O vencedor do Nobel da Literatura é o norueguês Jon Fosse, anunciou esta quinta-feira a Academia Sueca, em Estocolmo, que justificou a escolha deste escritor e dramaturgo de 64 anos pelas suas “peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível”.
De acordo com a Academia, Jon Fosse notabiliza-se pelos seus romances fortemente reduzidos a um estilo que passou a ser conhecido como “minimalismo de Fosse”. Uma característica que pode ser vista no seu segundo romance Stengd Gitar, de 1985, quando “apresenta uma variação angustiante sobre um dos seus temas principais, o momento crítico da irresolução”.
A obra retrata uma jovem mãe que sai do seu apartamento para atirar lixo na rampa, mas tranca-se do lado de fora, com o seu bebé dentro de casa. Nesse drama, não consegue ir pedir ajuda porque não pode abandonar o filho. Na prática, “Fosse apresenta situações quotidianas que são instantaneamente reconhecíveis nas nossas próprias vidas”.
Muita da obra de Jon Fosse tem muito em comum com Tarjei Vesaas, o grande precursor na literatura norueguesa de Nynorsk. O prémio Nobel da Literatura de 2023 combina fortes laços locais, tanto linguísticos como geográficos, com técnicas artísticas modernistas.
Segundo a Academia, apesar de Fosse partilhar “a perspetiva negativa dos seus antecessores, não se pode dizer que a sua visão gnóstica particular resulte num desprezo niilista pelo mundo”. Isto porque, defende, “há um grande calor e humor no seu trabalho, e uma vulnerabilidade ingénua nas suas imagens nítidas da experiência humana”.
Em Portugal, múltiplas das suas obras estão publicadas, com destaque para o trabalho feito pelos Artistas Unidos, que desde 2000 encenam as suas peças, a começar com “Vai Vir Alguém”, levada ao palco por Solveig Nordlund.
Nos Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos e da editora Cotovia, estão publicadas “A Noite Canta os seus Cantos”, “Inverno”, “Lilás”, “Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices”, e “Sou o Vento/Sono/O Homem da Guitarra”.
Entre outras edições, a Cavalo de Ferro tem vindo a publicar a prosa de Fosse, com destaque para “Trilogia” (2022) e “Septologia I-II” (2022).
Nas casas de apostas, anualmente consultadas como barómetro das probabilidades de um autor alcançar o prémio, Jon Fosse surgia esta semana no topo das listas tal como Can Xue, Ngugi Wa Thiong’o, entre outros. Na língua portuguesa, apenas Mia Couto e António Lobo Antunes apareciam, abaixo na tabela.
No ano passado, a vencedora foi a francesa Annie Ernaux “pela coragem e pela perspicácia imparcial com que desvenda as raízes, as indiferenças e as limitações coletivas das memórias pessoais”, que se seguiu ao escritor Abdulrazak Gurnah.
O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.
O dinheiro provém de um legado deixado pelo criador do prémio, o inventor sueco Alfred Nobel, que morreu em 1896. Os prémios serão entregues pelo rei Carlos Gustavo da Suécia, numa cerimónia que terá lugar em Estocolmo, a 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal