O terreno é o mesmo, mas quase tudo é novo no Centro de Arte Moderna que a Fundação Calouste Gulbenkian se prepara para inaugurar em ambiente de grande festa, no fim-de-semana de 21 e 22 de Setembro.
Mais luz natural, mais jardim, mais sustentabilidade, mas também muito mais arte são os lemas deste novo/velho edifício, que encerrara para obras em 2020.
Tudo sob a “proteção” da maior novidade do espaço: a gigantesca Engawa, elemento da arquitetura tradicional japonesa que se propõe estabelecer uma ligação harmoniosa entre o espaço interior, mais íntimo, e o exterior, mais mundano. Sem dúvida, um traço de autoria do arquiteto japonês, Kengo Kuma, responsável pelo projeto.
As preocupações com a sustentabilidade estenderam-se ainda à intervenção arquitetónica sobre o edifício original de betão, da autoria do arquiteto britânico Leslie Martin. Como referiu Lourenço Rebelo de Andrade, arquiteto envolvido nesta obra, a pala de 100 metros de comprimento tem uma cobertura de 3274 telhas de cerâmica brancas, “totalmente produzidas em Portugal, tal como as madeiras utilizadas.”
Para além desta preocupação com a origem das matérias-primas, a pala proporciona ao edifício um “ambiente de frescura, que permite reduzir a utilização de ar condicionado.”
Nesta primeira temporada do novo CAM, Leonor Antunes, antiga bolseira da Fundação, é a primeira artista a receber carta branca da direção do CAM, uma iniciativa que, de acordo com o diretor da instituição, Benjamin Weil, é para continuar, já que “os artistas utilizam muito bem essa liberdade criativa que lhes propomos.”
Leonor Antunes usou-a, apresentando uma monumental instalação escultórica intitulada Da desigualdade constante dos dias (patente de 21 setembro até 17 fevereiro 2025), que ocupa todo o espaço da Nave e que estabelece um diálogo com um conjunto de obras da coleção permanente do CAM, escolhidas pela artista.
Por sua vez, Yasuhiro Morinaga inaugura a nova Sala de Som, com a instalação inédita The Voice of Inconstant Savage (21 setembro – 13 janeiro 2025).
No átrio do CAM, passará a estar instalada uma sala de vídeo itinerante – a H BOX – concebida pelo artista luso-francês Didier Faustino, onde o público terá acesso gratuito a um conjunto de vídeos de artistas internacionais, sempre em regime de rotatividade.
O fim de semana de inauguração terá vários momentos musicais que se prolongarão noite fora nos espaços interiores e exteriores do CAM, numa programação realizada em colaboração com a Associação Cultural Filho Único. A artista belga, de origem caribenha e radicada em Londres, Nala Sinephro, que se tem destacado no campo do jazz experimental, atua no Anfiteatro ao Ar Livre pela primeira vez em Portugal.
Já os DJ Nídia e Tim Reaper vão animar o Engawa com as suas propostas musicais alternativas. Haverá ainda lugar para apresentações musicais em diálogo com as obras de arte expostas nos vários espaços do CAM.
Será o caso do espetáculo de Éliane Radigue, pioneira da música eletrónica, que fará uma série de concertos-performance na Nave do CAM, a partir da instalação escultórica de Leonor Antunes.
A artista multidisciplinar brasileira Jota Mombaça fará, por sua vez, uma performance especialmente criada para a ocasião – Sempre viva cobra d’água – que cruza a escultura, a arte pública e a performance ambiental.