A escalada das taxas juro variáveis, indexadas à Euribor, tem provocado uma sangria nos orçamentos das famílias com crédito à habitação, já que 90% dos empréstimos foram contratualizados com este tipo de taxa.
Em julho, a prestação média dos novos contratos, celebrados nos últimos 12 meses, aumentou, num ano, 207 euros, traduzindo-se num agravamento de 54,8%, de 378 para 585 euros, o valor mais alto desde janeiro de 2009, início da série do Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo cálculos do Dinheiro Vivo com base no relatório publicado esta quinta-feira.
São os créditos recentes, celebrados no último ano, que mais sofrem com o rombo das taxas de juro. O impacto nos contratos antigos com mais de 10 anos, por exemplo, tem sido suave, porque boa parte do capital já foi amortizado.
Daí que a prestação média de todos os créditos tenha tido, em julho, um impulso homólogo menor, de 106 euros ou de 40,2%, passando de 264 euros por mês para 370 euros, ainda assim, um novo recorde da série estatística do INE.
Analisando, em concreto, a variação média da mensalidade destes contratos, que disparou para 585 euros, as taxas de juro implícitas, que estavam em 0,964%, em julho de 2022, deram um salto de 2,751 pontos percentuais para 3,715%, no mês passado, o valor mais alto desde setembro de 2014, quando país estava a tratar as feridas do resgate da troika.
No global, e contabilizando a média dos juros de todos os contratos, novos e antigos, os juros deram, em média, um pulo de 2,93 pontos percentuais, passando de 0,928% para 3,858%, um máximo desde abril de 2009.
Os altos níveis das taxas de juro surgem à boleia dos indexantes variáveis, os mais comuns nos créditos à habitação em Portugal, e que são influenciados pela subida da taxa diretora de referência do Banco Central Europeu (BCE).
Recorde-se que, em julho, a instituição liderada por Christine Lagarde, agravou novamente aquele indicador em 0,25 pontos percentuais, elevando-o para um novo máximo: 4,25%. Em setembro, o comité do supervisor do euro poderá decidir um novo aumento para forçar a inflação média do bloco da moeda única a baixar para 2%.
O índice de preços tem vindo a arrefecer há três meses consecutivos, mas ainda está nos 5,3%, bem acima da meta de 2%, segundo os últimos dados do Eurostat referentes a julho.
Confirmando-se, em setembro, a décima penalização consecutiva do BCE, as taxas Euribor, nomeadamente a 12 meses, que é o indexante mais utilizado, atualmente, nos empréstimos para compra de casa, deverão continuar a espiral de subidas.
Juros já pesam, em média, mais de 65% na amortização mensal. No ano passado, valiam pouco mais de um quarto ou 25,7% da prestação do crédito à habitação.
Se, em julho do ano passado, os juros pesavam, em média, pouco mais de um quarto, concretamente, 25,7% ou 97 euros, na prestação de 378 euros dos contratos celebrados nos últimos 12 meses, agora já corresponde a mais de 65% ou 381 euros da mensalidade de 585 euros.
Inversamente, o montante de capital amortizado tem diminuído. Há um ano, 74,33% ou 281 euros da prestação, de 378 euros, correspondia a efetivo pagamento da dívida. Atualmente, apenas 34,87% ou 204 euros dos 585 euros corresponde a capital amortizado. Isto significa que os mutuários estão a pagar mais ao banco, mas a saldar menos dívida.
Para as prestações médias de todos os contratos, o cenário é o mesmo. Em julho do ano passado, da mensalidade média de 264 euros, só 17,42 % ou 46 euros correspondiam a juros. Atualmente, mais de metade (55,13%) ou 204 euros da prestação, de 370 euros, destina-se ao pagamento de taxas.
O pagamento da dívida efetiva teve igualmente uma trajetória contrária. Em julho de 2022, 82,58% ou 218 euros da mensalidade média, de 264 euros, servia para amortizar capital, montante que, em julho deste ano, caiu significativamente para cerca de metade (44,86%).
Ou seja, dos 370 euros que as famílias pagam, em média, ao banco, só 166 euros foi canalizado para abater ao valor em dívida.
Em julho, e considerando a totalidade dos contratos, os mutuários deviam em média 63 555 euros, montante que subiu 3494 euros face ao período homólogo, o valor mais alto dos últimos 14 anos, isto é, desde 2009.
Nos créditos celebrados no último ano, o capital médio em dívida estava, no mês passado, em 124 986 euros, o que corresponde uma subida de 3502 em relação há um ano, mas uma descida comparativamente com os meses anteriores.
Entre novembro de 2022 e junho de 2023, o capital médio em dívida superou sempre os 125 mil euros para estes créditos.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: LUSA