Jovem atiradora sagrou-se Campeã Europeia de tiro com armas de caça e espera honrar tradição Olímpica. É a primeira mulher a conseguir presença nos Jogos Olímpicos na história da modalidade. Tem 22 anos, caça e está a tirar o mestrado em Medicina Veterinária.
pai, António Barros, era atirador e percorria Portugal para participar em provas nacionais, acabando por influenciar a filha, Inês, a seguir-lhe o caminho, que é como quem diz: pegar numa arma e partir pratos. Algo que só pôde fazer a nível competitivo aos 14 anos, idade permitida para tirar a carta de caça e daí derivar para a prática desportiva.
“Tinha um mês de vida quando viajei para os Açores onde o meu pai ia ter uma prova. Acho que esse foi o início de tudo”, contou ao DN Inês de Barros, que no domingo, se sagrou Campeã da Europa de tiro com armas de caça (trap/fosso Olímpico).
A jovem atiradora natural de Penafiel, conquistou uma inédita vaga Olímpica para o tiro português em Paris 2024: “Representar Portugal nos Jogos Olímpicos era mais do que um sonho, era um objetivo desde que comecei a atirar e a competir aos 14 anos e, agora que o realizei tão jovem, estou um pouco perdida – acho que ainda não assimilei muito bem o que consegui. Mais do que ser Campeã da Europa, saber que me apurei para os JO é algo superior ao Ouro Europeu.”
Afinal tem apenas 22 anos e conseguiu o que nenhuma outra atleta conseguiu em 111 anos: uma presença nos JO, prova que decorrerá em Paris entre 26 de julho e 11 de agosto de 2024.
Faz parte do projeto Esperanças Olímpicas Paris 2024 e não esconde que quer uma medalha já nos próximos Jogos Olímpicos, mas tem consciência de que, para isso, precisa “de trabalhar mais”. E há uma referência a ter em conta.
O tiro foi pioneiro da participação portuguesa (em Estocolmo 1912) e Armando Marques foi Medalha de Prata no fosso olímpico, em Montreal 1976. Desde então que o tiro procura um segundo pódio.
Inês fez ecoar A Portuguesa no Campeonato da Europa em Osijek, na Croácia, e ainda está nas nuvens, mas espera regressar ao lado mais racional assim que regressar ao Porto, na quinta-feira.
É preciso traçar rapidamente um plano para Paris 2024, juntamente com o treinador, o pai António Barros e o selecionador, porque faltam nove meses para o início dos Jogos e ela tem de os conciliar com os estudos.
No caso, talvez seja preciso colocar o mestrado integrado em medicina veterinária em stand-by. Tem dois treinos fixos por semana, com duas pranchadas (25 pratos cada uma) no mínimo.
Antes das provas intensifica as sessões, mesmo que isso signifique falhar aulas e exames na universidade, como aconteceu no verão de 2022 para estar nos Jogos do Mediterrâneo. Os Jogos Olímpicos exigirão muito mais, Inês sabe disso e promete empenhar-se como nunca.
Ouro Europeu aos 22 anos
Representa o Clube de Caçadores do Vale do Tâmega e sonha fazer carreira no tiro, modalidade com tradição Olímpica em Portugal. Em 2021 foi Medalha de Prata na disciplina de fosso Olímpico nos Mundiais Juniores e em 2022 foi 5.ª classificada no Campeonato do Mundo de tiro com armas de caça e Medalha de Prata nos Jogos do Mediterrâneo. O melhor estava guardado para este ano, com o Ouro nos Europeus.
No caso do tiro, quem ganha a quota é quem vai, a não ser que tenha de falhar por motivos de força maior. Por isso Inês de Barros fará história, como a primeira mulher a representar Portugal no tiro.
Um apuramento inédito, que ela espera valorizar: “É dizer que nós, mulheres, também estamos aqui, e ainda temos hipóteses de preencher a outra vaga. Acredito nisso e acredito que isto ainda vai melhorar muito e vai melhorar a imagem do tiro como desporto de homens.”
Inês levou a modalidade da família a um nível superior. Além do pai, tem duas irmãs – Carina e Helena – também praticantes e até a mãe Olinda lhe diz que se fosse um rapaz não tinha a mesma importância. Já o avô paterno, José Barros Ferreira, entrou no tiro desportivo pelo amor à caça.
Pode parecer um paradoxo, até porquê a caça implica matar um animal e a jovem Campeã Europeia caça e está a tirar um mestrado em Medicina Veterinária, mas ela defende uma caça ética e regulamentada que ajude à conservação da espécie e da natureza e ao controlo animal de vida selvagem e biodiversidade da região. É nisso que acredita.
No domingo, em Osijek, Croácia, depois de dois anos de pandemia de covid-19 com pouca prática, a atiradora arrecadou o Ouro, superando até a falta de verbas – o projeto Esperanças Olímpicas ficou em suspenso durante meses por falta de financiamento do Comité Olímpico de Portugal, decorrentes da queda do Governo e da tardia aprovação do Orçamento do Estado 2023.
A portuguesa chegou ao grupo de seis finalistas na 1.ª posição, com 118 pratos nas cinco séries da qualificação e na final, foi de novo a mais certeira – acertou em 43 (dos 50 pratos), superando a a italiana Silvana Stanco (2.º) e a espanhola Fátima Galvez, Campeã Olímpica em Tóquio 2020 na prova mista (3.ª).
Sonha fazer carreira no tiro, um das 17 modalidade com presença assegurada em Paris 2024. No ano passado foi Bronze no Campeonato Europeu de Tiro Desportivo e Prata na etapa Mundial de Baku, além de ter sido 5.ª classificada no Campeonato do Mundo de tiro com armas de caça e Medalha de Prata nos Jogos do Mediterrâneo, razão pela qual o chefe da Missão Olímpica, Marco Alves a apontou como um dos cinco nomes da nova vaga Olímpica nacional, juntamente com Diogo Ribeiro (natação), António Morgado (ciclismo) e José Saraiva Mendes (vela).
E pasme-se quem espera ouvi-la dizer o que o mais difícil é acertar num alvo em movimento: “Atirar a um alvo imóvel seria aborrecido para mim, acho que me ia distrair facilmente. Assim é desafiante e exige-me concentração.”
Fonte e crédito das imagens: Diário de Notícias / Portugal