O Prémio Nobel da Paz foi esta sexta-feira atribuído à ativista e jornalista iraniana Narges Mohammadi, “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela sua luta para a promoção dos Direitos Humanos e a liberdade para todos”. Ela está detida, cumprindo atualmente uma pena de dez anos de prisão.
“Narges Mohammadi é uma mulher, uma defensora dos direitos humanos e uma lutadora pela liberdade. A sua luta corajosa pela liberdade de expressão e o direito à independência acarretou enormes custos pessoais. O regime no Irão já a deteve 13 vezes, condenou-a cinco vezes e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas”, lembrou o comité norueguês. Está atualmente detida na prisão de Evin por “espalhar propaganda”.
O comité quer, com este galardão, chamar também a atenção para “as centenas de milhares de pessoas que, nos últimos anos, se manifestaram contra o regime”, nos protestos após a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022, às mãos da polícia, por alegadamente estar usar de forma errada o véu islâmico.
No início do anúncio, a presidente do Comité Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen, repetiu o slogan dos protestos no Irão. “Mulher, vida, liberdade”, disse em iraniano.
“A sua morte desencadeou os maiores protestos políticos contra o regime teocrático iraniano desde que chegou ao poder em 1979”, lembrou a presidente, explicando como os protestos pacíficos foram reprimidos com violência, tendo havido pelo menos 500 mortes. Pelo menos 20 mil pessoas foram detidas.
“O mote adotado pelos manifestantes expressa de forma apropriada a dedicação e o trabalho de Narges Mohammadi”, defendeu Reiss-Andersen, referindo-se à galardoada deste ano, de 51 anos.
“Mulher: ela luta pelas mulheres contra a discriminação sistemática e opressão. Vida: ela apoia a luta das mulheres pelo direito de viverem vidas plenas e dignas. Liberdade: ela luta pela liberdade de expressão e pelo direito à independência e contras as regras que exigem que as mulheres fiquem fora dos olhares públicos e cubram os seus corpos”, indicou a presidente do Comité Nobel Norueguês.
Nos passos de outra galardoada
Narges Mohammadi estudou Física nos anos 1990, trabalhou como engenheira e colunista em vários jornais. Em 2003, envolveu-se com o Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização fundada pela laureada com o Nobel da Paz desse mesmo ano, Shirin Ebadi.
Em 2011, foi detida pela primeira vez pelos seus esforços para ajudar ativistas detidos e as suas famílias. Dois anos depois, após ser libertada, envolveu-se numa campanha contra a pena de morte no Irão. “O seu ativismo contra a pena de morte levou a nova detenção em 2015”, lembrou Reiss-Andersen, indicando que a partir de então se dedicou à oposição ao uso de tortura e agressão sexual contra os presos, nomeadamente as mulheres.
Apesar de detida, quando as manifestações começaram no ano passado, Narges Mohammadi expressou a sua solidariedade e organizou ações entre os detidos. “As autoridades prisionais responderam impondo ainda mais restrições, proibindo-a de receber visitas ou chamadas”, segundo Reiss-Andersen. “Ainda assim, conseguiu fazer passar um artigo que o The New York Times publicou no aniversário da morte de Mahsa Amini“, intitulado “Quanto mais nos prendem, mais fortes nos tornamos”.
“O impacto do prémio não é para o Comité Nobel para decidir. Esperamos que seja um encorajamento para continuar o trabalho, na forma que o movimento considere adequado”, disse a presidente do Comité, quando questionada sobre que impacto esperava que o prémio tivesse no Irão. Mas deixou uma mensagem para Teerão: “Oiçam o vosso próprio povo.”
Narges Mohammadi é a 19.ª mulher a vencer o Nobel da Paz em 122 anos de história e a primeira desde a jornalista filipina Maria Ressa, que venceu em 2021 em conjunto com o russo Dmitry Muratov – este ano havia 351 candidaturas.
A cerimónia de entrega do Nobel da Paz realiza-se a 10 de dezembro (no dia da morte de Alfred Nobel) em Oslo. Como Narges Mohammadi está detida, será difícil que esteja presente, apesar dos apelos do Comité Nobel para que seja libertada.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal
A vencedora recebe uma medalha de ouro, um diploma e um prémio monetário de 11 milhões de coroas suecas, um pouco menos que 950 mil euros.
O anúncio do vencedor foi feito em Oslo, na Noruega, num contexto em que a guerra na Ucrânia se arrasta há quase 19 meses e a comunidade internacional está fortemente fragmentada.
Em 2022, o galardão foi atribuído a Ales Bialiatski, da Bielorrússia, e às organizações de defesa dos direitos humanos Memorial, da Rússia, e Centro de Liberdades Civis, da Ucrânia.