O escritor e músico brasileiro Chico Buarque de Holanda recebeu o Prémio Camões esta segunda-feira, numa cerimónia no Palácio Nacional de Queluz, presidida pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal, quatro anos depois de ter sido distinguido.
O Prémio Camões é o galardão de maior prestígio da língua portuguesa e presta homenagem a um escritor que, pela sua obra, contribua para o enriquecimento e projeção do património literário e cultural de língua portuguesa.
Chico Buarque foi escolhido em 2019, mas a cerimónia de entrega do prémio, prevista para abril de 2020, só agora se realizou, já que o anterior presidente brasileiro Jair Bolsonaro, visado por críticas do galardoado, se recusou a assinar o diploma necessário para o efeito.
Por isso, Lula da Silva afirmou que o convite para participar na cerimónia de entrega do prémio, no Palácio de Queluz, no concelho de Sintra, foi “uma oportunidade de corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos anos”, além de “um motivo de grande honra”.
“Finalmente a democracia venceu no Brasil e é por isso que estamos aqui hoje”, declarou o presidente brasileiro, entre criticas à “extrema-direita”, de Bolsonaro, que disse ter voltado a imprimir “obscurantismo e censura das artes” no país.
“Este prémio é a resposta do talento contra a censura”, sublinhou Lula da Silva, no seu discurso na cerimónia de entrega do prémio, a que presidiu, juntamente com o presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado brasileiro terminou o discurso num tom mais intimista, dirigindo-se ao “querido Chico” para lhe dar os parabéns e afirmar: “Ninguém merece este prémio mais do que você”, que fez da sua obra “uma declaração de amor à literatura portuguesa”.
Lula da Silva contou ainda, dirigindo-se a Chico Buarque, que quando era criança disse à mãe que queria cantar, escrever peças de teatro, “fazer tudo o que você faz” e ser nisso “o mais importante”.
A mãe respondeu-lhe que não podia ser, porque já tinha nascido um menino, chamado Chico Buarque, que ia ser “o mais importante” e que ele, Lula da Silva, se preparasse porque ia ser presidente.
Num discurso muito crítico para com o ex-presidente Jair Bolsonaro (que se recusou a entregar o prémio ao músico pelas suas posições políticas), Chico Buarque elogiou, ironicamente, “a rara fineza” que o antecessor de Lula da Silva teve ao “não sujar o prémio” com a sua assinatura (algo que António Costa, primeiro-ministro, aplaudiu, com Marcelo Rebelo de Sousa a não reagir).
Emocionado – e bem-disposto -, Chico Buarque agradeceu a distinção, e dedicou o prémio aos “humilhados por estupidez e obscurantismo” do governo “funesto”, que levou uma “eternidade a passar”.
Apesar do afastamento de Bolsonaro e da vitória de Lula, alertou para o perigo da “ameaça fascista”, que persiste no país e “um pouco por toda a parte”.
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a espera de quatro anos para a entrega do Prémio Camões a Chico Buarque, referindo que alguns “não gostaram” da sua atribuição.
“Meu caro amigo, me perdoe, por favor, essa demora”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se ao compositor, cantor e escritor brasileiro, citando versos de uma canção sua.
A cerimónia de entrega do prémio esteve integrada na visita oficial de cinco dias a Portugal do presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que começou na sexta-feira e termina esta terça-feira.
Fonte: Jornal de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Patricia de Melo Moreira / AFP