O pior jogo de Portugal neste Mundial, e apesar da derrota (2-1), acabou por permitir à seleção seguir para os oitavos-de-final como primeira classificada do Grupo H, abrindo ao mesmo tempo espaço ao milagre do apuramento da Coreia do Sul de Paulo Bento, que ao vencer a equipa das quinas (e porque o Uruguai só ganhou por dois golos ao Gana), seguiu também para a fase seguinte como segundo do grupo. O cenário que à partida parecia o menos provável de acontecer foi uma realidade.
E os oitavos-de-final terão assim dois treinadores portugueses – Portugal mede forças com a Suíça (venceu esta sexta-feira a Sérvia por 3-2) na terça-feira, e um dia antes a Coreia defronta o poderoso Brasil (surpreendentememnte derrotado pelos Camarões, mas mesmo assim com o primeiro lugar do grupo assegurado).
Santos tinha admitido mudanças no onze, para gerir os amarelos e a fadiga de alguns jogadores já a pensar nos oitavos-de-final, e no total foram seis as alterações. Na defesa, Dalot entrou para o lado direito, deslocando Cancelo para a esquerda e permitindo a Raphaël Guerreiro descansar. O benjamim António Silva (tornou-se o português mais novo de sempre a jogar um Mundial) entrou para o lugar de Rúben Dias no eixo defensivo e, no meio-campo, William Carvalho, Bruno Fernandes e Bernardo Silva deram os lugares a Matheus Nunes, Vitinha, João Mário. No ataque, Ronaldo manteve a titularidade e teve como parceiro Ricardo Horta, que jogou no lugar do amarelado João Félix.
Por mais que o selecionador insista na máxima de que tem 100% de confiança no lote de convocados, e que todos lhe dão garantias, a verdade é que esta derrota mostrou que a a equipa se ressente das ausências de alguns jogadores, sobretudo de Bruno Fernandes e Bernardo Silva (entrou já no fim). Se Dalot e Vitinha (os melhores de Portugal) mostraram que podem (e devem) ter lugar a titulares, já Matheus e Nunes e João Mário não estiveram à altura.
Obviamente que a derrota e a exibição globalmente fraca não se explica só por isto, pois em muitas alturas faltou dinâmica, agressividade, velocidade e até vontade à equipa portuguesa, que em dados momentos pareceu até conformada com o empate e saiu castigada com um golo perto do fim do jogo.
Portugal (que apresentou o onze mais jovem de sempre desde o Mundial66, com uma média de idades de 27,6 anos) até entrou bem no jogo e foi premiado aos cinco minutos. Um lance que começou numa grande abertura de Pepe para Dalot, que trabalhou bem no lado direito e assistiu Ricardo Horta de forma perfeita para o golo da seleção nacional. Melhor início era impossível!
O problema foi que depois do golo, Portugal baixou as linhas e permitiu à Coreia assumir jogo. O meio-campo português estava demasiado soft e os coreanos conseguiam sair a jogar com algum à vontade até à área portuguesa. Aos 27 minutos, na sequência de um canto de Son, a bola bateu nas costas de Ronaldo e foi parar direitinha a Kim Young-Gwon, que só com Diogo Costa à frente fez o empate.
O golo agitou a equipa portuguesa. Vitinha começou finalmente a aparecer no jogo, e depois de um aviso de Ronaldo (mas em fora de jogo), Dalot tentou a sorte de longe para uma boa defesa do guarda-redes coreano. Son ainda assustou num remate travado por Diogo Costa (41″) e, antes do intervalo, Vitinha rematou bem de longe e obrigou o guarda-redes coreano a aplicar-se, com Ronaldo a errar depois o alvo num cabeceamento. O intervalo chegou com mais posse de bola para Portugal (56% contra 44%) e mais remates (9 contra 5).
CR7 saiu chateado
Santos não mexeu logo ao intervalo, mas sentiu cedo que a equipa precisava de algo mais, e foi ao banco aos 65″ com três alterações de uma só vez. Tirou os apagados Ronaldo e Matheus Nunes, e o amarelado Rúben Neves, e lançou Rafael Leão, André Silva e João Palhinha, numa tentativa de refrescar a equipa e dar uma maior dinâmica. Ronaldo não gostou de ser substituído e saiu chateado, soltando até uns impropérios. Mas no final, ele e Santos fizeram questão de garantir que os comentários eram afinal para um jogador coreano.
A verdade é que as substituições não trouxeram nada de novo. Portugal continuou a jogar de forma lenta, sem intensidade, e praticamente sem levar perigo às redes coreanas. Paulo Bento via o jogo na bancada (por castigo) e certamente ia dando indicações para o banco para o seu fiel escudeiro Sérgio Costa. A Coreia acreditava que podia marcar mais um golo e colocar-se em posição de apuramento, sempre atenta ao que se passava no outro jogo em que o Uruguai vencia o Gana por 2-0.
E perante um Portugal que parecia conformado com o resultado, que lhe garantia o primeiro lugar, os coreanos começaram a crescer e a acreditar. E foi já no tempo extra, aos 90″+1, que o milagre coreano aconteceu, já depois de Bernardo Silva e William Carvalho terem entrado. Por incrível que possa parecer, o golo do triunfo dos coreanos surgiu na sequência de um canto a favor de… Portugal. Uma bola mal aliviada permitiu a Son sair rápido para o contra-ataque, e já na área portuguesa aguentou bem a pressão de Palhinha, e serviu Chan para o golo.
Foi a festa coreana nas bancadas! O jogo terminou, mas ainda foi preciso esperar mais uns minutos pelo desfecho do Gana-Uruguai. Só depois do apito final no outro jogo Paulo Bento pôde finalmente festejar, ele que por castigo viveu as emoções deste jogo na bancada. Agora venham os oitavos, com Portugal frente à Suíça e a Coreia com o Brasil.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Patricia de Melo Moreira / AFP