O presidente brasileiro, Lula da Silva, falou na última sexta-feira ao telefone com o homólogo russo, Vladimir Putin, e recusou um convite para visitar a Rússia por ocasião do Fórum Económico Internacional, que terá lugar em São Petersburgo.
“Agradeci o convite (…) e respondi que não posso ir à Rússia neste momento”, escreveu Lula no Twitter. O presidente reiterou, contudo, a disponibilidade do Brasil, junto com a Índia, a Indonésia e a China, em falar com Moscovo e Kiev de forma a ajudar a encontrar uma solução para a paz.
O presidente brasileiro causou polémica quando, no final de uma visita à China, no mês passado, defendeu que “os EUA devem parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz” e “a União Europeia deve começar a falar de paz”.
Na prática, acusava o Ocidente de incentivar, com o fornecimento de armas à Ucrânia, a continuação da guerra. Washington reagiu acusando-o de “papaguear” a propaganda russa e chinesa, sem estudar “os factos”. E em resposta, Lula esclareceu defender uma “solução política e negociada” para a guerra, condenando também a “violação da integridade territorial” da Ucrânia.
Lula tem procurado um papel de mediador na guerra, mas o facto de ter dito que Kiev e Moscovo eram igualmente responsáveis pelo conflito não foi bem visto. Declarações que também suavizou, durante a visita que fez a Portugal, explicando que a Ucrânia era “a grande vítima da guerra”.
O presidente brasileiro disse no início da semana ter ficado “chateado” por não se ter encontrado com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, à margem da cimeira do G7 em Hiroxima, no Japão, para a qual foram convidados.
Ambos os líderes citaram conflitos de agenda como a razão para não ter sido possível o encontro – Zelensky reuniu com uma dezena de líderes em apenas dois dias – com o ucraniano a dizer, em tom de brincadeira, que talvez tivesse “dececionado” o brasileiro.
“Eu não fiquei dececionado. Fiquei chateado porque eu gostaria de me encontrar com ele e discutir o assunto”, reagiu Lula. “O Zelensky é maior de idade. Ele sabe o que faz”, acrescentou, dizendo que um encontro estava agendado para domingo, mas foi cancelado porque Zelensky se atrasou e tinha o resto da agenda preenchida.
Na conferência de imprensa antes de deixar o Japão, Lula admitiu contudo que não merecia a pena encontrar-se com o ucraniano já que nem Zelensky nem Putin parecem querer a paz. “Um quer que o outro se renda. E render-se não é negociar. Ambos pensam que podem ganhar. Mas a paz só é possível se ambos os lados a quiserem”, disse.
“Obstáculos sérios”
O chefe da diplomacia russo, Sergei Lavrov, disse esta sexta-feira ao enviado especial chinês Li Hui que Moscovo está “comprometido com uma resolução politico-diplomática do conflito” mas há “obstáculos sérios” às negociações de paz, apontando o dedo à Ucrânia e ao Ocidente. A visita de Li Hui, que foi durante dez anos embaixador em Moscovo, surgiu depois de, no início do mês, ter estado com Zelensky em Kiev.
No campo de batalha, os mísseis russos atingiram uma clínica em Dnipro, matando pelo menos duas pessoas e causando ferimentos noutras 30. “Os terroristas russos mais uma vez confirmam o seu estatuto de combatentes contra tudo o que é humano e honesto”, disse o presidente ucraniano. O Ministério da Defesa russo alegou que o alvo eram depósitos de armas ucranianos e que todos foram atingidos.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse entretanto que visitará na quinta e sexta-feira o mais recente membro da NATO, a Finlândia, onde fará um discurso sobre a Ucrânia. Os chefes da diplomacia da Aliança Atlântica reúnem antes disso em Oslo, para preparar a cimeira de líderes em julho, em Vilnius.
A viagem de Blinken começa na segunda-feira na Suécia – que também quer aderir à NATO mas falta a luz verde da Turquia e Hungria.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Evaristo Sá / AFP