A “elevada carga fiscal sobre a poupança”, os “salários baixos” e as “baixas competências de literacia financeira” são, de acordo com a Deco (Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor), alguns dos fatores de peso que contribuem para que Portugal se mantenha como o país da zona euro com o nível de poupança das famílias mais baixo, de acordo com os mais recentes números do Eurostat.
No terceiro trimestre do ano passado, a taxa de poupança dos agregados familiares caiu para 7,07%, uma tendência explicada pela subida dos juros e do forte agravamento dos preços. No trimestre anterior, a taxa tinha sido de 7,67%.
A percentagem nacional encontra-se substancialmente abaixo da média da zona euro, que se fixou nos 14% no terceiro trimestre (14,3% no segundo trimestre).
Em declarações ao JE, a Deco defende a necessidade da redução do imposto sobre o rendimento dos produtos financeiros de forma a estimular a poupança.
“A criação de produtos de poupança, de curto prazo, que estimulem a constituição de fundo de emergência, incentivando as famílias a constituírem uma almofada financeira para enfrentar dificuldades imprevistas.
Aumentar os benefícios fiscais dos planos de poupança-reforma (PPR), um dos produtos mais apreciados pelos portugueses, pode ser também um bom caminho a seguir”, explica, alertando que, “com o decorrer dos anos, e sucessivos governos, o benefício fiscal foi sendo progressivamente reduzido”.
A Deco alerta ainda que “os orçamentos das famílias, em especial das de menores rendimentos, continuarão a estar sob a pressão da subida dos preços e das taxas de juro” este ano, pelo que considera “importante que tenham alguma capacidade de poupar e que privilegiem nos seus orçamentos o objetivo da poupança, nomeadamente para acautelarem despesas inesperadas”.
Contudo, de acordo com a Deco, “é nos momentos de crise”, como o período de intervenção da Troika entre 2010 e 2014, que os agregados em Portugal “demonstram que as famílias têm capacidade de poupança, ainda que pontuais”
Durante a vigência da intervenção da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional em Portugal, “a taxa de poupança atingiu 11,6%, e no período da pandemia da covid-19, subiu até aos 13,8 por cento”, explica a Deco, acrescentando que, “desde então, tem vindo a descer”.
Cruzando esta questão com a amortização dos créditos à habitação através de poupanças, a Deco remete para dados do Banco de Portugal. De acordo com o banco central, “atendendo à subida dos encargos com o serviço de dívida e ao diferencial significativo face às taxas de remuneração dos depósitos, muitas famílias com poupança acumulada reduziram, parcial ou totalmente, os seus créditos à habitação”, tendo ainda canalizado “parte das suas poupanças para amortizações antecipadas, parciais e totais, dos empréstimos à habitação”.
Quanto ao investimento dos agregados familiares, o mesmo boletim dá conta de uma queda da taxa bruta de 5,87% no segundo trimestre do ano passado para 5,72% no final de setembro de 2023.
Recordando que Portugal “tem uma das mais elevadas cargas fiscais sobre a poupança” e “salários baixos que, muitas vezes, não nos permitem poupar e de a maioria das famílias ter baixas competências de literacia financeira. Enfim, tudo ingredientes que acabam por contribuir para a baixa taxa de poupança das famílias.
Fonte e crédito da imagem: O Jornal Económico / Portugal