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“Fazer Erasmus é aprender, crescer e evoluir.” Programa tem orçamento reforçado e cada vez mais interessados

Ana Rita Araújo tinha 11 anos quando participou, pela primeira vez, no Programa Erasmus+. Esteve na Polónia, na casa de uma família de acolhimento, fez o seu batismo de voo e a experiência do intercâmbio deixou-a com vontade de repetir.

“Desde aí, pela boa experiência, tive a certeza de que não seria o último. E já passei pela Bélgica, Croácia, Itália, Espanha. E, em Portugal, também estive nos Açores”, conta ao DN.

Hoje, a aluna do Agrupamento de Escolas (AE) do Cerco, no Porto, de 17 anos, soma dezenas de histórias das suas oito participações no programa (quatro com o AE do Cerco e outras quatro pelo Curso de Música Silva Monteiro, do ensino articulado).

As várias experiências de intercâmbio foram todas diferentes, mas a vontade de “aprender e explorar” foi ficando cada vez mais vincada.

“O programa ajuda a desenvolver vários aspetos como a independência e desperta a vontade de aprender e explorar cada vez mais países e culturas diferentes. Sairmos da nossa zona de conforto é sempre desafiante, neste caso por termos de conviver numa sociedade completamente diferente à que estamos habituados, mas isso é bastante positivo pois aumenta a nossa confiança, a resiliência, e desenvolvemo-nos / crescemos pessoalmente”, explica.

Ana Rita, que participou de novo este ano letivo (esteve em Itália), aconselha aos jovens a experiência de intercâmbio ao abrigo do Erasmus + e recomenda sentido de responsabilidade, “algo completamente crucial quando se trata de viver por uma semana em casa de alguém que conhecemos no momento em que chegamos”.

Os pontos positivos das suas oito aventuras são muitos, mas a jovem, que vai ingressar no 12.º ano, destaca as amizades que fez e que mantém, “mesmo que os amigos estejam noutro país”.

“O Erasmus é viver a vida com o piloto automático desligado, permitir-nos enfrentar novos desafios e descobrir algo novo todos os dias. Faz com que sejamos capazes de resolver e/ou ultrapassar situações que por vezes não passam de todo pelas nossas mãos. É verdade que temos de abdicar de algumas coisas que estão na nossa zona de conforto, principalmente a família, mas no fim compensa por voltarmos tão realizados com cada experiência”, descreve.

Para Ana Rita, “o Erasmus é mais do que ir passar umas férias: é aprender, crescer e evoluir”. “É saber transformar uma situação menos positiva numa experiência incrível, ver sempre o melhor lado possível”, conclui.

No Programa Erasmus+ Ensino Escolar, os estudantes participantes são recebidos pela família do aluno que, posteriormente, recebem na sua casa, havendo assim trocas de aprendizagem e de culturas.

Indira Moreira, aluna de 12.º ano, 18 anos, esteve no mesmo grupo de alunos de Ana Rita, mas no seu caso foi a sua primeira participação e com direito a batismo de voo. Foi uma “experiência única” que a fez “crescer a nível de responsabilidade” e que lhe “ensinou muito a nível cultural”.

“Viagens não são, de todo, coisas que eu dispensaria. São uma construção de memórias e aprendizado que levamos connosco durante toda a vida”, sublinha. O desafio, diz, é a “adaptação a uma língua estrangeira e as diferenças gastronómicas”.

“É desafiante, mas bastante interessante. Quando se fala nesse tópico as pessoas questionam sempre a dificuldade em não entender o que é falado na língua nativa do país, mas ninguém fala de como é engraçado falar na nossa língua nativa num país estrangeiro estando com amigos”, refere.

E de todas as memórias que guardou, o batismo de voo tem um lugar “especial”. “Apesar do medo ligeiro de estar lá em cima, acabou por ser uma experiência muito boa. De forma singular, a minha foi 100% aproveitada porque tive a oportunidade de ir do lado da janela e ainda tenho a visão de estar a chegar a Itália e só ver água em volta do aeroporto”, recorda.

Pedro Petrus, do 9.º ano, estava no mesmo grupo e destaca várias vantagens da sua primeira participação no programa: “O enriquecimento cultural, a prática constante de idiomas estrangeiros (inglês, italiano, espanhol) e o fazer novas amizades”.

No próximo ano letivo, adianta, quer participar de novo, pois diz ter adquirido muito com a experiência “a nível de responsabilidade, autoconfiança e disciplina”. E as dificuldades, conta, são uma boa forma de aprender a adaptar-se.

“Gostaria de destacar a boa hospitalidade por parte da família que me acolheu; o nível de inglês dos italianos, sendo difícil uma comunicação sem uso de tradutor; a ligeira falta de organização em relação às atividades; a dificuldade ao acesso de internet fora de casa e a gastronomia, que relativamente às expectativas e experiências passadas na Itália, deixou a desejar”, recorda, sublinhando que até o menos positivo é encarado como “uma oportunidade para crescer”.

Mais de 14 mil participantes

Ana Rita, Pedro Petrus e Indira Moreira são apenas três dos mais de 14 mil alunos portugueses que já participaram no Erasmus+ desde 2014. Entre esse ano e 2020, foram desenvolvidos 126 projetos de parceria estratégica do Ensino Escolar, que associam escolas e estabelecimentos de ensino de 33 países participantes.

O novo programa, iniciado em 2021, ainda não tem números oficiais, pois está longe do término (2027), mas deverá chegar a muitos mais alunos já que conta com quase o dobro do financiamento do programa anterior. Reino Unido (15,6%), Itália (13,2%) e Finlândia (8,9%) são os que mais portugueses recebem.

Alunos envolvidos melhoram resultados escolares

O AE do Cerco entrou no programa em 2016, somando 24 participações. “Já visitámos a maioria dos países da Europa, onde o Programa Erasmus+ é aplicado. A título de exemplo de destinos mais distantes, já estivemos na Islândia, Turquia e Guadalupe, nas Caraíbas”, conta o diretor do agrupamento, Manuel António Oliveira.

O responsável sublinha a importância do programa da UE, numa escola onde a maioria dos alunos provêm de agregados familiares desfavorecidos.

“Temos muitas histórias de alunos que nunca tinham sequer saído da cidade quando participaram na sua primeira mobilidade, o que é um enorme desafio para eles e para as suas famílias. Mas esse desafio tem sido claramente superado. E esse crescimento também se sente na escola, pois temos cada vez mais alunos em mobilidade e com uma postura perante a escola que já não é de rejeição, mas de satisfação e bem-estar. Sentem que vale a pena esforçarem-se e que são recompensados pelo seu esforço”, sustenta.

E as mais-valias passam pela “melhoria dos resultados escolares, a diminuição do abandono escolar precoce e a diminuição das saídas de alunos de sala de aula”.

“Estes objetivos são tidos em conta nas candidaturas às mobilidades, quando se faz a seleção dos alunos. Na prática, os que forem melhor comportados ou tiverem melhores classificações terão maior probabilidade de ir em mobilidade. Esta mudança na atitude tem um impacto direto no seu percurso escolar”, afirma. Essas mudanças positivas levam, a cada ano, a um aumento do número de candidaturas de alunos.

Estágios para alunos do Ensino Profissional

O Erasmus+ envolve alunos de todos os ciclos do Ensino Básico, Secundário regular e Ensino Profissional. Para estes, o formato é diferente e passa por formação em contexto de trabalho, dando-lhes uma experiência num mercado laboral além fronteiras.

“O Programa Erasmus+ é crucial, pois permite que os alunos aprimorem suas capacidades técnicas e linguísticas, especialmente no domínio do espanhol, aumentando seu espírito de iniciativa e empreendedorismo. A mobilidade internacional é vista como um fator significativo de crescimento pessoal e profissional, promovendo a autonomia e a empregabilidade dos jovens”, explica Adélio Silva, professor do AE Cerco.

O docente destaca “o sucesso do Cerco Inclusivo, em Valência, onde 32 estudantes de desporto e restauração realizaram estágios”. O projeto que foi reconhecido com um prémio na primeira Gala Prémios Erasmus+ realizada na Ericeira.

A Escola Secundária Augusto Gomes (ESAG), Matosinhos, também aderiu ao programa para os alunos do ensino regular e, este ano, para os dos Cursos Profissionais. Sandra Gomes, coordenadora de Erasmus, conta ao DN que os alunos do Curso de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos fizeram 400 horas de formação em contexto de trabalho em Córdoba (Espanha), com excelente aproveitamento.

“O feedback dos alunos foi fantástico e o das entidades de acolhimento também. Todos tiveram 20 valores e foram convidados a ficar lá. Não ficaram porque querem ir para o Ensino Superior”, explica. A responsável acredita que a experiência adquirida será “útil para o futuro dos alunos”, salientando que os estágios são reconhecidos a nível europeu.

Segundo Helena Cativo, subdiretora da ESAG, nos mais de oito anos em que a instituição de ensino aderiu ao projeto, cerca de 50 alunos em cada ano letivo têm participado no programa, com presença em Áustria, Alemanha, Espanha e Bélgica.

São várias as competências trabalhadas no âmbito do programa, desde “o desempenho em língua inglesa ou a aposta na sensibilização para a sustentabilidade”.

“A troca cultural assume também grande importância. Temos intercâmbios com escolas com populações migrantes bastante extensas, e realizar intercâmbios entre alunos portugueses e estrangeiros, nessas circunstâncias, torna o programa ainda mais rico até na construção da União Europeia”, conclui.

Margarida Pereira, diretora da ESAG, explica que o Erasmus também envolve professores em mobilidade para formação ou job-shadowing, permitindo “uma atualização e conhecimento maior de outros sistemas de ensino da UE”.

“Ainda ontem tivemos um momento de partilha da experiência de dois professores que estiveram no curso de Inteligência Artificial no Ensino, ao abrigo do Programa Erasmus+”, refere.

Segundo a Agência Nacional Erasmus, nos cinco primeiros anos do projeto mais de 4 mil docentes e outro pessoal do Ensino Escolar em Portugal beneficiaram de um período de mobilidade para formação, job-shadowing ou missão de ensino noutro país participante, no âmbito dos projetos de mobilidade.

O Programa Erasmus+ financiou 203 projetos de mobilidade do Ensino Escolar, numa média anual de 41 projetos.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Global Imagens