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Neste oásis em Campanhã volta a ser a natureza a ensinar como do passado se faz um lugar de todos

E se fosse possível ocultar a VCI com dezenas de amieiros, choupos e salgueiros? E se um território repleto de património e história voltasse a ligar a comunidade?

Não é uma utopia, mas um oásis que está a ser projetado para os seis hectares de espaço verde que, um dia, foram a Quinta de Salgueiros. O futuro Porto BioLab é um regresso às memórias de muitos e uma resposta a desafios atuais com as soluções que sempre existiram. Um reencontro entre as pessoas e a natureza. Entre as pessoas e o lugar que é de todos.

“Este é um parque, mas é muito mais do que um parque”, considera o vice-presidente da Câmara. No momento da apresentação do projeto à comunidade mais próxima, que chamou dezenas de pessoas com expetativas e ideias, Filipe Araújo lembrou a intervenção como “absolutamente estratégica” em várias vertentes.

Para o responsável pelo Ambiente e Transição Climática, “quando temos seis hectares de espaço verde, não os podemos deixar esquecidos”. Assumindo que “o objetivo primordial, desde sempre, foi devolver o espaço à população”, ainda assim refere como a dimensão e caraterísticas o tornam “muito desafiante”.

AR_Apresentação_Porto_BioLab_Quinta_Salgueiros_05.jpgA Quinta de Salgueiros será, logo à partida, um laboratório vivo, “à disposição de toda a comunidade científica, dos investigadores, dos professores, que poderão usar o espaço para testar novas espécies ou a forma como elas se adaptam às alterações climáticas”, explica Filipe Araújo, lembrando a necessidade de “perceber que árvores vamos ter que ter, que se adaptem às alterações do clima, de que forma podemos infiltrar a água nos solos”.

Está previsto, por exemplo, um espaço para o estudo de camélias, um bosque com espécies autóctones, a mistura de sobreiros com carvalho alvarinho e com as plantas da mata ribeirinha como o freixo, o plátano, o choupo, o salgueiro para garantir locais de sombra.

O recurso ao arvoredo para – inclusive – mitigar o ruído, até visual, causado pela VCI. “Aqui sentimos a pressão da VCI com o viaduto e olhamos para um espaço verde que não conseguimos percorrer. Acho que salta à vista de todos que este território pode coser a cidade”, considera o vice-presidente.

A qualidade de vida de uma cidade também se mede pela qualidade dos espaços que temos para usufruir enquanto comunidade

Filipe Araújo sublinha como a Quinta de Salgueiros “tem que ser um espaço de todos e vai ser uma enorme oportunidade para esta zona”, onde vive cerca de 14% da população da cidade. Certo de que “a qualidade de vida de uma cidade também se mede pela qualidade dos espaços que temos para usufruir enquanto comunidade”, o responsável pelo Ambiente e Transição Climática partilha o “segredo dos espaços verdes: acolhem toda a gente, sem olhar a idade ou estrato social”.

AR_Apresentação_Porto_BioLab_Quinta_Salgueiros_10.jpg“Quando falamos de cidade, falamos disto”, considera o vice-presidente, lembrando como “a lógica do Plano Diretor Municipal é que a cidade se desenvolva olhando para a natureza e não destruindo”. “Sabemos que este espaço vai mudar a vida de muitas pessoas”, acredita.

Como tem acontecido com as intervenções no Parque Central da Asprela ou na Alameda de Cartes, ou como se pretende que venha a acontecer no Jardim Paulo Vallada.

“Com dias de muito calor e chuvas intensas num curto espaço de tempo, precisamos destes territórios, e precisamos urgentemente, para mitigar os impactos, para proteger a cidade”, sustenta Filipe Araújo.

Toda esta zona acaba por ser cerzida, ligada de maneira a que uma enorme ferida causada por todas as enormes transformações dos últimos 20 anos possa começar a ser sarada, dando um enorme espaço público de vivência à comunidade

Para chegar até aqui foi preciso muito tempo: tempo para desenvolver o projeto, para encontrar o financiamento, para ouvir as pessoas ao longo das várias visitas promovidas à Quinta de Salgueiros. No horizonte deste oásis estarão meses de intervenção, em duas fases, acreditando-se poder entregar a primeira parte do espaço, mais de três hectares, à população já em 2027.

AR_Apresentação_Porto_BioLab_Quinta_Salgueiros_15.jpgPara a frente, nascerão parques para atividades desportivas e comunitárias, hortas para cultivo pela população, prados para estimulação das espécies polinizadoras e a integração do já existente ecocentro. E o que mais a natureza permitir e a comunidade desejar.

“Toda esta zona acaba por ser cerzida, ligada de maneira a que uma enorme ferida causada por todas as enormes transformações dos últimos 20 anos possa começar a ser sarada, dando um enorme espaço público de vivência à comunidade”, acredita o arquiteto paisagista Paulo Farinha Marques, responsável pela equipa da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que está a desenvolver o projeto.

O Porto BioLab é uma ação demonstrativa do NBRACER – Nature Based Solutions for Atlantic Regional Climate Resilience –, financiado pelo Programa Horizon, que define uma linha de base e fornece novas soluções para progredir na jornada regional para a resiliência, integrando seis países europeus, oito regiões atlânticas, 29 parceiros, num investimento de 17,4 milhões.