O primeiro-ministro destacou o exemplo de Portugal enquanto país que aposta nas energias renováveis e na cooperação para a ação climática. Na COP27, Costa deixou uma “palavra muito dolorosa sobre os incêndios florestais” e alertou que a guerra na Ucrânia não pode desviar a urgência da resposta aos desafios das alterações climáticas.
Lembrando que “a ciência é clara” e que a emergência climática “é já uma crise que afeta o mundo”, o primeiro-ministro português discursou esta terça-feira de manhã na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, Egito.
António Costa deixou “uma palavra muito dolorosa sobre os incêndios florestais”, que nem sempre são abordados nestas grandes cimeiras do clima, mas são “da maior importância para a redução de emissões e para a capacidade da floresta desempenhar o seu papel no sequestro do carbono”.
“Estima-se que 6% das emissões mundiais de dióxido de carbono resultem de incêndios de causa humana — em anos mais extremos pode mesmo chegar a representar 20% das emissões mundiais de CO2”, afirmou.
Na mesma linha, foi “com enorme entusiasmo” que o primeiro-ministro português ouviu o novo Presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, renovar o compromisso de desflorestação zero na Amazónia. “A proteção das florestas é um desafio global”, vincou.
O discurso de Costa, no seu segundo e ultimo dia de participação na COP27, ficou também marcado pela necessidade de apoiar e compensar os países em desenvolvimento mais afetados pelas alterações climáticas, sobretudo em África.
“Não podemos obviamente esquecer as nossas responsabilidades no esforço global de financiamento. Esta conferência realizada no continente africano tem de conseguir dar resposta aos problemas deste continente”, disse, acrescentando que Portugal tem vindo a intensificar a cooperação para a ação climática.
No quadro da Estratégia da Cooperação Portuguesa 2030 (ECP 2030), o país terá um pilar dedicado ao planeta e irá “reforçar em 25% o apoio aos parceiros da cooperação neste domínio, para ajudar a combater as alterações climáticas também no continente africano”, informou.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA JUSTA É UM “IMPERATIVO MORAL”
Perante os decisores políticos, académicos e organizações não governamentais reunidas em Sharm el-Sheikh, António Costa destacou que Portugal “há mais de 15 anos iniciou a aposta nas energias renováveis” e “é um exemplo de como investir cedo na transição garante menor dependência e maior segurança do ponto de vista energético”.
O líder do executivo português sublinhou ainda que “hoje as energias renováveis representam já cerca de 60% da eletricidade consumida [em Portugal] e o nosso objetivo é crescer para 80% até 2026”, vincando que o hidrogénio verde e outros gases renováveis são “as energias para o futuro”.
Neste sentido, o drama da guerra na Ucrânia não pode desviar a urgência da resposta aos desafios das alterações climáticas. “Na verdade, as consequências desta guerra têm demonstrado quão necessário é acelerar a transição energética e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis”.
“Acreditamos que a transição energética justa pode ser sinónimo de crescimento e prosperidade económica. Mas é acima de tudo um imperativo moral: como líderes devemo-la às nossas populações, ao resto do mundo e às gerações futuras”, sustentou.
Por último, António Costa lembrou que o “diálogo multilateral” é fundamental para atingir os objetivos do Acordo de Paris, entre os quais fixar o aumento da temperatura global em 1,5 graus Celsius relativamente ao período pré-industrial (atualmente, o aumento da temperatura já é de pelo menos 1,1º C).
“Juntos podemos caminhar rumo a sociedades neutras de carbono, sociedades que gerem de forma eficiente, circular e sustentável os seus recursos, sociedades movidas por energias renováveis e apoiadas no princípio da transição justa. É esta a sociedade que Portugal deseja construir e ajudar a construir. É este o caminho da paz, da prosperidade e do desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Fonte: Jornal Expresso / Portugal
Crédito da imagem: Ahmad Gharabli