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Os desafios e as ameaças que as lideranças nacionais enfrentam nas regionais

O teste eleitoral ao líder do PSD reside num cenário simples: a coligação PSD/CDS, liderada por Miguel Albuquerque, não conseguir a “desejada” maioria absoluta.

Essa possibilidade, que abre portas a entendimentos com Chega ou IL, cria no imediato dois embaraços: um a Montenegro, se Albuquerque voltar a reverter posições [já admitiu de forma clara um acordo dizendo que “vai depender” do resultados das eleições para dias depois quase dizer o contrário, sustentando que não faz “coligações com partidos anti-autonomistas”].

Outro a Nuno Morna, líder regional dos Liberais, que “dificilmente”, diz fonte da IL, conseguirá explicar “um comportamento à CDS”. Tradução? Aliar-se ao PSD apesar de “arrasar” toda a governação de Albuquerque e Jardim. Consequência? Arriscar ficar, como o atual CDS de Rui Barreto, líder regional, reduzido “à insignificância”.

No caso de Montenegro, qualquer tipo de acordo que seja feito na Madeira com o Chega terá impacto “imediato” na sua liderança. E o “imediato” tem uma leitura linear: “Vamos andar até às Europeias com o PS a vender a ideia de que o PSD se juntou à extrema-direita”, reafirma ao DN fonte social-democrata.

Argumentos que levam o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL Riccardo Marchi a considerar que “se as eleições da Madeira de 24 de setembro de 2023 e as europeias de junho de 2024 correrem mal (quer em termos de resultado eleitoral quer em termos de clareza da mensagem das alianças no Centro-Direita), Luís Montenegro chegará bastante fragilizado ao momento das legislativas de 2026”.

Mas Albuquerque não garantiu já que não faria “coligações com partidos anti-autonomistas”? A interpretação, de fonte do PSD, reduz as garantias do presidente do Governo Regional da Madeira a uma “ilusão e habilidade” para retirar ao PS, durante a campanha, “argumentos eleitorais” porque o Chega “não é de todo um partido anti-autonomias” por mais “que Albuquerque o repita”.

Sintomático, sublinha, é a mudança de argumento que passou a ser: “O nosso eleitorado não se identifica com o Chega”.

Facto relevante a considerar, o facto do recente estudo sobre sondagens de comportamento de voto realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião e pelo Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa indicar que 73% dos portugueses considera muito negativo ou negativo coligações com o partido de Ventura e que 72% dos eleitores do PSD dizem o mesmo. E finalmente que o Chega é visto como extremista e um perigo real para a democracia.

E as sondagens, até agora publicadas, que parecem indicar uma vitória clara de PSD/CDS?

“Nem tudo o que parece, é”, diz fonte do PSD que recorda que em 2019, por exemplo, uma das últimas sondagens – a da Universidade Católica Portuguesa para a RTP – dava ao PS 29% [que obteve 35,76% dos votos], colocou o BE como “terceira força política” com 5% [teve 1,74% e não elegeu nenhum deputado] e “até o PAN conseguia eleger” [mas não elegeu, obteve 1,46% dos votos].

Outro dado: O que farão os indecisos que oscilam e que andam na ordem dos 14% ? E quantos serão os abstencionistas?

É esta última questão, em particular, que parece preocupar o PSD Madeira. A abstenção elevada , em média na ordem dos 47 %, aliada aos indecisos pode criar um cenário que “não conseguimos controlar”, admite fonte local.

Terá sido, por isso, que Albuquerque reescreveu a teoria de Sócrates e também a de Cavaco [o “Ou eu ou o caos”] dramatizando o discurso: “Se não alcançar a maioria absoluta e não conseguir formar governo demito-me. (…) Se não votarem nesta maioria, vou-me embora”, afirmou Miguel Albuquerque à Rádio Renascença.

Em síntese: o primeiro desafio de Montenegro está nas mãos de Miguel Albuquerque.

Os desafios e as ameaças que as lideranças nacionais enfrentam nas regionais

O parceiro

Nuno Melo, que não quer um “partido de mão estendida”, tem “a perceção de que o CDS-M, que é autónomo, não fará [aceitará] entendimentos de governo com o Chega”. Mas e se for preciso para manter o governo PSD/CDS? “Não vou valorizar com essa resposta partidos que não o CDS que acredito que na coligação terá uma maioria absoluta”, respondeu o líder centrista ao DN.

E, tal como com Montenegro, também a liderança de Nuno Melo, que fez do Chega alvo principal, sairá fragilizada.

Há ainda outro cenário já em cima da mesa. O CDS regional reduzir o seu peso num próximo Governo de Albuquerque. Na prática abdicar, por exemplo, da presidência da Assembleia Legislativa Regional da Madeira (ALRAM) e/ou de ter duas Secretarias como atualmente tem.

Tudo vai depender dos resultados e do número de eleitos dos centristas, sabe o DN.

A consequência nacional é óbvia: O CDS de Nuno Melo, que não irá estar nas duas semanas de campanha eleitoral na Madeira, poderá sair enfraquecido no primeiro embate eleitoral.

O dilema

A questão é ideológica no partido que “nem é de Esquerda nem de Direita”. O que fazer se o PS-Madeira precisar da IL para acabar com 47 anos de um regime PSD? Irá ter “um comportamento à CDS” e aliar-se com o PSD que violentamente critica ou manterá a “linha vermelha” que Nuno Morna, líder regional, sublinhou em declarações ao DN?

“É uma linha vermelha, para mim, qualquer tipo de acordo com o PSD da Madeira. Não haverá acordo nenhum, nem pré, nem pós. Também se consegue governar, e muitas vezes até se governa melhor, sem maiorias absolutas”, afirmou.

Para os liberais nacionais há dois cenários que facilitariam a resolução do dilema: o primeiro, que Albuquerque ganhe com maioria – evitaria “todos os problemas” -; o segundo, que o PS, caso possa formar governo com apoios parlamentares, “exclua PCP e BE” que são duas linhas vermelhas da IL, para além do Chega. “Do mal o menos”, diz fonte da IL ao DN. E a explicação é simples: os Liberais esperam eleger um ou dois deputados. Rui Rocha sai a ganhar.

A ambição

Não há segredos. Ventura admite “negociações” com Albuquerque e “formar governo” garantindo que “não voltará a aceitar um acordo nos mesmos moldes do que existe nos Açores”.

E a estratégia [as sondagens apontam para a eleição de dois ou três deputados] também não tem grandes segredos para a campanha: Ser “oposição” e “a alternativa ao atual governo PSD/CDS”.

Ventura, em declarações recentes ao DN, foi muito claro sobre o que pretende destas eleições: “Eleger um grupo parlamentar significativo e retirar a maioria absoluta ao PSD”. Com ou sem acordo, Ventura sairá a ganhar com a eleição de deputados.

As esquerdas

A expectativa no PS não é muita, apesar de falar na pretensão de um “resultado excelente” [todas as sondagens apontam para a redução do grupo parlamentar], mas terá “crescido” após o debate de quinta-feira, na RTP Madeira, entre PSD, PS, PCP e JPP, que revelou “finalmente” um presidente do Governo Regional “agastado” e “sem respostas”, diz ao DN fonte socialista.

Costa não ganha, nem perde. Desde 1976 que é assim no PS. Diferente é nas lideranças regionais [esta já é a décima] que são “queimadas”, como refere fonte socialista, após cada desaire eleitoral, como se “perder eleições fosse uma novidade”.

O BE que nas últimas regionais perdeu praticamente metade dos votos [não elegeu ninguém] quer agora um regresso ao parlamento pela porta grande: terceira força política. Porém, nas sondagens, até agora divulgadas, esse patamar de terceiro parece estar seguro nas mãos do JPP. Nem que seja a eleição de um deputado já é uma vitória para Mariana Mortágua.

O PCP regional, que arrisca, pelo que indicam as sondagens, perder o seu único deputado, poderá deixar a Paulo Raimundo a sua primeira derrota. Manter já será uma vitória para o secretário-geral.