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Há concelhos do Norte e Interior a perder 30% dos jovens: um mapa, três gráficos e três perguntas para perceber a vaga migratória da década

É nos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que se nota um maior aumento de jovens dos 15 aos 24 anos, nascidos entre 1997 e 2006, revelam os Censos de 2021. Os dados que se seguem referem-se à taxa de variação por local de residência, isto é, à diferença entre a população residente em 2021 e a população residente em 2011. A azul, em tonalidades diferentes, conseguimos visualizar os concelhos que ganharam população jovem nesta década.

Tratam-se de regiões mais “atrativas” para jovens a entrar no mercado de trabalho, explica o demógrafo Filipe Ribeiro, investigador e professor da Universidade de Évora. Já o interior do país — aquele com maior variação negativa — sente o reflexo de uma baixa natalidade sentida nos anos anteriores, assim como da migração de muitas famílias para outras áreas do país.

“No caso da Área Metropolitana de Lisboa estamos a falar de uma região que é atrativa tanto a nível interno como internacional, cativando jovens à procura de novas oportunidades, de melhores condições salariais e de vida”.

Como é possível verificar no gráfico abaixo, a maioria das regiões obteve taxas de variações negativas, ou seja, perderam população entre os 15 e os 24 anos. Esta tendência é explicada por “um declínio de fecundidade acentuado (1997-2006) que levou à não renovação de gerações”.

Para além da área de Lisboa, destacam-se nos números positivos o concelho de Odemira. “Estamos principalmente a referir-nos à atração de mão-de-obra internacional não qualificada para trabalhar no campo, ou seja, na prática da agricultura”. “São duas realidades completamente diferentes”, sublinha o demógrafo.

O que se passa no litoral?

Filipe Ribeiro explica que, no litoral, as “taxas de variação são tendencialmente mais positivas”, acrescentando que o mesmo se verifica em outros países do mundo. “Até perante comportamentos de baixa fecundidade, uma população jovem tem mais filhos” do que uma população com maior média de idades, refere.

Mas não é só. As regiões situadas no litoral oferecem “melhores oportunidades de emprego associadas a melhores condições de vida”, tendo impacto “ao nível das migrações”. Assim, são mais “atrativas para os jovens em idade de entrar no mercado de trabalho”.

O professor universitário salienta que “muitos só conseguem o primeiro emprego estável por volta dos 25 anos”. Por isso, atualmente, um adulto com 30 anos ainda é considerado jovem”.

O que está a acontecer no Norte e no Interior?

“O Interior e o Norte do país são um reflexo, desde logo, de um saldo natural negativo”, explica Filipe Ribeiro. Entre 1997 e 2016 (altura em que nasceram os jovens que tinham em 2021 entre 15 e 24 anos) registou-se “um declínio de fecundidade acentuado”, levando à “não renovação de gerações”. Este impacto mostra-se hoje de forma inequívoca, com vários municípios do país a perder mais de 30% dos jovens face ao início da década anterior.

Entre os anos de 2011 e 2021, o país assistiu a mais 230.257 óbitos do que nascimentos, tendo “só” atraído 11.145 imigrantes a mais do que emigrantes. “Perto de 40% do declínio populacional verificado em toda a região Norte deve-se a um saldo migratório extremamente negativo”.

Ao saldo natural negativo alia-se, ainda, “uma capacidade de fixação/atração populacional muito baixa”.

Que papel têm as instituições de ensino?

Nem todos os jovens desta faixa etária terminaram o ensino obrigatório. Alguns estão agora no ensino superior e outros à procura dos primeiros empregos. No caso dos alunos universitários, alguns mudam de cidade para estudar, mas terão os municípios capacidade para fixá-los? Sim, se tiverem empresas capazes de “gerar o número suficiente de vagas para jovens qualificados”A vaga migratória para os municípios de Lisboa encontra aí uma resposta.

Fonte: Jornal Expresso / Portugal

Crédito da imagem: Alexandra C. Ribeiro