No Norte do país, há dias em que se vai ao mar a contar com Matosinhos. O mar bravo impede muitas vezes o barco de entrar nos portos, mas não em Matosinhos.
“Matosinhos é uma categoria, Matosinhos é o céu”, suspira Fernando Fonseca, pescador com 50 anos de carreira, falando da segurança deste porto. É por isto que, mesmo durante um temporal, daqueles com nome de pessoa, há sempre o que comprar na lota de Matosinhos.
Este é um dos maiores e mais seguros portos do país: está aberto todos os dias do ano e é o único a norte que não fecha por razões meteorológicas. Em Matosinhos, o signo do peixe está sempre presente e a pesca continua a definir a identidade da cidade, mas já poucos matosinhenses agarram o ofício.
Na lota, os lugares para o leilão estão marcados — não oficialmente, mas os compradores de peixe conhecem-se e sabem que cada um tem a sua cadeira preferida. Para comprar peixe aqui (é a primeira venda depois de ser pescado) é preciso estar registado como grossista, retalhista, industrial do pescado, da hotelaria ou da restauração, ou seja: nesta bancada semelhante à de um polidesportivo encontram-se representantes de grandes armazéns, de hotéis e restaurantes e as peixeiras distinguem-se pelo avental.
Há vernáculo e provocações de uma fila para a outra, enquanto o peixe a leilão, no patamar de baixo, é descrito na sua frescura e tamanho. Num ecrã, o preço para cada lote começa alto e vai descendo até um dos compradores carregar no comando que tem na mão. Assim pára o preço e define o preço que vai pagar pelo peixe em questão.
O dia é de pouco peixe — na noite passada, apenas um barco saiu — e o leilão não é dos mais ferozes, mas apesar do ar descontraído dos compradores, o olho está vivo para fazer parar o preço no momento que garante o melhor preço sem deixar o do peixe para outro.
Uma pesca mais eficiente
Nos últimos anos, a tendência local — e também nacional — aponta para uma diminuição das capturas de peixe, o que não é necessariamente uma má notícia, nem para a saúde dos stocks de peixe, nem para os pescadores.
“Há, neste momento, uma certa estabilização das quantidades pescadas”, explica o presidente do conselho de administração da Docapesca. “É o resultado das boas práticas de sustentabilidade. A sardinha, por exemplo, face ao esforço de conter a captura [nos últimos anos], que deu frutos, as possibilidades de captura estão até a aumentar”, continua Sérgio Faias.
O futuro é a velha ligação ao mar
Os restaurantes de peixe com a grelha à porta, como convite, estão por toda a cidade. Enchem a Rua Heróis de França, que liga o norte da cidade, onde Matosinhos nasceu a partir do porto, ao sul. Um par de quarteirões abaixo, a rotunda da Anémona, uma escultura feita de redes de pesca, é uma evocação da relação quotidiana e poética com o mar. É essa ligação que o porto quer reforçar nos próximas décadas.
“Sabemos que o porto faz esta interface com a cidade e é importante criar uma ligação. Neste momento há um muro”, diz Sérgio Faias sobre a inacessibilidade dos residentes e turistas à grande faixa costeira ocupada pelo porto.
Fonte: Jornal O Público / Portugal
Crédito da imagem: Anna Costa