Nada melhor que festejar uma conquista com outra. O FC Porto celebrou os 20 anos da conquista da última Liga dos Campeões (26 de maio de 2004) com a conquista da Taça de Portugal, depois de vencer o Sporting (2-1), numa final marcada por muita emoção e muitas despedidas.
Desde logo Taremi. O autor do golo que deu o troféu ao emblema portista, o terceiro consecutivo no Jamor, fez o último jogo de dragão ao peito. E o mesmo poderá dizer-se de Pinto da Costa, e até talvez Sérgio Conceição.
Fruto de estratégias e táticas em nome desse objetivo maior que é subir os 104 degraus do Estádio Nacional e receber a Taça das mãos do Presidente da República na Tribuna, nem sempre os finalistas assumem uma postura tão claramente aberta e reveladora de intenções como o fizeram hoje FC Porto e Sporting, no Jamor. A
mbos pressionados – dragões queriam salvar a época com um troféu e os leões ansiavam por uma dobradinha que foge há 22 anos – não deixaram de jogar para vencer. Parece um pleonasmo, uma vez que ninguém entra em campo para perder, mas as equipa de Rúben Amorim e Sérgio Conceição fizeram-no sem medo ou complexos de inferioridade.
Os minutos iniciais foram agitados, com ambas as equipas a jogar aberto e com grande verticalidade. St. Juste foi a surpresa no onze leonino e foi ele a colocar os leões a vencer aos 20 minutos, na sequência de um canto cobrado por Pedro Gonçalves. A resposta portista chegou cinco minutos depois por Evanilson, que logo no início de jogo tinha testado o nervosismo do guardião estreante Diogo Pinto (19 anos).
O golo do empate resultou de um erro tremendo de Geny Catamo, que tentou fazer um corte, mas acabou a fazer um passe para o avançado brasileiro que saiu disparado para festejar com os adeptos e só voltou ao jogo depois de um abraço sentido a Sérgio Conceição. O técnico portista fez o jogo 378 de dragão ao peito e, como ele admitiu, passou-lhe pela cabeça que pode ter sido o último…
St. Juste foi de herói a vilão em 10 minutos. À passagem da meia-hora o defesa-central foi expulso por puxar Galeno quando este se isolava, mas a grande penalidade assinalada foi revertida após análise do VAR. As coisas mudaram radicalmente a partir deste momento.
O técnico leonino teve de sacrificar Morita para fazer entrar Eduardo Quaresma e assim manter os equilíbrios do esquema inicial montado com três centrais. Um deles, Gonçalo Inácio, depois de uma combinação aérea com Coates, obrigou Diogo Costa a uma grande intervenção antes do intervalo.
Nos primeiros 45 minutos, nem sinal de Viktor Gyökeres (tirando um cartão amarelo por um cotovelo atrevido na cara de Zé Pedro). O pai do sueco fez parte da romaria dos adeptos no Jamor e pediu um hat-trick ao filho, mas acabou o jogo em branco.
Taremi, pois claro!
Com Roberto Martínez na Tribuna do Estádio Nacional, onde também estava o primeiro-ministro Luís Montenegro e o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, Francisco Conceição, esse “espalha-brasas excecional” nas palavras do selecionador, começou a mexer no jogo e a desequilibrar a balança a favor dos dragões de forma gradual.
Com menos um em campo, valia à equipa leonina a coesão defensiva e até Gyökeres era chamado a tarefas defensivas. O sueco não conseguiu libertar-se da marcação individual, responsabilidade de Zé Pedro, o jovem chamado a jogo devido à indisponibilidade física do capitão Pepe.
Do lado portista, a dupla Pepê-Francisco Conceição criavam oportunidades flagrantes de golo com as combinações pela direita, mas Diogo Pinto foi evitando que a bola entrasse, ora com intervenções na hora certa, ora de forma algo atabalhoada, como se veria no prolongamento.
O derrube a Evanilson na área foi o lance que decidiu o jogo e proporcionou uma despedida de sonho a Mehdi Taremi. O iraniano marcou o penálti e deu a Taça de Portugal ao FC Porto na despedida – irá reforçar o Inter de Milão. Entretanto Sérgio Conceição foi expulso e foi já do lado de fora que exultou com a histórica quarta Taça de Portugal e o 11.º troféu como treinador.
O abraço lavado em lágrimas entre ele e o filho Francisco Conceição é um dos momentos da final, assim como a emoção de Pinto da Costa com o apito final do árbitro. Aquele que foi líder do FC Porto nos últimos 42 anos despede-se amanhã da liderança da SAD, depois de perder as eleições para a presidência do clube para André Villas-Boas.
Estiveram ambos na Tribuna e levantaram-na juntos. A primeira taça de um é a última do outro, que sai deixando 69 troféus no museu do clube.
O final de jogo foi intenso e muito nervoso, com o Sporting a reclamar duas grandes penalidades, mas o campeão Sporting terá de esperar pelo menos mais um ano para tentar a dobradinha que lhes foge há 22 anos… e já sem Luís Neto, que também se despediu.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Pedro Rocha / Global Imagens