Representantes dos lesados do Banco Espírito Santo estão esta terça-feira em protesto junto ao Campus de Justiça, em Lisboa, com um carro funerário onde colocaram uma fotografia de Ricardo Salgado, no dia do início do julgamento do caso BES.
O ex-banqueiro, entretanto, já está instalações do tribunal. Chegou debilitado e a andar muito lentamente, acompanhado do advogado e da mulher, e foi confrontado por alguns dos lesados.
A defesa pediu no início do julgamento para que o tribunal faça já a sua identificação formal, dispensando-o de seguida de ficar presente na sessão e de comparecer nas seguintes.
“Gostaria de requerer que procedesse à identificação e que a seguir o dispensasse de ficar na audiência e de comparecer nas seguintes”, afirmou o advogado Francisco Proença de Carvalho.
Voltando aos protestos, além da fotografia, podia ler-se no mesmo carro funerário, usado como forma de protesto: “Mataram as nossas poupanças agora é hora de justiça”.
A manifestação iniciou-se pelas 08:30 e atrás da carrinha estavam 16 pessoas vestidas de preto, de cara tapada, e com os nomes de lesados do BES que já morreram estampados nas camisolas.
Em frente ao Campus de Justiça, mas do outro lado da estrada, foram colocadas tarjas onde estavam escritas outras mensagens como “lesados Novo Banco” ou “exigimos a provisão”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação de Defesa de Clientes Bancários (ABESD), Francisco Carvalho, afirmou que a iniciativa tem como simbologia “chamar a atenção para as 1.900 vítimas que não tiveram qualquer tipo de solução”.
“São vítimas que perderam as poupanças de uma vida, porque acreditaram em duas entidades, a entidade do Banco Espírito Santo e a do Estado português, em que Portugal era um dos países seguros para fazer as suas poupanças, as suas aplicações, os seus depósitos. […] E o Estado não conseguiu assegurar essa boa supervisão e o Banco Espírito Santo cometeu um dos maiores crimes da história financeira portuguesa”, disse.
De acordo com Francisco Carvalho, o julgamento que se inicia esta terça-feira “é o reacender de uma esperança”.
“Nós acreditamos que a justiça pode ser lenta, mas é profunda. Acreditamos muito na justiça portuguesa. Acreditamos neste tribunal, em qualquer tribunal, estamos confortáveis, mas não podemos deixar de mostrar a nossa presença, usar a presença dos jornalistas como mediadores entre as vítimas, a sociedade civil e o país, porque isto é irrepetível. Isto começou há 14 anos, em que havia uma instituição perfeitamente podre e ninguém sabia”, precisou.
O julgamento do processo BES/GES começa Juízo Central Criminal de Lisboa, 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
Lesado confronta arguido Machado da Cruz à entrada do tribunal
Um lesado do BES confrontou esta terça-feira o arguido Francisco Machado da Cruz à chegada ao Juízo Central Criminal de Lisboa, travando a entrada do antigo contabilista do Grupo Espírito Santo (GES) para o julgamento do processo BES/GES.
“Sou lesado. Eu recebi zero. Devolvam o que é meu”, gritou Jorge Novo, de 68 anos, um dos lesados do papel comercial do BES e que tem comparecido frequentemente junto ao tribunal nos casos que envolvem o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
“Onde está a provisão para os lesados? O senhor Ricardo Salgado deixou uma provisão para os lesados… O Novo Banco tomou posse da provisão dos lesados”, protestou, perante o aparato mediático em torno da chegada de advogados e arguidos do processo.
Conhecido como “comissaire aux comptes” no seio do GES, Francisco Machado da Cruz foi o contabilista do grupo entre 2002 e 2014, tendo-lhe sido imputada a falsificação das contas da Espírito Santo International (ESI).
A situação de insolvência da sociedade seria do seu conhecimento desde 2009, atuando alegadamente com instruções de Ricardo Salgado para ocultar a dívida e manipular as informações financeiras.
Apesar de ter colaborado com as autoridades, Francisco Machado da Cruz foi acusado em 2020 da prática de 36 crimes, dos quais três já viram declarada a prescrição, restando assim 33 crimes: um de associação criminosa, um de corrupção passiva no setor privado, 20 de burla qualificada, cinco de branqueamento, quatro de manipulação de mercado e dois de falsificação de documento.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Tiago Petinga / Lusa