O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu na última segunda-feira a “reforma das instituições internacionais”, em concreto as “financeiras” e o Conselho de Segurança da ONU, para que seja possível construir a paz, ligando estas duas urgências ao respeito pela carta das Nações Unidas.
“Não há reforma das instituições sem respeito pela carta das Nações Unidas”, disse Marcelo durante a sua intervenção na 78.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), um dia antes de participar no Conselho de Segurança aberto onde falará em exclusivo sobre a guerra na Ucrânia.
“É urgente reformar as instituições, concebidas no século passado, que estão totalmente afastadas da realidade do mundo atual”, apelou o Chefe de Estado na sua quinta intervenção na Assembleia Geral da ONU, criticando o facto de, “ano após ano”, os líderes mundiais fazerem promessas naquela sessão plenária sem as cumprirem.
“É tempo de cumprir”, destacou. Sem esta reforma, continuou Marcelo, “não há multilateralismo possível, não há cooperação duradoura, não há paz, um pouco por todo o mundo”.
O apelo à reforma das instituições – em concreto o próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas, e as “instituições financeiras” internacionais – manteve-se ao longo da intervenção do Presidente da República, aludindo à intervenção do seu homólogo brasileiro, Lula da Silva, que defendeu que “a maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento”.
“Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria tornar-se o objetivo síntese da Agenda 2030”, considerou o presidente do Brasil. Por este motivo, advertiu Marcelo, “não é possível construir a paz” sem acelerar “os objetivos de desenvolvimento para 2030”.
Na perspetiva do Chefe de Estado português, “cada dia perdido é mais um dia de desigualdade, de egoísmo, de conflito, de guerra” e, por outro lado, cada dia ganho é mais um dia de “justiça, solidariedade e paz”.
Um dia antes de discursar no Conselho de Segurança da ONU, onde Marcelo se debruçará em exclusivo sobre a guerra na Ucrânia, o Presidente português afirmou que aquele órgão das Nações Unidas “corresponde a um mundo que já não existe”. Por este motivo, Marcelo vincou que Portugal defende que “Brasil e Índia deviam ser membros permanentes” do Conselho de Segurança.
Proteção do ambiente
“Portugal defende a luta contra as alterações climáticas, indo à frente na descarbonização”, da mesma forma que mantém como objetivos fundamentais a “proteção do oceano” e a reforma das “organizações financeiras internacionais”, sublinhou o Presidente português.
“Não desistiremos de defender o secretário-geral das Nações Unidas”, António Guterres, lembrou o Chefe de Estado, destacando a importância de respeitar a Carta das Nações Unidas.
Marcelo Rebelo de Sousa deu Portugal como exemplo, referindo o “acordo de conversão” da dívida pública “num fundo de proteção ambiental”, assinado com Cabo Verde, que permitirá o “desenvolvimento económico sustentável” desse Estado.
“Isto devia acontecer sistematicamente”, defendeu, acrescentando que o objetivo é alargar este acordo “a outros países da comunidade da língua portuguesa”.
Marcelo fez votos para “que daqui a um ano, seja possível dizer que há mais paz do que guerra” mais justiça do que injustiça e “mais reforma das instituições financeiras”.
“Se assim não for”, acrescentou o Presidente da República, “continuaremos a ouvir sempre os mesmos, e tantos deles muito influentes, a prometerem e a não cumprirem, e perceberemos por que é que os povos acreditam cada vez menos naqueles que os governam”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Timothy A. Clary / AFP