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História de uma queda. Como Márquez impediu Miguel Oliveira de voar em Portimão

Podia ter sido bem pior. A montanha russa de Portimão mostrou que a época terá muitos altos e baixos para a Aprilia RFN e Miguel Oliveira, que nem três minutos esteve em pista. Na segunda volta do Grande Prémio de Portugal, o português foi abalroado por Marc Márquez e teve de abandonar a corrida, para tristeza e revolta dos milhares de espetadores presentes no Autódromo Internacional do Algarve.

O piloto português tinha começado de forma fantástica, conquistando a liderança logo na primeira volta para delírio das bancadas. Numa questão de segundos tudo mudou, numa brutal queda. Primeiro ouviu-se um silêncio ensurdecedor.

@Nuno Veiga / EPA

Com o roncar dos motores a sobrepor-se à preocupação dos fãs, só quando o Falcão se levantou, o público canalizou a fúria para o seis vezes campeão mundial, que deixou a pista debaixo de uma enorme assobiadela e alguns novos apelidos, daqueles bem portugueses e a acabar em “ão”.

De nada lhe valeu multiplicar-se em desculpas. Márquez foi à boxe da equipa de fábrica da Aprilia inteirar-se do estado de saúde do número 88 e pedindo mais uma vez desculpa ao público português, que numa fração deixou de ter o seu preferido para apoiar, apreciando apenas o desenrolar da corrida, que terminou com o triunfo de Pecco Bagnaia (Ducati).

De imediato as redes sociais do espanhol da Honda foram inundadas de comentários e insultos em português, mas não só. E nem Razlan Razali, patrão do português e chefe da da Cryptodata RNF Motogp Team o poupou.

 “Acho que alguém se esqueceu que isto não era uma corrida sprint. É duro aceitar, vamos ver o que aconteceu. O Marc veio à nossa boxe, disse que teve um problema (nos travões), mas temos de ver isso”, disse o malaio, em declarações à SportTV.

Depois de ser visto pelo médico e falar com Márquez, o português qualificou a “manobra demasiado ambiciosa”, dizendo que o impediu de lutar pelo “primeiro pódio” da temporada. Miguel Oliveira disse que “obviamente, as desculpas foram aceites”, mas “quando se tem problemas de travões, trava-se antes, não depois e não tentamos ultrapassar”.

Para bom entendedor… Horas depois da corrida terminar, a Dorna anunciou que irá penalizar o espanhol no próximo grande prémio em que participar. A segunda corrida da época é na Argentina, a 2 de abril, mas o piloto da Honda partiu a mão direita e ainda não sabe quando voltará às pistas.

Num comunicado duro, em que responsabiliza Márquez por “condução irresponsável”, “colocando em perigo os outros competidores”, os comissários consideraram ainda que foi “excessivamente agressivo, provocando a queda” de Oliveira, que ainda não sabe se estará a 100% para o GP Argentina. Foi a 11.ª queda do português em cinco anos de MotoGP, que ainda vai fazer uma ressonância magnética hoje para despistar eventuais lesões ligamentares.

Só o 88 ganha ao 46 de Rossi… e só em Portimão

A turma 88 – nome do clube de fãs de Miguel Oliveira – tomou de assalto o Autódromo Internacional do Algarve este domingo. Em tons de azul, preto ou branco, em bandeiras, camisolas ou bonés, o número do Falcão foi ostentado com orgulho.

@Nuno Veiga / EPA

Pelo quinto ano consecutivo no MotoGP e pela primeira vez com a Aprilia RFN, o piloto de 25 anos viveu pela primeira vez uma enchente de carinho que não só o devia orgulhar como o devia querer estar mais disponível para quem o faz chegar a todo o Mundo.

Miguel Oliveira tem revelado alguns tiques de vedetismo merecido e justificado como mostraram as bancadas de Portimão. Na habitual parada dos pilotos e antes de saber o que a corrida lhe reservava, o piloto deu autógrafos e enviou souvenirs para os fãs, sendo visível a disputa entre adeptos pelo objeto voador que servirá para fazer inveja à grande legião de fãs.

@Adelino Meireles / Global Imagens

E os números não mentem. O português é o oitavo entre os 22 pilotos do paddock nas preferências dos adeptos. Segundo um inquérito realizado pela Dorna Sports, que reuniu respostas de 109 676 de adeptos de 179 países, Fabio Quartararo é o favorito, tendo superado o hexacampeão mundial, que deve ter perdido alguns fãs pelo abalroamento. A fechar o top3 está Pecco Bagnaia. Miguel Oliveira aparece na oitava posição entre os pilotos mais queridos, reunindo a maior percentagem do seu país (82%).

Esses são dados importantes para o patrão da VR46, empresa do campeoníssimo Valentino Rossi (VR) que corria com o número 46 e que abandonou as pistas em 2021 para dominar o merchandising do MotoGP (pilotos e equipas), além da Série A do Calcio, por exemplo. “Adoro o Miguel Oliveira, é um bom piloto e um excelente rapaz”, disse ao DN, o team diretor da VR46, Uccio Salucci.

A empresa lida com os contratos dos pilotos, mas também com toda a preparação em todos os níveis e com o merchandising e os direitos de imagens.

No arranque da época, Miguel Oliveira teve alguns toques de magia entre muita incerteza e instabilidade. Foi apenas 19.º nos treinos, depois saltou para a 4.ª posição na qualificação e quase ia ao pódio na na corrida sprint, mas cometeu um erro que o “desiludiu” e atirou para o sétimo lugar a quatro curvas do final.

Domingo voltou a sair da 4.ª posição, mas voo para a liderança na primeira volta, ultrapassando Marc Márquez (tinha saído da pole position), Bagnaia e Jack Miller, antes do acidente que levou ao asfalto, deixando o campeão à vontade para vencer.

“Estou feliz. Trabalhámos tão bem na pré-temporada, que estava tudo preparado para a corrida. A corrida foi muito mais rápida, os pneus não estavam perfeitos, mas felizmente correu tudo bem. Claro que quero ganhar para ser de novo campeão, mas sei que vai ser difícil com os pilotos da Aprilia e os outros da Ducati. Vai ser difícil, temos de continuar a trabalhar para continuarmos a ser competitivos”, assumiu o dorsal 1.

Maverick Viñales (Aprilia) ainda travou uma interessante luta pelo primeiro lugar com Bagnaia, que concluiu as 25 voltas ao traçado do Autódromo Internacional do Algarve em 41.25,401 minutos. Marco Bezzecchi foi terceiro.

@Nuno Veiga / EPA

O DN tinha visitado a oficina do italiano da VR46 na véspera, observando os teste da moto, a Ducati Desmosedici GP22, que é de 2022 e que obriga a um condução mais exigente. As motos de 2023 estão mais evoluídas tecnológica e mecanicamente e que facilitam por exemplo a saída das curvas.

O que valoriza ainda mais o pódio de Bezzecchi, que partilha equipa com o meio irmão de Valentino Rossi, Luca Marini, um dos muitos pilotos que caíram na prova portuguesa.

No MotoGP desde 2013, foi o braço direito de Rossi, durante anos, assumindo agora o papel de responsável máximo… depois do “super patrão Val”, mais empenhado na academia de pilotos – VR46 Riders Academy – de onde saiu Pecco Bagnaia, o atual campeão.

A opinião de Saluci é tendenciosa, mas reflete aquilo que muitos pensam: “É impossível encontrar um novo Rossi. Um piloto como ele não se encontra nem se descobre, aprecia-se enquanto dá.”

Rossi só acompanha duas ou três corridas na temporada. O ano passado esteve em Portimão, mas este ano não veio porque teve uma corrida de carros. O italiano é piloto da equipa Kessel Racing e compete nas provas de resistência com um Ferrari.

Aprilia tem a 2.ª melhor moto

A montanha russa de Portimão mostrou que a época colocará muitos desafios à Aprilia RFN, que segundo alguns especialistas tem a segunda melhor moto do paddock, sendo apenas superada pelas muitas Ducati, como a de Bagnaia, que dominou em Portimão. 

Além de ter vencido a primeira corrida sprint da história, o campeão do Mundo terminou a primeira corrida da época em primeiro, liderando o campeonato, com 37 pontos. A desilusão do dia foi a Yamaha de el diablo Fabio Quartararo.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito das imagens: Nuno Veiga / EPA