O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa desmaiou esta quarta-feira, pouco depois das 15h00, num evento na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT-UN), na Costa de Caparica, e foi transportado numa ambulância dos Bombeiros da Trafaria para o Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide (concelho de Oeiras).
O chefe de Estado teve ao início da noite e até falou aos jornalistas. “Aconteceu-me o que aconteceu em 2018. Eu não costumo almoçar, depois fui a conduzir, a cerimónia deu-se e antes da parte dos discursos propuseram-me um brinde com moscatel. Eu disse que tomaria depois dos discursos e tomei o moscatel quente. Depois tive os mesmos sintomas que tive em Braga, uma quebra tensão repentina, comecei a ver tudo muito distante, tentei afastar-me e evitei desmaiar mas já não consegui. Foi muito rápido”, contou.
“Trago um Holter comigo até amanhã. Espero nos próximos cinco anos que isto não volte a acontecer. Recomendaram-me a beber mais água, bebo pouca, e não tomar bebidas que sejam muito energéticas”, prosseguiu, deixando agradecimentos aos bombeiros da Trafaria e ao Hospital de Santa Cruz. “É uma prova da excelência do SNS”, frisou.
“Disse ao primeiro-ministro: ‘dou-lhe uma tristeza, ainda não é desta que eu morro. Estamos sempre a brincar para ver quem faz o elogio fúnebre um do outro”, prosseguiu, revelando ter dito a um “candidato a candidato a Belém” que ainda não era altura de começar a fazer campanha eleitoral.
Indisposição após visita
Inicialmente, fonte oficial da Presidência da República disse que o PR “teve uma indisposição após uma visita na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e foi ao Hospital de Santa Cruz por precaução”. Belém diz que transmitirá “mais informação” assim que existirem mais desenvolvimentos.
Refira-se que o primeiro-ministro António Costa interrompeu mesmo uma visita a uma fábrica, em Nelas, para saber mais pormenores do estado de saúde do Presidente da República e já afirmou aos meios de comunicação social que “não vale a pena pedir ao Presidente da República para abrandar porque isso não faz parte do seu estado de espírito”.
Em outubro de 2019, Marcelo tinha sido operado no Hospital de Santa Cruz onde realizou um cateterismo cardíaco.
“Telefonou-me da ambulância”
A deslocação do Presidente à FCT-UN não foi divulgada previamente à comunicação social. Marcelo esteve acompanhado da ministra da Ciência, Elvira Fortunato.
Esta não é a primeira vez que o PR desmaia num evento público. Em junho de 2018, desmaiou após uma visita ao Santuário do Bom Jesus em Braga, explicando mais tarde que se deveu a uma intoxicação alimentar que lhe causou desidratação.
A 15 de dezembro de 2021, Marcelo tinha operado a duas hérnias inguinais no Hospital das Forças Armadas.
Pelas 16h10, o chefe da Casa Civil do Presidente, Fernando Frutuoso de Melo, confirmou aos jornalistas, à porta do Hospital de Santa Cruz, que Marcelo “desmaiou” mas recuperou os sentidos ainda na ambulância e até lhe telefonou. “Ligou-me ainda na ambulância” e está “bem disposto”, sendo que não queria cancelar a agenda da tarde.
O Presidente da República, acrescentou, passará as próximas horas no hospital a “fazer exames”. Frutuoso de Melo tentou desdramatizar o acontecido: “É coisa que acontece a muito boa gente.”
Segundo disse, o Presidente da República terá desmaiado por causa do “calor” ou “porque não tinha almoçado” ou ainda devido a uma “agenda pesada”.
Costa diz que “não vale a pena pedir ao Presidente para abrandar”
Também António Costa revelou que já falou com o Marcelo Rebelo de Sousa. “Liguei para o chefe da Casa Civil e para minha surpresa quem me atendeu foi o Presidente da República. Está bem disposto e com sentido de humor, Não sou eu quem vai estragar o otimismo do Presidente da República. Como sabem, no nosso acordo, o otimista sou eu”, afirmou, revelando na altura que o chefe de Estado “está muito otimista de que poderá ter alta hoje ao final do dia, algo que veio mesmo a acontecer.
Questionado sobre a densidade da agenda de Marcelo, o primeiro-ministro diz que “não vale a pena pedir ao Presidente da República para abrandar porque isso não faz parte do seu estado de espírito”.
Costa disse ainda que o chefe de Estado não lhe pareceu “preocupado” com o próprio estado de saúde.
“Presidente da República está igual a si próprio”
O médico Miguel Mendes, do Hospital de Santa Cruz, disse aos jornalistas a meio da tarde que tinha “muito boas notícias”. “O Presidente da República está muito bem, normal, a falar connosco, na plena posse das suas capacidades. A situação é benigna, explicada pelo calor, e os exames tiveram resultados normalíssimos”, afirmou o clínico.
O médico referiu que a situação “é muito semelhante a uma quebra de tensão” e não está relacionada com o cateterismo realizado em outubro de 2019. “O Presidente da República está igual a si próprio”, frisou.
Já o médico da Presidência da República, Daniel de Matos, disse que o desmaio “é sempre uma coisa aparatosa” mas que não havia razão para se esperar “uma coisa grave”.
“A situação é pacífica”, referiu, conformado com o facto de Marcelo Rebelo de Sousa não abrandar. “Não há nada a fazer. Reconheço a minha incapacidade em abrandar a hiperatividade do Presidente da República. Está em condições de falar convosco já, nós é que não deixamos”, disse aos jornalistas, referindo que a agenda do chefe de Estado para os próximos dias não está cancelada.
Montenegro acredita que indisposição “não passou de um susto”
O líder do PSD, Luís Montenegro, falou ao telefone com o Presidente da República, que está “muito bem disposto e confiante”, dizendo acreditar que a sua indisposição “não passou de um susto”.
À entrada para uma reunião com Ordens profissionais do setor da saúde, Luís Montenegro foi questionado pelos jornalistas se já tinha falado com Marcelo Rebelo de Sousa, que se encontra a fazer exames clínicos no Hospital de Santa Cruz, depois de ter tido uma indisposição.
“Sim, acabei de falar há alguns minutos com ele, testemunhando via telefone que se encontra muito bem-disposto, muito confiante, a fazer alguns exames que são necessários”, disse.
Montenegro aproveitou para endereçar publicamente ao chefe de Estado o desejo que se possa “restabelecer muito rapidamente e retomar a normalidade da sua vida”.
“Como sabemos, é muito preenchida e com uma agenda muito intensa. Estou em crer que não passou de um susto”, acrescentou o presidente do PSD.
Questionado se o Presidente lhe transmitiu mais detalhes médicos sobre o seu estado, respondeu negativamente.
“Embora o Presidente da República seja muito dado ao conhecimento médico, não entrámos nessa conversa. Senti-o muito bem-disposto, tranquilo, sereno, apenas a aguardar o resultado dos exames”, afirmou.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Manuel de Almeida / LUSA