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Este ano deverá ser ainda melhor para a produção de azeite e preços vão começar a baixar

A campanha de produção de azeite de 2023 foi a segunda melhor de sempre, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE), mas a de 2024 poderá ser ainda mais favorável e os preços, que dispararam nos últimos dois anos, deverão começar a baixar e a aliviar a carteira dos fiéis consumidores portugueses.

“A produção de azeite ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros (160,8 mil toneladas), o que corresponde à segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre”, sublinha o INE nas estatísticas agrícolas de 2023 divulgadas esta terça-feira. A melhor foi a de 2021, com uma produção de cerca de 210 mil toneladas de azeite, lembra Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite.

Quanto a este ano – a colheita é feita entre os meses de outubro e dezembro – “a expectativa é de que ultrapasse a de 2023, com a boa floração que houve, com um regime hídrico muito mais favorável do que nos últimos dois anos, sim, mas ainda é um bocadinho cedo para dizer isto. Se há coisa que aprendemos nos últimos tempos é que prognósticos só no fim o jogo”, sublinha a responsável da Casa do Azeite, uma associação de produtores e de promoção do azeite de marca junto dos consumidores.

Em junho, o preço a granel do azeite pago ao produtor aumentou 62,5%, segundo o índice do INE de preços de produtos agrícolas no produtor.

Quanto aos preços ao consumidor, no cabaz monitorizado pela Deco Proteste, o preço desta gordura mediterrânica está cerca de 50% mais caro agora do que há um ano e mais do que duplicou de valor desde o início da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.

A expectativa do setor é que o preço do azeite comece a baixar. “É de esperar uma correção dos preços. Não se sabe em que dimensão ou quando se iniciará esse movimento, é muito difícil fazer essa previsão muito fina, mas o que se pode dizer é que haverá uma correção à medida que as produções voltem ao normal, mas isso é a lei da oferta e da procura”, diz Mariana Matos.

No entanto, não será a boa campanha agrícola de 2023 em Portugal, ou a produção ainda mais favorável esperada para este ano que vão determinar a redução do preço do azeite nas prateleiras dos supermercados.

“O facto de termos produzido razoavelmente bem não impacta, porque a nossa produção é de 6 ou 7% da produção mundial. E Espanha representa 50%, portanto, quem marca o preço do mercado não somos nós, é Espanha”, explica Mariana Matos.

“Espanha teve duas campanhas muito, muito baixas. E isso esgotou os stocks mundiais e fez elevar os preços”, acrescenta. E será sobretudo pela recuperação da produção espanhola que se pode esperar que os preços comecem a baixar.

“A manterem-se as condições atuais, tudo indica que a produção será superior à do ano passado, quer em Portugal, quer em Espanha.” O que deverá provocar a uma quebra nos preços, mas “em que tempo e em que dimensão são duas incógnitas que hoje ninguém consegue prever”, diz a secretária-geral da Casa do Azeite.

Filipa Velez, diretora executiva do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), corrobora: “É difícil fazer previsões, os preços estão ligados com as duas últimas campanhas, e Espanha teve campanhas muito difíceis”, afirma.

“Esperamos que venha a ser uma boa campanha este ano com os preços a descer ligeiramente. O impacto deverá sentir-se a partir do próximo ano”, arrisca dizer.

Há outros fatores que também serão importantes para a evolução dos preços do azeite, nomeadamente a recuperação do consumo – que baixou 11% no ano passado -, e a reposição dos stocks mundiais, que sofreram um rombo com a quebra da produção espanhola.

“Tipicamente, num cenário de stocks muito baixos, os movimentos de redução de preços nunca são muito acentuados, ou muito bruscos. Porque há que recompor esses stocks a nível mundial, é preciso fazer alguma stockagem e depois ver como será o andamento da procura dos consumidores”.

“Isso é que vai determinar realmente a evolução dos preços. Se for muito lenta a recuperação do consumo, será uma coisa, se for mais rápida, ou se for acima do previsto, será outra”, afirma Mariana Matos.

Todavia, a responsável nota que a forte subida dos preços nos últimos anos permitiu perceber melhor a dinâmica do mercado.

“Uma coisa que se aprendeu é que há uma certa resiliência nos consumos, principalmente nos países tradicionalmente consumidores, porque as exportações caíram bastante. Por exemplo, em Espanha, Portugal, Grécia e Itália, o consumo manteve-se acima do que seria expectável para a dimensão do aumento dos preços. O que quer dizer que os consumidores não saíram da categoria, consumiram menos, mas mantiveram-se fiéis ao produto.”

Cereais com pior produção de sempre

As estatísticas agrícolas do INE revelaram também que “a produção de vinho aumentou em quase todas as regiões, atingindo os 7,4 milhões de hectolitros, o valor mais elevado desde 2001. De um modo geral, os vinhos apresentaram estrutura complexa e equilíbrio entre o teor alcoólico, a acidez e os taninos”.

Mas o mesmo não se pode dizer dos cereais: “A campanha dos cereais para grão de outono/inverno 2022/23 foi muito marcada pela seca severa da primavera, sendo a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas”, sublinha o gabinete de estatística.

Determinante para esta quebra foram as condições meteorológicas. Segundo o INE, o ano agrícola 2022/2023 foi o mais quente desde que há registos sistemáticos, ou seja, desde 1931/ 1932, e foi chuvoso, com a precipitação a atingir um total de 947,8 milímetros.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Leonel de Castro / Global Imagens