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Parlamento Europeu. Vários detidos em operação que envolveu buscas em Portugal

Realizadas 21 buscas em Bruxelas, na Flandres e Valónia, além de Portugal. Em causa um alegado esquema de corrupção que envolve a empresa chinesa Huawei, atuais e antigos europedutados e lobistas

Há vários detidos para interrogatório por suspeitas de envolvimento em corrupção ativa no Parlamento Europeu, revelaram esta quinta-feira procuradores belgas, citados pela Reuters, sobre uma operação que envolveu buscas em Portugal.

De acordo com as autoridades belgas, foram realizadas durante esta madrugada pela Polícia Federal 21 buscas, com a participação de cerca de 100 agentes, na região de Bruxelas, bem como na Flandres, Valónia e em Portugal.

A investigação está a cargo da justiça belga que teve o apoio da PJ nas buscas realizadas em Portugal, apurou o DN junto de fonte oficial da polícia portuguesa.

Está em causa um alegado esquema de corrupção que envolve a gigante tecnológica Huawei, atuais e antigos europedutados e lobistas que trabalham ou trabalharam para a empresa chinesa.

Após meses de investigação, terão sido detidos vários lobistas por suspeitas de terem subornado eurodeputados para promoverem a política comercial da empresa na Europa.

Pagamentos a um ou mais eurodeputados terão sido feitos através de empresa portuguesa

Os investigadores suspeitam que os lobistas da Huawei “podem ter subornado eurodeputados com artigos como bilhetes de futebol caros, presentes luxuosos, viagens luxuosas à China e até dinheiro para garantir o seu apoio à empresa, enquanto esta enfrentava resistências na Europa. Segundo uma fonte, os pagamentos a um ou vários legisladores terão passado por uma empresa portuguesa”, escreveu a plataforma Follow the Money, que avançou com a notícia, em parceria com o jornal belga Le Soir, o semanário local Knack e com jornalistas do Reporters United.

Escreve o Le Soir que “as transferências para um ou mais eurodeputados foram feitas através de uma empresa portuguesa”, referindo que a polícia portuguesa realizou buscas numa morada em Portugal durante a manhã desta quinta-feira.

Jornal belga avança que a investigação das autoridades tem no radar 15 atuais ou antigos deputados eleitos para o Parlamento Europeu.

“As vantagens financeiras ligadas à alegada corrupção podem ter sido misturadas com fluxos financeiros ligados ao pagamento de despesas de conferências e pagas a diversos intermediários, com o objetivo de ocultar o seu carácter ilícito ou de permitir que os autores escapassem às consequências dos seus actos. Deste ponto de vista, a investigação visa igualmente detetar eventuais indícios de branqueamento de capitais, se for caso disso”, lê-se no comunicado do Ministério Público belga.

Na nota é referido ainda os restantes crimes que estão em causa. “Vários indivíduos foram detidos para interrogatório por alegado envolvimento em corrupção ativa no Parlamento Europeu, bem como por falsificação e utilização de falsificações. As infracções foram alegadamente cometidas por uma organização criminosa”.

A justiça belga refere ainda que “a corrupção terá sido praticada regularmente e de forma muito discreta desde 2021 até aos dias de hoje”, envolvendo lobbying comercial e subornos.

A prática de corrupção terá sido manifestada por diversas formas, como “a remuneração por assumir posições políticas ou presentes excessivos, como despesas de alimentação e de viagem ou convites regulares para jogos de futebol”, segundo a nota do Ministério Público belga, que não identifica as pessoas envolvidas.

O Le Soir escreve que a alegada corrupção terá envolvido “presentes de objetos de valor (incluindo smartphones Huawei)”, assim como “transferências de alguns milhares de euros” e “bilhetes para jogos de futebol”. A publicação explica que a gigante tecnológica chinesa tem um camarote privado no estádio do RSC Anderlecht.

Recorda o jornal belga que, segundo o código de conduta dos eurodeputados, “qualquer presente dado por terceiros no valor superior a 150 euros deve ser declarado e listado publicamente no registo de presentes”.

Valerio Ottati, diretor de relações públicas da Huawei na UE é um dos principais visados da operação policial
O objetivo era “promover interesses comerciais puramente privados no âmbito das decisões políticas”, diz o Ministério Público belga sobre a investigação que envolve a Huawei, segundo a imprensa belga.

Durante as diligências das autoridades, foram apreendidos vários documentos e objetos, que vão ser alvo de uma “análise aprofundada”.

De acordo com as informações divulgadas pelo jornal Le Soir, um dos principais visados nesta operação policial é Valerio Ottati, diretor de relações públicas do escritório da Huawei na União Europeia desde 2019. Anteriormente foi assistente parlamentar de dois ex-eurodeputados italianos durante 10 anos.

“Ele não era um técnico, de todo. Ele foi contratado pelas suas ligações. Organizou muitas reuniões com eurodeputados e pôde convidar pessoas para eventos”, revelou uma fonte, sob anonimato, à plataforma Follow The Money.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: www.rtp.pt