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Lula volta à presidência do Brasil 12 anos depois, em um país dividido

Luiz Inácio Lula da Silva é o novo presidente do Brasil. Na mais disputada eleição desde a redemocratização do país, em 1985, o candidato do PT foi declarado vencedor da eleição presidencial, sucedendo a Jair Bolsonaro, do PL, seu adversário na noite deste domingo, dia 30. Lula tinha 50,90% dos votos. Bolsonaro, 49,10%, com 99,97% das secções contadas. Uma diferença de um pouco mais de dois milhões de votos de um total de pouco mais de 124 milhões de eleitores.

“Não é uma vitória minha ou do PT, mas de um imenso movimento democrático, que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”, disse Lula, em discurso num hotel de São Paulo. “As eleições têm um único vencedor: o povo brasileiro”, continuou, ao lado de Geraldo Alckmin, eleito vice-presidente, da antiga presidente Dilma Rousseff, da candidata Simone Tebet e muitos outros apoiantes.

“Estou aqui para governar esse país numa situação muito difícil. Mas tenho fé que com a ajuda do povo, nós vamos encontrar uma saída para que esse país volte a viver democraticamente, harmonicamente. E nós possamos, inclusivamente, restabelecer a paz entre as famílias, os divergentes, para que possamos construir o mundo que nós precisamos”.

“O Brasil é a minha causa, combater a miséria é o combate da minha vida”.

“A vida inteira sempre achei que Deus fosse muito generoso comigo para permitir eu sair de onde saí para chegar onde cheguei. Nós não enfrentamos um adversário, um candidato, enfrentamos a máquina do estado brasileiro colocada a serviço de um candidato”, prosseguiu.

E a propósito do seu passado político recente acrescentou: “Eu ressuscitei. Tentaram enterrar-me vivo mas eu estou aqui”.

Lula, 77 anos, volta ao cargo que ocupou de 2003 a 2010, com índice de aprovação à saída superior a 80%. Nascido em Garanhuns, no Estado de Pernambuco, no nordeste do país, migrou com a família, pobre, para o Estado de São Paulo, onde cresceu e se tornou metalúrgico, primeiro, e sindicalista, depois. Ganhou destaque nacional ao liderar greves no final dos Anos 70, e fundou, no início dos 80, o PT, pelo qual concorreu seis vezes à presidência. Perdeu as três primeiras, para Collor de Mello e para Fernando Henrique Cardoso, duas vezes, venceu as duas seguintes, a José Serra e a Geraldo Alckmin, e a atual.

Pelo meio, foi preso em 2018, no contexto da Operação Lava-Jato, e solto há menos de três anos, em novembro de 2019.

Além da eleição para a presidência da República, 52% dos brasileiros votaram ainda para o governo das respetivas unidades federais – em 12 delas foi necessária a realização de segunda volta, nas restantes 15, o governador foi eleito logo a Em São Paulo, a mais rica e populosa de todas, a vitória foi do bolsonarista Tarcísio de Freitas, do Republicanos, sobre Fernando Haddad, do PT.

O dia da eleição foi marcado por quase 600 ações da Polícia Rodoviária contra autocarros disponibilizados gratuitamente na Região Nordeste. Silvinei Vasques, diretor da Polícia Rodoviária e eleitor bolsonarista, foi intimado pelo tribunal a dar explicações – a gratuitidade dos autocarros, supostamente, beneficiava os eleitores de Lula, por norma mais vulneráveis financeiramente.

“As operações realizadas foram, segundo o diretor da Polícia Rodoviária, realizadas com base no Código de Trânsito brasileiro, ou seja, um autocarro com pneu careca, outro com farol quebrado, mais um sem condições de rodar eram abordados e era feita a autuação”, afirmou Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

“Isso, nalguns casos, retardou a chegada dos eleitores à secção eleitoral, mas, em nenhum caso, os impediu de chegar”, assegurou.

O PT, de Lula, chegou a equacionar pedir adiamento da eleição. “Essa operação da Polícia Rodoviária não foi normal, concentrada no nordeste, só lá há autocarros ou carros com problemas no pneu ou irregularidades? Por que razão fazer isso no domingo das eleições?”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do partido.

“E só se preocuparam hoje? O que aconteceu foi criminoso. O povo do nordeste precisa ter o direito de votar livremente”, rematou.

Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo, noticiou que a operação foi combinada no Palácio da Alvorada pelo staff do presidente e por Silvinei Vasques na quinta-feira, 27.

Voto dos candidatos

Bolsonaro votou de manhã, na Vila Militar, zona oeste do Rio de Janeiro. Ao final, mostrava otimismo. “Tivemos boas notícias nos últimos dias. Se Deus quiser, seremos vitoriosos hoje à tarde. Ou melhor, o Brasil será vitorioso”. Em seguida, o candidato à reeleição foi à Base Aérea do Galeão receber a delegação do Flamengo, acabada de chegar de Guayaquil, no Equador, com a terceira Taça dos Libertadores nas mãos, o que levantou protestos por poder ser considerado ato de propaganda, proibido no dia da eleição.

Lula, por sua vez, exerceu o seu dever em São Bernardo do Campo, arredores de São Paulo. “Acho que é um dia muito importante para o povo brasileiro, porque hoje o povo está definindo o modelo de Brasil, o modelo de vida que ele quer”.

“Por isso é o dia mais importante da minha vida, porque eu me coloquei candidato nesse dia e estou convencido de que o povo brasileiro vai votar num projeto em que a democracia seja vencedora”, concluiu.

Na primeira volta, há três semanas, Lula teve 48,43% dos votos e Bolsonaro, 43,20%A terceira mais votada foi Simone Tebet, com 4,16%, e o quarto, Ciro Gomes, preferido de 3,04%.

Na segunda volta, Tebet, do MDB, declarou apoio a Lula e participou ativamente na campanha do antigo presidente. “Que a vontade do eleitor seja acatada e, seja qual for o resultado, estamos prontos para defender a democracia e o país. É um dia de paz, de serenidade. Espero que, a partir de amanhã, tenhamos um país a ser reconstruído e um povo novamente unido. Fico muito feliz de ter a coragem de estar do lado certo da história”, disse a senadora ao votar, no Mato Grosso do Sul.

O PDT, partido de Ciro, também apoiou Lula, mas o quarto classificado não chegou a verbalizar o nome do candidato ao confirmar na hora do voto: “Tenho um grande respeito e gratidão pelo PDT, especialmente pelo [presidente do partido] Carlos Lupi e segui a orientação do partido”, afirmou Ciro ao votar, em Fortaleza.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Sebastião Moreira / EPA