A sala de palestras da seleção portuguesa tem apenas uma palavra escrita num quadro: “Nós”. Traduz todo o sentimento de uma seleção que tem “o sonho, a ambição e a capacidade” de erguer o troféu de Campeã Mundial no Qatar, segundo Fernando Santos.
Na antevisão do jogo de hoje com o Gana (16h horário de Lisboa, 13h horário de Brasília), o primeiro da equipa das quinas no Grupo H, o selecionador confessou que anseia por dar “uma enorme alegria” aos portugueses. “É isso que vamos tentar fazer em cada jogo, com o máximo de intensidade, entrega, paixão e qualidade.”
O selecionador vai cumprir o terceiro Mundial, depois de liderar a Grécia no Brasil 2014 e Portugal no Rússia 2018, e sabe bem que “os portugueses podem ficar divididos na hora das convocatórias”. Mas assim que a bola rolar vão apoiar como sempre… e querem fazê-lo até 18 de dezembro (dia da final).
“Não há qualquer treinador ou jogador que não tenha o sonho de ser Campeão Mundial. Nós, temos o sonho, a ambição e a capacidade para poder lutar por isso e vamos fazê-lo. Não somos presunçosos, não sentimos que somos os melhores do mundo, mas temos convicção na qualidade desta equipa e nestes jogadores.”
O jogo com o Gana é o mais importante, por ser o primeiro na prova e porque uma vitória dará “energias positivas” à equipa. Mas Santos sabe bem que é possível ser campeão sem vencer na estreia. “No Euro 2016 empatei os três primeiros jogos e ganhei o Campeonato da Europa. Se fosse para repetir, todos nós assinaríamos por baixo, mas sabemos que é um risco muito grande”, atirou, entre sorrisos de quem sabe que foi apanhado na curva – sempre disse que não comprava empates.
Convicto de que o Gana “vai criar muitos problemas”, porque “é uma equipa muito bem organizada e muito rápida nas transições”, o selecionador avisou que Portugal tem de “estar alerta em todos os momentos do jogo e não achar que o jogo é só marcar”. Se o fizer “alcançará certamente a vitória” e ganhará impulso para o resto da fase de grupos, em que jogará com o Uruguai (dia 28) e a Coreia do Sul (dia 2 de dezembro). Estas duas seleções defrontam-se hoje às 13.00 e, na antevisão, Paulo Bento admitiu que “preferia ter evitado calhar no grupo de Portugal”.
Quem sai para entrar CR7?
No particular com a Nigéria (4-0), Portugal jogou com Rui Patrício, Diogo Dalot, Rúben Dias, António Silva, Nuno Mendes, Otávio, Bruno Fernandes, William Carvalho, João Félix, Bernardo Silva e André Silva. Quem vai sair do onze para entrar Cristiano Ronaldo? “Teremos uma equipa igual, com os jogadores focados, dinâmicos, criativos. Temos de potenciar as características deles em cada momento. Tenho 26 jogadores e, sinceramente, vou para a cama dormir muito tranquilo, porque estão todos em condições e porque todos me dão garantias”, respondeu o técnico, sem dizer se vai trocar Patrício por Diogo Costa, António Silva por Pepe, Otávio por Bernardo ou André Silva por Leão.
Certo é que, do ponto de vista do selecionador, jogar um Mundial no inverno tem as suas vantagens. “Os jogadores vêm no auge da sua forma” porque o torneio se disputa a meio da época, o que torna “os primeiros jogos muito competitivos e intensos, o que não é normal em Mundiais”. Neste sentido, considerou que “a questão da recuperação e do repouso será fundamental” durante a competição, lembrando que nos primeiros dias em Doha “houve algumas dificuldades com o sono” na comitiva.
O selecionador fez-se acompanhar por Bruno Fernandes na sala de imprensa e foi sorrindo cada vez que o jogador era confrontado com o assunto da rescisão de Cristiano Ronaldo. Quando chegou a sua vez garantiu de novo que a polémica não entrou no balneário e o assunto “nem foi comentado” no grupo. “Acho que toda a gente está muito focada, não foi um assunto falado, nem foi comentado no espaço de lazer, de conjunto entre os jogadores. Ainda hoje [ontem] estavam 20 sentados, juntos, e não foi tema, nem assunto. Há um foco total, um espírito fantástico e os jogadores estão convictos do que têm de fazer”, argumentou.
Melhor ambiente na seleção
Confessando ser um “defensor intransigente dos Direitos Humanos”, Santos deixou as questões sensíveis para quem de direito e admitiu que o ambiente na seleção é melhor do que o vivido no último Europeu, jogado em plena pandemia, e no último Mundial. “A competição de 2018 veio a seguir a um incidente em que seis ou sete jogadores [foram quatro] chegaram ao Mundial sem clube ou sem saber o que seria o seu futuro. E todos falavam disso. As vidas deles estiveram em jogo, não se falava noutra coisa nas conversas entre eles. O ambiente era muito bom, mas isso desviou o foco de muita gente. Houve jogadores a fazer contratos nessa altura, outros a renovar, a saber para onde iam”, recordou Santos, referindo-se a Rui Patrício, Bruno Fernandes, William Carvalho e Gelson Martins, que tinham rescindido com o Sporting, depois da invasão à Academia, hoje Academia Cristiano Ronaldo.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Patricia de Melo Moreira / AFP