Não existe razão para ter receio de voar num avião da TAP, garante José Correia Guedes, antigo comandante da transportadora aérea nacional e comentador da CNN Portugal para assuntos de aviação.
Correia Guedes explicou ao DN que o caso das peças falsificadas “é antigo” e foi denunciado pela própria TAP em 2023:
“Foi a TAP a primeira a detetar erros e peças falsificadas. A TAP descobriu e denunciou às autoridades. Depois descobriu-se que havia dezenas de companhias aéreas afetadas. Chegou-se a uma companhia inglesa, que era até então uma companhia credível, a AOG Technics, eram eles que andavam a fornecer as peças falsificadas. Foi lançada uma investigação e as conclusões chegaram hoje.”
Em causa estão “componentes de motores”. “Todas as peças que vão para os motores são certificadas antes de entrar em atividade pelas autoridades competentes, que nos países da União Europeia é a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA)”.
“Há uma certificação para cada componente, num processo com regras extremamente rigorosas. Se essas regras não forem cumpridas, há o risco de as componentes cederem e provocarem problemas muito graves nos motores”, explanou o aviador, que esteve ligado à TAP entre 1971 e 2006, tendo começado como Comissário de Bordo antes de se tornar piloto.
Estas componentes podem afetar a segurança aérea “porque os motores podem rebentar”. “Na TAP não houve problemas, porque a TAP identificou o problema, denunciou-o e resguardou-se, mas isto afetou largas dezenas de motores de outra companhia. Isto acontece com os motores CFM56, da General Electric, os mais utilizados pelas companhias de aviação”, acrescentou Correia Guedes, que garante que “nenhum desses materiais entrou nos motores da TAP”.
Três pessoas foram esta quarta-feira detidas pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de terem participado num esquema de fornecimento à TAP e outras companhias aéreas de peças para aviões que não cumpririam os requisitos exigidos.
“Em causa estão suspeitas de fornecimento de peças e componentes aeronáuticas a companhias de transporte aéreo e às respetivas unidades de manutenção, acompanhadas de documentação de certificação que se suspeita ter sido forjada. Estes componentes, classificados como ‘Suspected Unapproved Parts’, não cumprirão com os requisitos exigidos pelos fabricantes originais”, adianta, em comunicado, a PJ.
Os detidos na operação “Voo Cego” estão indiciados dos crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, administração danosa, atentado à segurança de transporte por ar, branqueamento, corrupção passiva, corrupção com prejuízo do comércio internacional e fraude fiscal qualificada.
A TAP confirmou que foi alvo de buscas relacionadas com um caso judicial que teve origem numa denúncia da própria companhia aérea, por suspeitas de fornecimento de peças sem requisitos.
“Confirma-se que houve buscas esta quarta-feira relacionadas com um caso judicial em que a TAP é denunciante e sobre o qual não fazemos comentários”, disse fonte oficial da empresa liderada por Luís Rodrigues à Lusa.
A TAP assegura ainda que “está a colaborar com as autoridades”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: João Sena Goulão / Lusa