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Médicos mantêm greve. Negociações retomadas na próxima semana

A uma altura que o Serviço Nacional de Saúde enfrenta uma crise nos serviços de urgência devido à recusa de mais de 2.000 médicos em fazerem horas extraordinárias, além das 150 obrigatórias, o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos estiveram esta tarde reunidos com a tutela, um mês depois da última ronda negocial extraordinária, que terminou sem acordo.

No final, o ministro da Saúde disse que as negociações com os sindicatos dos médicos serão retomadas na quinta-feira, uma vez que a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) decidiu manter a greve na próxima semana. 

A proposta de Pizarro aos sindicatos prevê um suplemento de 500 euros mensais para os médicos que realizam serviço de urgência e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais.

“Respeitando uma decisão da Fnam de manter uma greve marcada para a próxima semana, a próxima reunião de negociação ficou agendada para quinta-feira”, afirmou Manuel Pizarro, em declarações aos jornalistas no final da reunião negocial com os sindicatos representativos dos médicos.

A paralisação de dois dias, em 17 e 18 de outubro, já tinha sido convocada pela Fnam em setembro e, segundo o ministro da Saúde, a reunião de hoje não alterou as intenções da federação sindical.

“Pela parte do Ministério da Saúde, estávamos disponíveis para voltar à mesa de negociação para aprofundar este trabalho ainda mais cedo. Isso era melhor para o Serviço Nacional de Saúde e também para os médicos, mas temos que respeitar a vontade do sindicato de concretizar mais uma jornada de greve”, salientou.

Questionado se a decisão da Fnam demonstra algum afastamento em relação a um acordo com a tutela, Manuel Pizarro disse que “a pergunta tem de ser feita a quem decide manter uma greve num cenário em que há progresso claro nas negociações e há uma enorme manifestação de abertura nas negociações”.

Na proposta apresentada aos sindicatos, o Ministério prevê um novo modelo remuneratório e um suplemento de 500 euros mensais para os médicos que realizam serviço de urgência e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais.

“Estamos a propor algo que teve como prioridade melhorar o acesso dos portugueses à saúde e requalificar o Serviço Nacional de Saúde. É uma proposta de enorme também na valorização da profissão médica”, defendeu o ministro.

“Sinais encorajadores”, diz o SIM

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) considerou que há “sinais encorajadores” na proposta negocial apresentada hoje pela tutela e reafirmou a “total disponibilidade” para chegar a acordo, particularmente, numa altura de “grande perturbação” no Serviço Nacional de Saúde.

“Há sinais que nós achamos que são encorajadores, porque finalmente foi feita uma proposta objetiva em relação aos vários regimes de trabalho e a um conjunto de questões que tínhamos colocado, nomeadamente, na carga de trabalho necessária, na própria organização dos serviços, que nos fazem pensar que foi uma reunião finalmente positiva”, disse o secretário-geral do SIM.

Adiantando que ficou marcada uma nova reunião para a próxima quinta-feira, Jorge Roque da Cunha disse que só poderão dar a sua “opinião definitiva” depois de analisar detalhadamente a proposta, mas adiantou que reafirmaram no encontro “a total disponibilidade para chegar a um acordo, particularmente, neste momento de grande perturbação do Serviço Nacional de Saúde”.

Novo modelo remuneratório para as urgências

No documento entregue aos sindicatos, a que agência Lusa teve acesso, o Ministério da Saúde propõe “um novo modelo remuneratório” para os médicos que realizam urgências, estimando-se que 7.470 especialistas estejam no regime de 40 horas semanais, 461 no regime de 42 horas (dedicação exclusiva), 333 estão nas 35 horas semanais e 36 no regime de 35 horas (dedicação exclusiva).

Segundo o novo modelo, os médicos que prestam serviço nas urgências passam por poder optar pelo regime de 35 horas semanais, da dedicação plena (35 horas mais 5 horas) ou manterem-se nas 40 horas por semana.

A proposta do Ministério da Saúde iguala o salário base dos médicos (3.025 euros), representando um aumento de 5,5%, contra os 3,6% apresentados na última proposta e que mereceu a contestação dos sindicatos.

Se optarem pelas 35 ou 40 horas semanais, os médicos terão além deste aumento de 5,5%, o suplemento de urgência (500 euros), o que se traduzirá num aumento de 23,1%, enquanto os que escolherem a dedicação plena terão ainda um suplemento de 25%, elevando o aumento para 49,5%.

Por exemplo, os médicos especialistas no início de carreira (assistentes) que optarem pela dedicação plena passam a ter um rendimento bruto de 4.280,31 euros e o assistente graduado sénior de 6.025,1 euros brutos.

O Ministério da Saúde frisa que o regime de dedicação plena, que é voluntário, visa uma “melhor organização dos serviços hospitalares” e a “redução do recurso a horas extraordinárias”.

No âmbito deste regime, os médicos terão que fazer um período de atividade assistencial por semana à tarde ou um sábado de manhã por mês, tendo um dia útil em que não trabalham, sem prejuízo do horário de trabalho.

Os médicos que preferirem manter o regime das 40 horas mantêm o descanso compensatório de oito horas, com prejuízo do horário de trabalho.

Relativamente aos médicos que não realizam serviço de urgência, a proposta refere que se quiserem aderir à dedicação plena terão um aumento salarial de 32%, sendo o objetivo obter uma melhor organização dos serviços hospitalares e o aumento da atividade assistencial (mais dois milhões de consultas por ano).

Relativamente aos 10 mil médicos internos no SNS, a proposta prevê um aumento 2,9% para os que estão na formação geral, que passam a receber 1.701,78 euros brutos, de 4,8% para o que estão nos três primeiros anos de formação (2.017,58 euros) e de 9,7% a partir do quarto ano da especialidade (2.228,11 euros).

Além da remuneração base, os jovens médicos vão beneficiar durante o internato da isenção do IRS e de um aumento de 697 euros equivalente ao valor das propinas que será devolvido a todos os jovens que ficarem a trabalhar em Portugal.

Quanto aos cuidados de saúde primários, a proposta, que já foi apresentada aos sindicatos, mantém-se, referindo que um médico que passar de uma Unidade de Saúde Familiar (USF) modelo A para uma USF modelo B tem uma “aumento mínimo de 60%” e uma média de 1.700 utentes.

O documento refere ainda que a negociação das condições dos Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) da urgência será aberta em novembro.

Segundo os dados, há atualmente 10 mil internos no SNS, 6.350 médicos nos cuidados de saúde primários e 15.300 nos hospitais.

Vários hospitais do país estão a enfrentar dificuldades em garantir escalas completas das equipas, sobretudo para os serviços de urgência, devido à recusa dos médicos a fazer mais do que as 150 horas extraordinárias anuais previstas na lei.

Num levantamento feito na semana passada sobre a entrega de minutas de recusa de horas extraordinárias, a Federação Nacional dos Médicos salientou que a situação está a provocar encerramentos e constrangimentos nos serviços de urgências, mas também nas escalas de outros serviços hospitalares.

As negociações entre Governo e os sindicatos dos médicos iniciaram-se em 2022 sem que as partes tivessem chegado a um consenso sobre matérias fulcrais como a nova grelha salarial e o novo regime de dedicação plena. No decorrer das negociações, os sindicatos convocaram várias greves para mostrarem o descontentamento face ao impasse.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: David Tiago / Global Imagens