O turismo está em alta e não param de chegar forasteiros aos aeroportos portugueses. Muitos deles procuram o que os especialistas já chamam de “novo luxo”, e é o caso do crescente número de cidadãos endinheirados dos Estados Unidos que visitam Portugal.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em junho, 81,7% dos passageiros desembarcados nos aeroportos eram estrangeiros, num total de 2,6 milhões.
A seguir à Europa (que representa 68,9%), “o continente americano foi a segunda principal origem, concentrando 9% do total de passageiros desembarcados”, uma subida de 11,7% face a junho do ano passado.
Um aumento que, de acordo com o secretário-geral da Laurel (Associação Portuguesa de Marcas de Excelência) é bom, porque o consumo médio de um americano é o dobro do de um europeu. “Um americano de topo pode gastar à vontade em Portugal dois ou três mil euros por dia”, afirma Francisco Carvalheira.
E o que procuram estes (relativamente) novos turistas? Luxo? “Vamos ser pragmáticos. Um cliente que esteja habituado a comprar luxo, se quiser comprar as grandes marcas, tendencialmente irá aos países de origem. Irá a França, Itália ou Reino Unido. Esporadicamente poderá vir cá”, diz Francisco Carvalheira.
Estes turistas com elevado poder de compra escolhem ficar em bons hotéis – “porque quando há dinheiro nos Estados Unidos, há realmente dinheiro”, diz o secretário-geral da Laurel – e o que realmente procuram é a nossa história. “Compram saber fazer, apreciam ir a um restaurante e verem que a comida é natural, pagam o que for preciso para isso” e “sabem sobretudo perceber onde é que podem exigir o serviço”.
Ana Cristina Guilherme, da consultora hoteleira ABC Hospitality, faz a mesma análise. “O luxo hoje é algo completamente diferente do que era há 20 anos. E quando eu digo completamente diferente é mesmo isso”. Ou seja, falamos do “new luxury “, que está ligado a locais únicos e exclusivos.
Agora, o que os turistas com mais dinheiro procuram é “o que é simples, orgânico e que devolve tradições e legados da sabedoria ancestral portuguesa, das nossas avós e bisavós”. Ou seja, “as tradições dos locais até ao dia de hoje”, detalha, reinterpretadas de uma forma contemporânea. “Luxo, hoje em dia, é isto”, afirma.
No caso específico do mercado americano, aquela responsável diz que a localização e o próprio espaço onde decidem ficar é o que mais conta atualmente. “O mercado americano vem à procura de viver a região, de descobrir o destino, de poder caminhar com um pastor, de poder andar na praia e apanhar lapas com um pescador”. “Em especial, este mercado, que tem uma história muito mais pequenina do que a nossa, busca perceber as raízes e a origem das coisas” e quer conhecer o nosso património.
“O mercado americano vem à procura de viver a região, de descobrir o destino, de poder caminhar com um pastor, de poder andar na praia e apanhar lapas com um pescador.”
E, apesar de as unidades hoteleiras de cinco estrelas, com muitos quartos e diversão a todas as horas do dia serem ainda muito procuradas, Ana Cristina Guilherme diz que temos assistido a uma explosão de “unidades hoteleiras independentes” com uma carga de alojamento entre os 20 e os 50 quartos.
Estes espaços “quase que se diluem na autenticidade do local onde escolhem nascer ou reabilitar” e são os que os hóspedes que querem este novo luxo procuram. “É uma imersão no destino. Luxo é tempo, é silêncio, é sentir, é andar descalço, como dizia o designer Philip Starck”, refere ainda.
“Quanto mais uma unidade hoteleira optar – dentro da sua estratégia e modelo de negócio – por bons fornecedores locais e nacionais, isso é luxo”, explica, acrescentando ainda que “é tudo muito mais valioso quando a escolha do proprietário ou do investidor é por bons produtos nacionais”.
Vender o saber fazer nacional
O World Travel & Tourism Council estima que o setor do turismo poderá contribuir este ano com 17,4% para o PIB nacional. E que se verifique um aumento anual de 3,4% durante a próxima década, atingindo o setor um peso de 20,2% na economia até 2032.
Francisco Carvalheira relembra que “Portugal tem uma coisa que tem que saber vender”: a nossa História. “Nós temos 800, 900 anos de história, de saber fazer. Não podemos ser copiadores”, afirma. “Portugal, com tudo o que tem de bom, com o seu património, tem que conseguir fazer o seu caminho nas marcas de excelência e de luxo”.
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Marcas de Excelência sublinha que “não podemos criar uma Chanel, porque já foi criada, mas podemos criar outras coisas”. E para um americano a nossa é muito importante. É preciso saber oferecer este património, considera o responsável.
“Os americanos vêm comprar naturalidade, simpatia, ou mesmo um peixe grelhado. Vêm também comprar o nosso sol, a nossa alegria. Tudo isso, mais a nossa originalidade, não tem preço para eles”.
E acredita que se continuarmos a vender a “nossa originalidade com imensa qualidade, temos tudo para ter muito sucesso”. Porque, diz Francisco Carvalheira, para vender as marcas de excelência ou luxo nacionais é preciso que haja consistência.
“É uma das palavras chave para o sucesso do luxo, ter consistência em tudo. Porque o luxo demora tempo e quem diz que um produto é de luxo é a pessoa que compra e que está disposta a pagar um extra premium, porque reconhece qualidade, e isso demora tempo”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Leonel de Castro / Global Imagens