Apenas 15 segundos podem ser a diferença entre vida e morte para os habitantes de um ‘kibbutz’ de judeus brasileiros, que têm pouco tempo para se abrigar quando Israel e o movimento islamita Hamas trocam fogo de artilharia.
“É importante entender que aqui temos 15 segundos entre o momento em que dispara a sirene de alarme até à entrada no abrigo. Há locais mais próximos onde nem toca a sirene. Nesse caso ouve-se o míssil e depois é o ‘BUM’. Mesmo assim, 15 segundos é muito pouco tempo”, explica à Lusa Yanai Guilboa, de 60 anos, descendente de brasileiros que vive no Kibbutz Brur Hayil, situado a sete quilómetros a leste de Gaza.
Quando o movimentio islamita Hamas dispara foguetes de artilharia a partir de Gaza, é acionado o sistema de defesa anti-míssil.
Em Telavive, mais a norte, a margem de tempo para se procurar abrigo é de 75 segundos desde o momento em que soa a sirene e em Jerusalém o tempo de segurança é de 90 segundos porque a cidade fica mais afastada geograficamente.
“A distância é um jogo. Quanto mais perto (de Gaza), mais perigo existe”, diz o kibbutzzim (habitante de um kibbutz) Yanai Guilboa.
“Desde sábado, tocaram seis vezes as sirenes aqui no ‘kibbutz’. Lá em baixo, na cidade de Sderot, caíram mísseis (…) É guerra. Não é brincadeira”, afirma Guilboa, reforçando que as pessoas que habitam os pisos superiores das casas têm de ser ainda mais rápidas.
“Às vezes, eles [Hamas] atacam à noite. O meu filho tem de descer do segundo andar. É preciso correr para chegar em 15 segundos ao abrigo. É preciso acordar, correr, fechar a porta e ficar no abrigo”, frisa.
No interior do ‘kibbutz’, as casas têm abrigos de defesa e na cidade de Sderot estão instalados nas ruas pontos de proteção contra mísseis visivelmente assinalados.
Os habitantes da região têm igualmente procedimentos para o caso de estarem a conduzir automóveis nas estradas perto de Gaza.
“Nós estamos na esquina da Faixa de Gaza. O kibbutz é grande e ali passa uma estrada (…) Se as sirenes de alerta soarem, o condutor tem de parar a viatura. A seguir, os ocupantes devem ficar deitados no chão do lado direito do carro e esperar pelo menos um minuto”, diz ainda Yanni Guilboa.
O Kibbutz Brur Hayil, situado a sete quilómetros a leste da Faixa de Gaza, foi fundado em 1948 por quatro famílias judias que vieram do Egito e em 1952 chegaram os primeiros judeus do Brasil.
Atualmente vivem neste kibbutz cerca de mil pessoas, mais de metade das quais são descendentes dos fundadores.
Eugénia, uma outra habitante de Brur Hayil diz que nos últimos anos, era disparada pelo menos “uma bomba” por mês contra Israel, numa região onde estão instalados 25 kibbutz, mas desde o passado dia 07 de outubro a situação mudou.
“A gente tem tempo de correr. Mas no último sábado, os ‘diabos’, as ‘feras’, os ‘monstros’ entraram nos kibbutz e em cidades vizinhas e entraram nos abrigos”, diz Eugénia, que vive em Brur Hayil desde os 20 anos de idade.
“Os meus pais foram sobreviventes do Holocausto (durante a Segunda Guerra Mundial). Eu acho que não estou segura em nenhum lugar do mundo. Talvez em Portugal. Mas mesmo com tudo isto, eu não quero sair daqui. Eu não vou sair daqui”, declara.
Para Eugénia, a solução para o problema só pode ser possível se o “mundo inteirinho acordar” e deixar de apoiar o terror, retirando o poder “de facto” ao Hamas e ao grupo Estado Islâmico.
“Só quando eles deixarem de ter o poder de fazerem o que eles fazem: nem contra nós, nem contra o mundo e nem contra o povo deles”, conclui.
Os judeus socialistas marcaram a era pré-1948 e as primeiras décadas da existência de Israel, fundando comunidades (kibbutz) em torno de quintas de propriedade coletiva com “profund ligação à terra e com capacidades de auto-defesa.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Manuel de Almeida / LUSA