A construção da futura linha Rubi do Metro do Porto deverá levar dois anos e 10 meses, podendo obrigar à demolição de edifícios em Gaia. A nova ponte rouba a vista, o sossego e paz aos moradores do bairro de Massarelos, no Porto, que temem que a nova ponte do metro e a sua construção lhes “abale” as casas onde vivem há 39 anos.
Pelo complexo habitacional da zona do Bicalho, a que os moradores chamam de “bairro” de Massarelos, não se sabe ao certo como vai ser o projeto da nova ponte do metro.
Todos os dias corre um novo burburinho, um novo boato e um novo ‘diz-se que diz-se’. São poucas as certezas sobre o projeto da nova ponte, mas a maioria dos moradores têm uma: “não queremos aqui a ponte”.
“O sossego e a paz que aqui se vive vai acabar”, garantiu à Lusa Manuela Teixeira, de 54 anos e ali moradora há 39.
A construção do “bairro” arrancou em setembro de 1976, ao abrigo do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), que visava responder à grave crise habitacional do país. Mas só em julho de 1982 é que as 67 habitações, propriedade da Associação de Moradores de Massarelos, foram entregues.
Com vista privilegiada para o rio Douro, em breve, o complexo habitacional será “assombrado” pela nova ponte, cuja empreitada será a mais morosa de toda a obra da linha Rubi: dois anos e meio.
Os receios de Manuela Teixeira vão, no entanto, além do “sossego” e da “paz” do bairro. Com a construção da ponte, a moradora teme pela construção da sua própria casa.
“A construção do bairro já tem muitos anos. Temos medo que a ponte venha mexer com a construção das nossas casas”, desabafou.
As preces dos que ali moram, a sua maioria já de idade avançada, “não chegaram a lado nenhum”.
“Nós não conseguimos nada. O dinheiro é que fala. Não sabemos nada do projeto e o metro vai passar por cima das nossas casas. Foi desonesto da parte da Metro do Porto, porque a associação de moradores deveria ter sido informada do projeto, não só a câmara. Moram aqui pessoas”, reforçou Manuela Teixeira.
À semelhança de Manuela, também Lucinda Faria, de 81 anos, e Maria Faria, de 86 anos, temem que a construção da ponte e dos seus alicerces lhes “mexa” com as casas.
“Já temos pontes que chegue”, realça Lucinda, enquanto a sua irmã, Maria, acrescenta: “o dinheiro que vão gastar na ponte dava para fazer muita gente feliz”.
Entre a calçada que divide os dois blocos habitacionais ouvem-se, repetidamente, novas histórias sobre a ponte.
A Conceição Fausto, de 66 anos, disseram que “as despensas do bairro iam ser demolidas porque vão ter de descer com as máquinas para construir o pilar”.
“Ouvi falar, mas não sei ao certo se vai ser”, disse à Lusa.
Já Manuela Amorim, de 52 anos, ouviu dizer que “vão ser barrados caminhos ao bairro”.
“A rampa mais pequena de acesso ao bairro vai ser barrada porque vai nascer um pilar provisório para suportar os trabalhos e as pessoas de idade vão ter de subir pela rampa maior”, contou.
À semelhança dos seus vizinhos, Manuela Amorim também teme que a construção “abale” com a estrutura da sua casa.
“É a segunda vez que a minha casa cede e que a associação vai lá tentar arranjar. Com a construção da ponte, isso vai afetar ainda mais, vai mexer com o terreno”, disse Manuela Amorim, lamentando a “falta de consideração” pelos moradores do bairro.
“Estamos aqui esquecidos”, confessou.
E acrescentou: “só queríamos que acalmassem e apaziguassem as nossas preocupações”.
A construção da futura linha Rubi do Metro do Porto, entre Santo Ovídio e Casa da Música, deverá levar dois anos e 10 meses, podendo obrigar à demolição de edifícios em Gaia, segundo o Estudo de Impacto Ambiental.
Em Gaia, as estações previstas para a linha Rubi são Santo Ovídio, Soares dos Reis, Devesas, Rotunda, Candal e Arrábida, e no Porto Campo Alegre e Casa da Música.
A construção da linha Rubi, prevista no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), custará 300 milhões de euros mais IVA.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Igor Martins / Global Imagens