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Partido de Bolsonaro prepara candidatura de Michelle em 2026

Se Bolsonaro não for candidato, nós temos a Michelle, no lançamento da candidatura do Bolsonaro à reeleição no Maracanãzinho, ela discursou e revelou-se”, disse Valdemar Costa Neto, o presidente do Partido Liberal (PL), a formação política que hospeda Jair Bolsonaro – e Michelle Bolsonaro.

A ex-primeira-dama foi, em entrevista do líder partidário à CNN Brasil, elevada oficialmente ao estatuto de “presidenciável”, a quase quatro anos do sufrágio de 2026. É para levar a sério?

A julgar pelos primeiros passos de Valdemar, o poderoso líder de um partido que conduziu mesmo quando estava na prisão, condenado no escândalo de corrupção de deputados do “Mensalão”, sim.

Michelle, 40 anos, assumirá, para já, a presidência do PL Mulher, cargo em que vai receber 40 mil reais brutos, cerca de 7200 euros, e dispor de uma sala na sede do partido, em Brasília.

Na eleição para as presidências das duas câmaras do Congresso Nacional, o primeiro grande evento da rentrée política brasileira, ela, chegada da Florida, onde ainda está Bolsonaro desde a véspera da posse de Lula da Silva, foi a estrela do lançamento da candidatura de Rogério Marinho, também do PL, à liderança do Senado.

E lá, no mesmo local depredado três semanas antes por apoiantes furiosos do marido durante a invasão às sedes dos três poderes, acompanhou a votação em que o seu aliado acabaria derrotado pelo candidato apoiado por Lula.

Mas, além de ter comandado o “Pátria Voluntária”, programa criado por si durante o governo do marido e extinto por Lula logo no dia da posse, Michelle não tem experiência política.

Por isso, o PL planeia aulas de media training e suporte de técnicos sobre política e economia. Valdemar e demais dirigentes do PL querem que Michelle, fervorosa evangélica, diminua o discurso religioso e apele a diferentes setores da sociedade.

Até porque, antes do patrão do partido, só o deputado Sóstenes Cavalcante, líder da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, citara Michelle como presidenciável. “[Os governadores estaduais] Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Jorginho Mello, Ronaldo Caiado e a própria Michelle Bolsonaro, que se tornou muito carismática, podem cumprir o papel de Bolsonaro”, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo.

A ideia de Valdemar e Sóstenes tem pernas para andar? O cientista social Matheus Pichonelli, colunista do portal UOL, não a descarta. “Parece impensável? Bom, até 2017, a candidatura do marido dela também era…”

Juliano Spyer, criador do “Observatório Evangélico”, questionou, no jornal Folha de S. Paulo, se as notícias em torno dela seriam apenas “uma isca para desviar a atenção pública da tragédia dos ianomamis e sobre o que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro?”. Mas especialistas responderam que talvez não.

Para o cientista político (e evangélico) Miguel Souza, “ser candidato a presidente envolve negociar um arco de alianças complexas, mas, se ela for bem apresentada, é um nome viável”. Na América Latina já tivemos a Evita Perón. Ela pode ocupar esse espaço – da esposa que dá continuidade ao trabalho do marido – na imaginação desses eleitores”.

A teóloga pentecostal Regina Fernandes afirma que o movimento de Michelle na direção do Planalto lhe exigiria uma arriscada mudança de atitude. “Até agora ela apresentou-se como esposa boazinha, de cabeça baixa, e isso ajudou a que ela fosse admirada e ganhasse votos de evangélicas para o marido mas se ela se apresenta agora como “cabeça”, inclusivamente do marido, isso provocará estranhamento entre evangélicas”.

Para Regina, o próprio Bolsonaro “pode boicotar o projeto ao ver Michelle recebendo mais atenção do que ele”.

Coluna do jornal O Globo assinada pela jornalista Bela Megale, revela, de facto, “ciúmes” do ex-presidente. “O lançamento da candidatura de Michelle para a presidência irritou Bolsonaro, que mandou recado a Valdemar por meio de lideranças do partido”, escreve a repórter.

Bolsonaro, ainda segundo a coluna, teria dito que se sentiu “desprestigiado” porque costuma ser consultado “antes que qualquer convite ou pedido seja feito à sua esposa”.

“Entretanto, nos bastidores, ex-ministros de Bolsonaro deixam claro que preferem que Michelle entre na vida pública no lugar do marido, até porque existe a avaliação que é difícil ele permanecer elegível”, sublinha o texto.

Bolsonaro enfrenta 16 processos no Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder económico, político e de meios de comunicação. Uma minuta encontrada em buscas à casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres a decretar “estado de sítio”, com o intuito de mudar o resultado da eleição vencida por Lula, agrava a situação judicial de Bolsonaro.

“Valdemar tem exigido que Bolsonaro volte dos EUA para dar conta dos extremistas eleitos pelo partido mas ele, com um alvo da justiça colado nas costas, não veio – ela sim”, lembra a propósito Pichonelli.

E, com Bolsonaro fora do jogo mediático, foi à própria Michelle, em pleno Senado, que coube uma reação à eventualidade do marido ser preso. “Não é ele que tem que ter medo de prisão”, disse, sob aplausos de apoiantes.

No mundo

Cristina Kirchner
Na mesma Argentina de Evita Perón, a sucessora de Néstor Kirchner como presidente foi a mulher, Cristina, ex-deputada e ex-senadora, hoje vice-presidente de Alberto Fernández.

Hillary Clinton
Depois de o marido, Bill, ter presidido aos EUA de 1993 a 2001, a ex-senadora concorreu à nomeação democrata em 2007 (perdeu para Obama) e, já ex-secretária de Estado, à presidência em 2016 (perdeu para Trump).

Imelda Marcos
Primeira-dama das Filipinas de 1965 a 1986, ano em que o marido, Ferdinand Marcos, perdeu as eleições para Corazón Aquino (viúva do senador Benigno Aquino), Imelda concorreu às presidenciais em 1992 mas foi apenas a quinta mais votada. Exerceu cargos políticos de 1975 a 2019

Segolène Royal
Foi ela, em 2007, e não o então marido François Hollande quem concorreu primeiro à presidência. Perdeu para Nicolas Sarkozy, batido cinco anos mais tarde por Hollande, que entretanto se separara de Ségolène.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Mauro Pimentel / AFP