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“Liga saudita tem muita qualidade. Ronaldo não vai para lá ficar deitado a comer tâmaras”

A transferência de Cristiano Ronaldo para o Al Nassr deverá ser oficializada ainda esta semana. Muito se tem falado da alegada menor dimensão da Liga daquele país para acolher um nome desta dimensão e da possibilidade de o craque português poder perder estatuto e projeção. Mas para quem conhece bem o Campeonato Saudita, nenhum destes cenários se coloca.

Marcelo Salazar, diretor desportivo do Al Nassr, comentou ontem com cautelas o negócio: “Não estou autorizado a dizer nem sim, nem não. Vamos aguardar e ver o desenrolar das coisas até ao final do ano. Como devem perceber esta é uma negociação que tem uma magnitude enorme, não só para o clube, mas para o país e para o futebol mundial, e que tem de ser conduzida por instâncias superiores.

O DN falou com Hélder Cristóvão, treinador português que trabalhou em três clubes sauditas, incluíndo o Al-Nassr, onde foi diretor-geral da formação, diretor desportivo e treinador interino, e Filipe Gouveia, que atualmente treina o Al-Hazm.

“Já existe muita qualidade na Super Liga saudita e de ano para ano essa qualidade aumenta. Pensam que o Cristiano Ronaldo vai para lá para ficar deitado a comer tâmaras? Nada disso… vai ter de enfrentar excelentes defesas. E as equipas são bastante completas, normalmente com bons médios e atacantes que se distinguem pela velocidade”, analisa Hélder Cristóvão.

Por outro lado, com a chegada de CR7 antevê que “os outros grandes clubes decidam igualmente realizar grandes investimentos, atraindo bons jogadores e melhorando cada vez mais a Liga”.

Atualmente, Fábio Martins é o único futebolista português que joga na Liga saudita – assinou com o Al Khaleej na passada sexta-feira -, mas quatro treinadores estão no ativo em emblemas do país: Pepa, no Al-Tai, Quim Machado, ao serviço do Al-Orobah, Pedro Emanuel, no Al Khaleej, e o já referido Filipe Gouveia, no Al-Hazm.

Este último sublinha que “a chegada de Ronaldo trará uma grande credibilidade à Super Liga saudita, a todo o futebol e também ao próprio país, até se pensarmos em termos turísticos. E atenção, é uma mentira dizer-se que a Liga saudita não é competitiva. Há bons jogadores e quatro ou cinco clubes de grande dimensão. É sem dúvida a Liga mais forte desta zona do globo, à frente do Emirados Árabes, do Egito e de Marrocos”, sublinha.

Hélder Cristóvão tem a certeza de que Cristiano Ronaldo, quando chegar ao país, “irá ser recebido com honras de Estado, com todo o merecimento por tudo o que tem feito pelo futebol mundial”. E fala num “casamento desportivo e empresarial” entre o internacional português e o Al Nassr, “sendo o principal de uma série de grandes investimentos que o governo tem feito no âmbito do desporto”.

Curiosamente, o Al-Hazm, de Filipe Gouveia, enfrentou há poucos dias o Al Nassr, em jogo particular. “Tive oportunidade de falar com o presidente do clube, o senhor Musalli Al-Muammar, e ele estava completamente eufórico, em êxtase, ao falar-me da possibilidade de o Cristiano vir. Seria espetacular para o clube e, claro, para a própria Liga saudita, pois para mim, ele ainda é o melhor jogador do mundo”, confessa.

Filipe Gouveia garante que “tem havido um crescimento do futebol saudita de ano para ano, o que se deve, em muito, ao aumento do número de jogadores estrangeiros”. De resto, sublinha que “o número de estrangeiros permitidos por clube tem aumentado, esta época já vai em oito e na próxima temporada poderão ser nove”.

Hélder Cristóvão concorda que a melhoria de qualidade do futebol saudita “tem muito a ver com o crescente número de futebolistas estrangeiros”. Ainda assim, destaca que “o Al-Hilal foi o primeiro clube a perceber que se apostasse nos melhores sauditas estaria mais perto de ter sucesso, uma vez que os estrangeiros nem sempre se conseguem adaptar e, ao mesmo tempo, beneficiou do facto de os outros clubes terem descurado o jogador nacional”.

O Al-Hilal, recorde-se, é o Tricampeão Saudita em título – ganhou cinco dos últimos seis Campeonatos e venceu a Liga dos Campeões Asiática em 2019 e 2021.

O gigante Al Nassr e uma boa cidade para viver

Caso se confirme a transferência para o Al Nassr, CR7 irá juntar-se no plantel a dois nomes bem conhecidos dos portugueses: o ex-benfiquista Talisca e o ex-portista Aboubakar, embora não seja certo que este último continue no clube. “Cristiano Ronaldo poderá fazer uma boa parceria com ambos, principalmente com o Talisca, que tem sido uma das estrelas do Campeonato, desde que veio da China [em maio de 2021, proveniente do Guangzhou FC].

Hélder Cristóvão e Filipe Gouveia recorrem à palavra “gigante” para descrever o Al Nassr, sublinhando que se trata de “um dos maiores clubes sauditas”. Os seus últimos títulos de Campeão foram conquistados em 2013/14, 2014/15 e 2018/19. “Abri o caminho para esse último título”, destaca Hélder Cristóvão, que nessa temporada foi diretor desportivo e treinador interino durante três jogos, entre a saída de Daniel Carreño e a chegada de Rui Vitória.

Por outro lado, Filipe Gouveia refere que a Arábia Saudita é muito atrativa para os jogadores e treinadores estrangeiros, “que aqui não pagam impostos, ou seja, tudo o que se recebe vai direto para a conta, enquanto em Portugal um treinador paga 52% de impostos”.

Por outro lado, tem a certeza de que CR7 não terá dificuldades de adaptação ao país. “Eu vivo em Ar Rass, uma cidade ainda um pouco conservadora, em que as mulheres andam maioritariamente de burca, mas ele vai para Riade, a capital e maior cidade da Arábia Saudita, onde as mulheres andam menos tapadas e tem tudo o que existe numa grande cidade europeia. E certamente vai viver num condomínio privado, com todas as comodidades…”, diz.

O técnico acrescenta que “Cristiano Ronaldo terá apenas de se adaptar ao facto de aqui se viver a religião de forma muito intensa, com os treinos a não puderem coincidirem com as rezas, que acontecem quatro vezes por dia”.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: José Sena Goulão / Lusa