O primeiro-ministro, António Costa, deu esta quarta-feira instruções para que a PSP disponibilize segurança pessoal aos líderes dos partidos com assento parlamentar que o pretendam, na sequência do ataque ao presidente do PSD por um ativista climático, mas vários líderes partidários já vieram a público recusar esse reforço de segurança, embora repudiem o que aconteceu a Luís Montenegro.
O secretário-geral do PS condenou logo de manhã o protesto com tinta verde contra o presidente do PSD apelando a que não se repita e a que se respeite quem está a defender as suas posições.
“Condeno qualquer protesto em contexto de campanha democrática. Nós temos de saber respeitar, isto é um momento muito importante da nossa democracia. Os partidos estão a fazer legitimamente as suas campanhas, a apresentarem os seus projetos, e nós temos de respeitar, e depois o povo português expressa a sua intenção de voto nas urnas no dia 10 de março”, declarou Pedro Nuno Santos.
O secretário-geral do PS falava aos jornalistas após uma visita à Startup Leiria, reagindo ao facto de Luís Montenegro ter sido atingido com tinta verde por um jovem à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), onde se deslocou em campanha eleitoral.
Afirmando não ter conhecimento do protesto, Pedro Nuno Santos disse lamentá-lo profundamente e pediu que não se repita, salientando que a democracia foi a “maior conquista dos últimos 50 anos” e é preciso protegê-la.
“Nós devemos defender o nosso ponto de vista sem atropelar o direito aos outros de defender as suas posições, e neste caso da Aliança Democrática (AD). Todo o respeito a quem, na AD, defende as suas propostas, mas, naquilo que nos diferencia, com a nossa crítica e o nosso combate”, afirmou, ainda antes de António Costa ter disponibilizado segurança pessoal aos líderes partidários.
O presidente do Chega, André Ventura, considerou que o líder do PSD foi alvo de “um ato desprezível e de cobardia” ao ser atingido com tinta verde à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa.
“O que aconteceu em Lisboa, em que o candidato da AD foi atacado com tinta, é um ato desprezível e de cobardia”, escreveu Ventura na rede social X (antigo Twitter).
O presidente do Chega considerou que este ato “não ajuda causa nenhuma, não representa de todo os jovens portugueses e merece condenação inequívoca”.
André Ventura manifestou ainda solidariedade com Luís Montenegro.
Momentos depois, já em declarações aos jornalistas à chegada a um almoço/comício em Viana do Castelo, o presidente do Chega considerou “lamentável aquilo que aconteceu” e disse esperar que “não volte a acontecer nesta campanha”, pedindo “bom senso”.
André Ventura sustentou ser “um enorme constrangimento que cria a qualquer campanha e um ato cobarde”.
“Se nos atirarem com tinta ou outra coisa qualquer, não vamos debater mais temas ou menos temas por fazerem isso, e dá um sinal à sociedade e a todos de que isto são atos legítimos de fazer contra candidatos. E eu acho que temos que dar a mensagem contrária, não é legítimo fazer isto contra candidatos”, salientou.
O líder do Chega avisou também que “não há nenhum político que aceite debater sobre chantagem ou debaixo de violência”.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, repudiou o ataque “que nunca podia ter acontecido” ao líder do PSD e demarcou o partido destes ativistas, mas considerou que neste momento não se justifica a segurança pessoal disponibilizada pelo Governo.
Pouco depois de Luís Montenegro ter sido atingido com tinta verde por um ativista climático, a líder do BE recorreu às redes sociais para condenar este ataque à liberdade da campanha eleitoral e à democracia.
À chegada para a primeira ação de campanha do BE desta quarta-feira, uma arruada ao final da tarde por Moscavide, Lisboa, Mariana Mortágua repetiu estas críticas de viva voz e afirmou que este tipo de ato “é injustificável, é inaceitável, é intolerável e deve ser condenado”.
“O que aconteceu hoje a Luís Montenegro não deveria nunca ter acontecido numa campanha eleitoral, deve ser condenado, deve ser repudiado e espero que não volte a acontecer”, disse.
Questionada sobre se os elementos envolvidos eram do BE, a líder bloquista referiu que não e insistiu que “o debate democrático deve acontecer sem que os candidatos se sintam condicionados na sua campanha, na sua iniciativa na sua ação”.
Sobre segurança pessoal disponibilizada pelo primeiro-ministro, António Costa, aos líderes partidários após este ataque, Mariana Mortágua explicou que a avaliação de segurança que o partido faz neste momento “não justifica” esta medida.
“Não estamos a falar de ataques à segurança pessoal dos candidatos, são ataques à democracia e à forma como a democracia funciona. A avaliação que fazemos neste momento de segurança não justifica esse tipo de medidas, mas em momento nenhum tira gravidade ao que aconteceu e o que aconteceu foi um condicionamento do livre decorrer das eleições”, explicou.
Sobre se esta situação é desconfortável para o partido já que apoia muitos movimentos climáticos, a líder do BE deixou claro o apoio aos “jovens que estão contra as alterações climáticas, que querem construir uma grande maioria social pelo clima”.
“Este tipo de ações são contrárias a esse objetivo, são contrárias aos objetivos do movimento climático e, na verdade, vão contra essas iniciativas de jovens, vão contra a vontade de construir uma maioria que apoie as medidas para a transição climática e por isso devem ser repudiadas, devem ser condenadas”, defendeu.
Na opinião de Mortágua, atos como este “em vez de ajudarem qualquer causa” estão “a fazer exatamente o contrário”, com a agravante de condicionarem o debate democrático.
“Não é a primeira vez que acontece, o Bloco de Esquerda já teve uma parte da sua propaganda vandalizada. Não aceitamos que o debate democrático seja condicionado desta forma”, repudiou.
Também o presidente da Iniciativa Liberal (IL) agradeceu ao primeiro-ministro a disponibilização da segurança pessoal, após o ataque de um ativista climático a Luís Montenegro, mas não vai aceitar porque confia no país.
“Eu agradeço, mas não vou utilizar, confio no país, confio nas pessoas em Portugal e, portanto, continuarei com a mesma atividade sem nenhuma limitação, sem alterar nada, mas também sem nenhum tipo de segurança”, garantiu Rui Rocha no final de uma visita e reunião na Business Round Table, no Lagoas Park, em Oeiras, distrito de Lisboa.
Paralelamente, o secretário-geral do PCP condenou o arremesso de tinta ao líder do PSD, manifestando-lhe a sua solidariedade.
“Um ato de solidariedade para com Luís Montenegro nesta circunstância. Com a atitude que tiveram, estão a afastar as pessoas de uma causa nobre que é a defesa do ambiente. Acaba por afastar e não aproximar as pessoas da causa do ambiente. Não é compreensível uma atitude desse tipo e espero que isso não se volte a repetir. Estará na responsabilidade de quem as faz”, afirmou Paulo Raimundo.
Em declarações aos jornalistas durante uma arruada da CDU em Portimão, o líder comunista não esclareceu se receava ser vítima de um ato semelhante e reiterou as críticas a este tipo de protestos.
“As pessoas que eventualmente tomam essas atitudes a pensar que estão a aproximar o conjunto da população e da sociedade para a causa que defendem estão a ter um resultado contraproducente: não estão a aproximar das causas que defendem, estão a afastar as pessoas das causas que defendem. E as causas que defendem são muito mais nobres do que esta ou aquela atitude que, claro, temos de condenar, naturalmente”, sublinhou.
Já em relação à proposta apresentada pelo primeiro-ministro, António Costa, de disponibilizar segurança pessoal da PSP aos líderes partidários, Paulo Raimundo descartou a ideia.
“Não precisamos, não temos nenhuma necessidade dessas medidas. Andamos muito à vontade na rua, como têm assistido. Portanto, não há nenhuma dificuldade com isso. Penso que as expressões de discordância política que às vezes se manifestam devem se manter nesse sentido. Tenho muito gosto até nesse debate e nesse confronto politico, que não tem passado disso”, rematou.
O porta-voz do Livre lamentou igualmente o incidente que envolveu o presidente do PSD, e defendeu uma adequação entre os fins e os meios no combate pelas causas.
“Em primeiro lugar lamento e desejo que não volte a acontecer, que não aconteça a outros candidatos”, afirmou Rui Tavares, que falava em Vila Real.
O dirigente do Livre desejou que a “campanha seja feita sem incidentes, sem nenhum tipo de problemas físicos de nenhum candidato de qualquer partido que seja” e sem “qualquer violação do seu espaço físico ou pessoal”.
“Achamos que toda a gente que é ativista de uma causa, que ama a causa pela qual luta tem também a responsabilidade de pensar sempre sobre a adequação entre os fins e os meios, porque quanto mais ama essa causa mais quer que todos os seus concidadãos sejam atraídos para lutar também por ela”, afirmou à margem de uma ação de campanha na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Posteriormente, confirmou que o Livre não vai reforçar a segurança.
Já a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, lamentou o protesto com tinta verde que atingiu o presidente do PSD, mas mostrou-se solidária com a “frustração dos jovens que vão pagar a fatura climática”.
Em Carcavelos, Inês Sousa Real afastou qualquer ligação do Pessoas-Ambiente-Natureza (PAN) a organizações que protagonizaram o ato contra Luís Montenegro à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa, entretanto reivindicado pelo movimento Fim ao Fóssil.
“O PAN não tem qualquer ligação a estes movimentos da sociedade civil. Respeitamos a independência e autonomia destes movimentos”, disse a candidata do PAN, acrescentando: “Ao invés de atirar tinta e estarmos a discutir esta ação, seria importante estarmos a discutir as políticas ambientais de cada força política”.
Antes de uma visita à Nova SBE, em Carcavelos, Inês Sousa Real disse compreender a “frustração dos jovens, que vão pagar uma fatura ambiental muito pesada”, mas considerou que a “sua força deve ser manifestada quer na rua, através de manifestações, como existiam antes pandemia, quer no boletim de voto”.
Mais tarde, rejeitou também a oferta de segurança pessoal.
Luís Montenegro foi atingido com tinta verde por um jovem, que seria depois afastado por um agente da PSP.
Os ativistas do movimento Fim ao Fóssil reivindicaram a ação em comunicado, argumentando que “nenhum partido tem um plano adequado à realidade climática”.
O movimento estudantil reivindica o fim aos combustíveis fósseis até 2030 e exige que se pare de usar gás para produzir eletricidade até o próximo ano, utilizando antes 100% eletricidade renovável e gratuita.
Montenegro anunciou, entretanto, que vai formalizar ainda hoje uma queixa contra o ativista que o atingiu com tinta verde, à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), e agradeceu as manifestações de solidariedade.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Andre Kosters / EPA