Luís Montenegro, indigitado primeiro-ministro já após a meia-noite, disse esta quinta-feira em Bruxelas que ainda não foram iniciados contactos para o novo governo, mas que o primeiro a saber da composição do Executivo será Marcelo Rebelo de Sousa.
O líder do PSD prometeu uma lista “com créditos firmados, com elementos dos partidos que compõem a Aliança Democrática e da sociedade”, mas não revelou nomes nem se haverá ministros da Iniciativa Liberal.
O futuro governante afirmou que “não há razão para se duvidar da capacidade” do novo governo e que espera cumprir o que prometeu aos portugueses.
Montenegro salientou ainda ser “prematuro” falar-se de um possível apoio a António Costa para um cargo europeu.
O primeiro-ministro indigitado garantiu esta quinta-feira à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, rapidez na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para “recuperar atrasos”, esperando nova tranche ao país no final deste mês.
“Eu espero que não [se percam verbas], embora saibamos que alguns compromissos que o Governo português [cessante] assumiu que não estão ainda cumpridos, que já foram causa de atraso no desembolso de algumas tranches e sabemos que haverá uma que estará disponibilizada no final deste mês de março”, declarou Luís Montenegro.
“Espero que não haja nenhum problema quanto ao cumprimento dos compromissos que ainda dependem exclusivamente do Governo que está em funções” para receber essa próxima verba, acrescentou, falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas após uma reunião de cerca de 15 minutos com Ursula von der Leyen, a líder da instituição e também cabeça de lista do Partido Popular Europeu (PPE) às eleições europeias.
Luís Montenegro disse ter transmitido à responsável “questões específicas, como se tentar recuperar os atrasos que há na execução do PRR”.
“Foi uma das matérias que esteve em cima da mesa na conversa que tivemos hoje e que será um ponto fundamental da nossa ação depois de assumirmos o Governo. Às vezes, dá-se um panorama muito otimista sobre alguns dossiês e esse é um deles, [mas] a verdade é que há atrasos que nunca foram recuperados e há também o desejo que tenho de podermos usar esse impulso de financiamento para podermos dinamizar a nossa atividade económica por forma a termos um ciclo de crescimento mais duradouro e podermos atrair e reter talento em Portugal”, elencou.
Montenegro garantiu ainda a Von der Leyen não existir “nenhuma razão” para preocupação com a estabilidade política do país, garantindo “responsabilidade” face à União Europeia.
“Não há nenhuma razão para colocar em causa a estabilidade do país, a estabilidade de uma solução de Governo, que, embora não disponha de maioria absoluta na Assembleia da República, dispõe da confiança dos eleitores”, salientou.
“Tive ocasião de lhe explicar o contexto em que fui indigitado primeiro-ministro e estou, neste momento, empenhado em apresentar ao senhor Presidente da República uma proposta de composição do Governo”, adiantou Luís Montenegro.
Costa e Montenegro encontram-se em Bruxelas
O primeiro-ministro cessante, António Costa, encontrou-se esta quinta-feira, em Bruxelas, com o primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, para o cumprimentar, antes das reuniões dos respetivos grupos políticos a que pertencem.
António Costa e o presidente do PSD encontraram-se num hotel perto da Comissão Europeia, de onde depois se vão dirigir para as reuniões do Partido Socialista Europeu e do Partido Popular Europeu, respetivamente, que habitualmente antecedem as cimeiras de líderes europeus.
“Não foi combinado, mas convergiu”, disse António Costa sobre o encontro, perante os jornalistas presentes à porta do hotel.
Tanto Costa como Montenegro estavam sorridentes e o socialista convidou o social-democrata para um café, no interior do hotel, tendo as câmaras de televisão ainda se dirigido para o restaurante onde se sentaram à mesma mesa, mas o encontro prosseguiu depois sem a presença da comunicação social.
O encontro foi curto, durou menos de dez minutos. No final, o vice-presidente social-democrata e eurodeputado Paulo Rangel cumprimentou António Costa e o primeiro-ministro cessante gracejou: “Vejo que está de rosa, o que é um bom sinal, está a tornar-se um verdadeiro diplomata.”
O comentário de Costa é uma alusão à possibilidade de Paulo Rangel assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros no futuro governo liderado por Luís Montenegro, cuja composição será apresentada no dia 28 ao Presidente da República e para a qual não há qualquer nome confirmado.
O primeiro-ministro cessante encontrou-se ao início da manhã com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, no quartel-general da organização político-militar, e Luís Montenegro tinha tido uma reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A Aliança Democrática (AD) venceu as eleições de 10 de março e o líder do PSD foi indigitado primeiro-ministro pelo Presidente da República. Luís Montenegro apresenta o seu Governo em 28 de março e a posse está prevista para 02 de abril.
As duas coligações lideradas pelo PSD — AD (PSD/CDS/PPM) e Madeira Primeiro (PSD/CDS) — conseguiram 28,84% dos votos e 80 deputados, segundo os resultados provisórios da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna – Administração Eleitoral.
O PS foi o segundo partido mais votado com 28% e 78 deputados, e o Chega obteve 18,07%, com 50 mandatos no novo parlamento.
A Iniciativa Liberal (IL) foi a quarta força política com 4,94% dos votos e com oito deputados, seguida do Bloco de Esquerda, com 4,36% e cinco deputados. Também elegeram deputados o PCP, com 3,17% e quatro deputados, os mesmos que o Livre, com 3,16%. O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) manteve o seu deputado, com 1,95%.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Miguel A. Lopes