A Assembleia Nacional francesa aprovou a moção de censura ao primeiro-ministro Michel Barnier, menos de três meses depois de este ter assumido o cargo.
É o primeiro chefe de governo francês a cair numa moção de censura em mais de 60 anos, sendo também aquele que menos tempo esteve no cargo.
A moção passou com 331 votos a favor (só eram precisos 288).
Barnier era alvo de duas moções de censura, depois de ter usado o artigo 49.3 da Constituição para tentar passar o orçamento para a Segurança Social sem a aprovação dos deputados.
Mas bastou votar uma. Segundo a Constituição, o primeiro-ministro tem que apresentar a sua demissão ao presidente.
A Nova Frente Popular, aliança de esquerda que inclui os radicais da França Insubmissa, os socialistas e os ecologistas, apresentaram uma das moções.
A extrema-direita do Reunião Nacional apresentou a segunda, dizendo que votaria também na dos adversários de esquerda, usando o NFP como “uma simples ferramenta”.
“O seu fracasso foi anunciado e é amargo”, disse o presidente da Comissão de Finanças da Assembleia, Éric Coquerel, dos radicais da França Insubmissa, que apresentou a moção de censura da NFP.
Já a líder parlamentar do Reunião Nacional, Marine Le Pen, falou num “momento parlamentar sem precedentes de 1962”, que sela “o fim de um governo efémero. Um governo de circunstância e, em última análise, de aparência”.
Ambos apontaram o dedo ao presidente francês, Emmanuel Macron, com Coquerel a dizer que ele lhe tinha transmitido a “maldição” da “ilegitimidade”.
Já Le Pen disse que caberá ao presidente “concluir ele próprio se está em condições de continuar ou não”.
Mais de duas horas depois do início do debate, Barnier subiu ao púlpito para ainda tentar travar a censura, pedindo aos deputados que medissem “as consequências” do seu voto. E falando num “momento de verdade e de responsabilidade”.
Barnier reiterou que a difícil realidade das finanças públicas “não vai desaparecer pela magia de uma moção de censura”. E lembrou que “não foi por prazer que apresentei quase apenas medidas difíceis”, explicando que “preferia ter distribuído dinheiro, mesmo que não o tenhamos”.
No final do discurso, emocionado e já antevendo o desfecho da votação, Barnier disse que foi “uma honra ter servido com dignidade a França e os franceses”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Yoan Valat / EPA