Luís Montenegro, no encerramento da Convenção Por Portugal, recuperou as propostas do PSD para os impostos, saúde e educação e deixou o Chega de fora. “O pior do projeto socialista é que o PS quer Portugal subsidiodependente”, destacou o líder social-democrata, sem omitir a ideia de que “quem chamou a troika foi José Sócrates”.
Durou 45 minutos a intervenção de Montenegro na reta final da convenção da coligação pré-eleitoral entre o PSD, CDS e PPM. Entre apologias a um futuro “feliz”, com a possibilidade da Aliança Democrática ganhar as eleições legislativas de 10 de março e a manutenção de um regime que considerou ser de “subsidiodependência”, caso o PS ganhe, Luís Montenegro não teve uma única palavra para os partidos mais à direita.
“Acabou por cair um dos governos mais incompetentes que tivemos em Portugal”, afirmou, acrescentando que “ruiu por dentro, autodestruiu-se”. “O Governo caiu porque foram caindo muitos dos seus membros”, continuou o líder do PSD. Quanto ao ex-secretário-geral do PS, António Costa, para Montenegro “saiu por incompetência, por incúria, por perda de autoridade política”.
Quanto a medidas concretas para o país Montenegro trouxe o que já tinha prometido meses antes, tanto para a saúde como para educação e impostos.
“Sá Carneiro disse um dia que Portugal era um país em que os mais velhos não tinham presente e os mais novos não tinham futuro”, citou Montenegro, destacando “que esta é a altura de nos reconciliarmos com os pensionistas e reformados de Portugal”.
“Vamos mesmo aumentar o valor do complemento solidário para idosos para 820 euros numa primeira legislatura e o equivalente ao salário mínimo nacional numa segunda legislatura”, prometeu, antes de entrar no tema da saúde e projetar para o futuro um “apoio de 100%” em situações de “comprovada insuficiência económica” para quem sofre de “patologia crónica”.
Para os jovens, repetiu a receita do pacote fiscal social-democrata apresentado na rentrée do partido, na Festa do Pontal. “Propomos uma taxa de IRS máxima de 15% para os jovens até aos 35 anos” e “isenção de IMT na compra da primeira habitação”, lembrou. Esta medidas surgiram justificadas com a necessidade de manter os jovens em Portugal, por considerar que “têm direito a ter uma vida ao lado das suas famílias e ao lado dos seus amigos”.
“50 anos depois do 25 de Abril e 40 anos depois da nossa adesão à UE […] não podemos ficar amarrados aos mínimos olímpicos”, motivo pelo qual considerou que “o pior do projeto socialista é que o PS quer Portugal subsidiodependente”, estendendo esta ideia aos “subsídios da Europa”.
“O PS e o seu candidato [Pedro Nuno Santos] querem subtrair às pessoas e às empresas o máximo de impostos”, acusou, questionando de forma retórica “para quê”. “Para as amarrar aos subsídios e às ajudas, empobrecer para enfraquecer, enfraquecer para amarrar, amarrar para perpetuar”.
“Portugal precisa de correr, de aproveitar efetivamente as oportunidades para um dia ser contribuinte líquido da União Europeia”, frisou, destacando que “essa cultura de poucochinho, nós temos de erradicar de Portugal”.
Numa convenção que congregou mais ou menos os três partidos que a formam, apesar da ausência do presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, o antigo líder do CDS Paulo Portas começou a sua intervenção no encontro com uma receita para o PS, afirmando que seria “bom para Portugal” e para os socialistas “ter uma cura da oposição”.
Evocando “os valores do humanismo, da dignidade, da solidariedade” que disse ter na campanha, o líder social-democrata Paulo Portas, num discurso virado para o secretário-geral socialista socialista, Pedro Nuno Santos, e para aquilo que foi considerando como os perigos de uma eventual vitória do PS, relembrou que, nas recentes eleições para líder do partido, “o candidato que defendia acordos ao centro perdeu” enquanto “o candidato que defendia uma geringonça 2.0” e uma “guinada à esquerda” venceu. Por este motivo, o antigo dirigente centrista deixou um aviso:
“Ou a AD ganha as eleições ou teremos um primeiro-ministro mais esquerdista e com o BE e o PCP sentados no Conselho de Ministros”, que, na sua perspetiva, “seria o Governo mais radicalizado desde 1976”.
O termo geringonça foi adotado por Portas, aludindo a uma máquina desajeitada, quando PS, BE e PCP estabeleceram um acordo pós-eleitoral de governação, em 2015.
Apontando à direita, Paulo Portas referiu que, “de premeio, existe uma ameaça de moção de rejeição a um Governo da AD”, sendo que “o partido proponente diz-se de direita e pede apoio” a todos os outros partidos para “apoiar esta decisão”.
Para justificar a necessidade de estabilidade governativa em Portugal, Paulo Portas evocou o cenário internacional, com “três guerras em curso”.
“Portugal não está isolado no contexto externo” e “Portugal não tem nenhuma vantagem em acrescentar instabilidade cá à instabilidade lá fora”, frisou, avisando que “uma geringonça 2.0 incluiria parceiros no Conselho de Ministros que estão em rota de colisão com o que se passa lá fora”.
Alertando que, em 2024, “haverá um menor crescimento” da economia portuguesa, Portas lembrou que a inflação está agora mais baixa, “facto que se deve à independência dos bancos centrais”, defendeu, e que teve como efeito “ajudar o Ministério das Finanças a reduzir a dívida pública”.
“Daqui para a frente, Portugal só conseguirá reduzir a dívida na medida em que aumentar o seu crescimento”, avisou, prescrevendo que “os cidadãos deverão” equacionar “qual dos projetos de Governo está mais perto de conseguir mais confiança dos investidores” e “maior capacidade de reduzir a nossa dívida”.
“Não é muito difícil tirar uma conclusão”, afirmou, defendendo que “uma geringonça 2.0 gerará menos confiança, menos investimento, menor crescimento”. “O mesmo sucede se no dia 10 de março não fecharmos a crise e em vez disso abrirmos outra”, avisou.
Num balanço que implicou parafrasear o antigo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, Paulo Portas considerou que “há, portanto, uma pergunta que deve ser feita à inteligência dos eleitores”: “Estamos melhor ou pior do que há dois anos quando o PS recebeu a sua maioria?”
“Está pior a saúde, está pior a educação” e “está pior a segurança”, respondeu a si próprio, sublinhando que “estão mais sacrificadas as forças de segurança a quem devemos o respeito pela lei e pela ordem”. “Está pior a execução dos fundos e está pior a contingência com quem temos de executar o Plano de Recuperação e Resiliência”, sublinhou.
“Na maioria dos critérios de avaliação é evidente que Portugal ficou pior com o início da maioria do PS”, criticou. “Estamos onde sempre estivemos.”
Referindo-se a “uma operação de prestidigitação política que deixa qualquer português intrigado, para não dizer assombrado”, Paulo Portas comparou o PS a “um grupo de marcianos que não viveram neste planeta nem neste país e não estiveram sentados no Conselho de Ministros nos últimos oito anos e querem apresentar-se como turistas”.
Criticando Pedro Nuno Santos em vários pontos, acusando-o de não ver, não se lembrar e de não estar lá, o antigo dirigente centrista disse que, durante a governação do PS, “a carga fiscal aumentou muito e não aumentou a eficiência dos serviços públicos” “Pedro Nuno Santos não se lembra, não leu, não estava lá”, rematou.
“Não sabia das condições de indemnização à gestora da TAP, não sabia das condições em que a gestora foi contratada, não sabia da compra de ações clandestina dos CTT”, questionou de forma retórica. “Sabia”, afirmou, recuperando a ideia de que “quem colocou no memorando da Troika a privatização dos CTT e da TAP foi um Governo do PS”.
“Termino como comecei: Vamos lá mudar isto”, concluiu.
Já o líder do CDS, Nuno Melo, começou por responder à acusação do dia anterior proferida pelo presidente do Chega, André Ventura, que garantiu que a AD iria viabilizar um Governo minoritário do PS. “Um Governo da AD é o único que vamos viabilizar”, começou por dizer Nuno Melo, estendendo, pouco depois, as suas críticas às medidas propostas pelo Bloco de Esquerda.
Melo afirmou que, com a coligação entre centristas, sociais-democratas e monárquicos, o interesse de Portugal supera o de cada um dos partidos que compõem a AD, enquanto apontava as baterias para o Bloco de Esquerda (BE) e para o Chega.
“O BE de esquerda propôs impostos sobre banca e lucro das gasolineiras e o Chega copiou as medidas”, criticou, acrescentando que “os lucros não vão ser pagos pelas gasolineiras, vão ser pagos pelos contribuintes , por todos nós”.
Apontando o dedo às medidas fiscais propostas pelo BE, que acusou de terem sido copiadas pelo Chega, Nuno Melo considerou que a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, com André Ventura, “têm capacidade para levar Portugal à bancarrota, tal como José Sócrates, só que mais rápido”.
Com o discurso dirigido para aquele que classificou como o “adversário principal”, o Partido Socialista, Nuno Melo não poupou nas acusações. “Quando a inflação disparou, [o PS] não atualizou os escalões do IRS”, na mesma medida em que, “quando a taxa de juros dos créditos à habitação disparou não aceitou deduzir o pagamento desses encargos em sede de IRS”, vincou.
O PS “desdobra-se em promessas em épocas de eleições”, por isso “o PS merece perder as eleições por princípio e por razão de decência”, defendeu. “É pelos oito anos que este Partido Socialista não merece vencer as eleições”, rematou.
“Em oito anos em Portugal, com o PS batemos todos os recordes de impostos sobre o trabalho, sobre as empresas e sobre o consumo”, acusou, afirmando que a “classe média foi vergastada, reduzida nos seus rendimentos”. Por tudo isto, o líder centrista disse que aquilo que o PS considerada ser “justiça fiscal” é “extorsão tributária”.
“O socialismo é inimigo do mérito e do esforço”, continuou, sustentando que “só é bom a cobrar e a proibir”. Numa referência à censura durante o Estado Novo, Nuno Melo acusou o PS de passar um “lápis azul” com o objetivo de “dizerem às pessoas o que podem fazer e não podem fazer”.
“Se Pedro Nuno Nuno Santos vencesse as eleições, pagaríamos cada vez mais impostos”, disse.
“Votar neste PS é mais ou menos como comprar um bilhete para viajar no Titanic, mas sabemos que vai afundar”, concluiu.
Não integrando as fileiras oficiais do PSD, o antigo primeiro-ministro social-democrata Pedro Santana Lopes aludiu a dos elefantes na sala, que era a ausência do último chefe de um governo do PSD, Pedro Passos Coelho.
“Os partidos que nasceram agora não têm esse problema”, disse, referindo-se à história do PSD e do facto de haver vários antigos líderes.
“Alguns [partidos] têm o mesmo líder desde que nasceram. O Dr. Luís Montenegro vai gerindo como é que vai convidando outros líderes”, afirmou.
“Não tenho concordado com todos os pontos do caminho de Luís Montenegro”, explicou, antes de convocar as hostes sociais-democratas para seguirem Montenegro.
“É tempo de pormos o exército ao lado do líder e seguirmos a estratégia que ele decidiu”, vincou. “Como dizia no outro dia Pedro Passos Coelho, e muito bem, este é o tempo de quem comanda, de quem lidera neste momento”, lembrou, voltando a referir que “a discordância é legítima”.
Antes de atacar o PS, Santana Lopes virou-se para o CDS. “Fico muito satisfeito por o CDS- PP voltar à Assembleia da República. Se me permites, Nuno Melo, é um grande serviço que o PSD presta a Portugal. Temos de dar graças a Deus por ser possível reeditar esta coligação”.
Virado para os socialistas, Santana Lopes lembrou que “quem chamou a Troika foi [o antigo primeiro-ministro do PS] José Sócrates e [o antigo ministro das Finanças] Teixeira dos Santos”. “Foram eles que chamaram a Troika”, afirmou, contrapondo que “Passos Coelho e Paulo Portas e o governo da AD […] salvou o país ao lado de Passos Coelho”.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal