no Ártico, em que mesmo com temperaturas baixas pode estar a chover”, avança Filipe Duarte Santos.
A temperatura será sobretudo baixa “na quinta-feira, pelas 15.00, em Trás-os-Montes, nas regiões do Interior e zonas montanhosas. Mas em Espanha estará ainda mais frio do que em Portugal”, avisa o geofísico. O frio não é, apesar de tudo, uma situação fora do comum.
“As estações do ano continuam a existir, há é mais tendência para fenómenos extremos. Mas com tendência para as temperaturas médias serem mais altas. E quando falamos em temperaturas médias, estamos a referir-nos à média anual. Ou seja, há extremos de frio e de calor”, adenda Filipe Duarte Santos. Por isso, o estudioso do Clima avisa que apesar do aquecimento global “há vagas de frio e que até podem ser mais intensas”.
Na Europa mantém-se o mau tempo. “O anticiclone está centrado em Inglaterra. Depois, há uma depressão cavada em Itália. Onde temos, de facto, mais frio é em Inglaterra, na Escandinávia, no Norte da Alemanha e também na Península ibérica”, conclui Filipe Duarte Santos.
Recomendações da DGS contra o frio
A Direção Geral de Saúde dá algumas recomendações para o tempo mais frio. Deve, por exemplo, evitar-se a exposição prolongada ao frio e manter o corpo quente, usando várias camadas de roupa. Deve, também, proteger-se as extremidades do corpo, usando luvas, gorros e cachecóis.
As pessoas devem manter-se hidratadas, sobretudo tomando bebidas quentes ou sopa e evitando o álcool, que dá uma falsa sensação de calor. A DGS recomenda que se mantenham as casas quentes, mas se forem utilizadas braseiras ou lareiras é preciso garantir uma adequada ventilação. Ao deitar-se deve desligar todos os aparelhos.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal