Pulsante em jogos do Santos Futebol Clube, cenário de novela e um dos poucos locais da Cidade que ainda guardam a charmosa arquitetura dos anos 1930 e 1940, a “vila mais famosa do mundo”, como é conhecida a Vila Belmiro, completa 113 anos de existência esta terça-feira, caracterizando-se pela maravilhosa contradição entre a tranquilidade de um bairro histórico, com rotina pacata, e a agitação famosa dos jogos no estádio Urbano Caldeira, que popularmente é chamado em todo o mundo pelo mesmo nome do bairro.
Delimitado pelo quadrilátero formado pelas avenidas Ana Costa, Pinheiro Machado e ruas Carvalho de Mendonça e Joaquim Távora, a Vila Belmiro ocupa 636.116,64m². Atualmente são mais de 3,8 mil residências e cerca de 8,6 mil habitantes.
A alternância entre os dias agitados de jogos do Peixe e a calmaria vivida entre as partidas é ressaltada pelos moradores da Vila. Um deles é o biólogo Rafael Costa Nascimento, que vive há 20 anos no bairro. Ele enfatiza o sentimento de união e paz, muito comuns em cidades pequenas. “Esse clima de tranquilidade é incrível, trata-se de um bairro com um aspecto residencial bem marcado. Os vizinhos muitas vezes se unem em churrascos ou confraternizações durante o ano. Todos nós nos conhecemos”.
Além do número expressivo de bares, restaurantes e lanchonetes, por volta de 60, a Vila Belmiro ainda conta com 21 escolas (uma municipal, duas estaduais e 18 particulares); três hospitais; três praças: da Bíblia, Fernandes Gasgon e Olímpio de Lima.
O empresário Márcio Vieira de Castro Louzada trabalha no bairro há 15 anos. “É muito importante, ainda mais para nós que somos santistas, nos sentimos em casa e ajudamos a preservar o local. Nos dias sem jogos o trânsito é muito tranquilo”, explica.
Não muito longe dali, está situado o complexo hospitalar da Beneficência Portuguesa, que há quase 100 anos auxilia na manutenção da vida santista, sendo referência em tecnologia hospitalar na região.
Aos 79 anos, dona Maria José Silva, que mora na Vila Belmiro há 17, valoriza demais a proximidade do hospital e dos serviços de saúde em geral. “Gosto muito de estar perto do hospital, facilita demais. Morar aqui é muito gostoso, valorizo demais as amizades que fiz, é um bairro tranquilo.
HISTÓRIA
No princípio do século 20, o bairro abrigava chácaras de japoneses, que produziam principalmente tomates. Além disso, ainda nos primeiros anos do século passado, passou a abrigar funcionários de empresas que ficavam na Vila Mathias e Jabaquara. Por conta desses moradores, passou a ser conhecido em seus primeiros anos como Vila Operária.
Foto: Novo Milênio
O nome do bairro trata-se de uma homenagem ao responsável pelo loteamento do local, o ex-prefeito Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, que exerceu o cargo entre 1911-1914 e entre 1917-1920.
Foto: Câmara Municipal de Santos
A Vila Belmiro surge e se desenvolve num período em que a Cidade passava a incentivar o adensamento da Zona Leste, como uma política de planejamento urbano, que visava levar a população para fora do Centro.
“Surge como um bairro projetado para ser operário, dentro de um contexto de evolução urbana de Santos devido às riquezas provenientes do café, que ocasionaram uma expansão do porto e das riquezas que por aqui circulavam”, conta o historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida.
FUTEBOL
Alguns nomes estão marcados para sempre no imaginário dos amantes de futebol de todo o mundo como palcos de grandes espetáculos futebolísticos. Isso acontece com Alfeld, Wembley, Santiago Bernabéu, Centenário, La Bombonera, Maracanã e, claro, com a Vila Belmiro. Quase ninguém conhece o palco de tantas glórias futebolísticas pelo nome de batismo: Urbano Caldeira. Os amantes do esporte lembram sempre do apelido: Vila Belmiro.
Foto: Carlos Nogueira/PMS
O estádio é tão integrado com o bairro que passou a ostentar o apelido de “vila mais famosa do mundo”. E não é à toa. Inaugurado em 12 de outubro de 1916, criou uma simbiose com o bairro, que transforma as pacatas ruas antigas em um verdadeiro “alçapão”, capaz de encantar os santistas e amedrontar os adversários do Peixe.
Durante dias de jogo, os bares ao redor do estádio ficam lotados de fanáticos torcedores, que ainda ocupam a parte de baixo do monumento que homenageia o eterno ídolo santista Zito (falecido em 2015), uma imponente estátua do eterno capitão alvinegro apontando para o estádio que amava.
CURIOSIDADE
Ali pertinho do estádio, mais precisamente na esquina da rua Paissandu com a D. Pedro I, fica a casa onde foi gravada, em 1977, a terceira versão da novela Éramos Seis, da TV Tupi, que simulava a São Paulo dos anos 20.
Imagem: TV Tupi
Fonte: Ivan Belmudes / Prefeitura Municipal de Santos
Crédito da imagem: Isabela Carrari