O novo plano estratégico da EDP para o período 2023-2026 , apresentado ontem em Londres, prevê um reforço dos investimentos, sobretudo nas renováveis e no estrangeiro, mas estima que o mercado português valha 30% do negócio global até ao final do triénio, mesmo depois de Portugal ter penalizado as contas de 2022.
“[O peso do negócio em Portugal] vai manter-se acima dos 30% até ao final do plano”, afirmou o presidente executivo do grupo EDP, Miguel Stilwell d”Andrade, na conferência de imprensa sobre o novo plano estratégico da empresa. A ambição do grupo EDP passa sobretudo por consolidar as diferentes áreas de negócio lá fora, mas, segundo o gestor, Portugal continua a ter a sua relevância, apesar da dimensão do mercado e do contexto atual.
“Portugal tem a dimensão que tem, mas continuamos a ver boas oportunidades e a investir muito, seja nas redes de distribuição de alta, média ou baixa tensão. E continuamos a ver boas oportunidades de investimento nas renováveis, que podem trazer bastante valor ao país”, adiantou,
O gestor notou que Portugal tem condições para projetos de inovação, juntando diferentes tecnologias, como, por exemplo, “parques eólicos e solares a utilizarem os mesmo pontos de interligação, ou fazendo um mix entre “parques eólicos e solar com a energia hídrica”.
Questionado sobre se os resultados negativos registados em Portugal poderiam condicionar a estratégia de crescimento do grupo, Miguel Stilwell d”Andrade explicou que o portefólio do grupo é “global e diversificado, do ponto de vista das tecnologias, do negócio e das geografias”. “Conseguimos absorver esses impactos”, asseverou.
Na quarta-feira, a EDP anunciou lucros recorrentes de 871 milhões de euros, mais 6% em termos homólogos, com Portugal a pesar negativamente (prejuízo recorde de 257 milhões de euros) devido à seca severa que o país atravessou em 2022.
O plano de negócios apresentado estima um investimento anual de 6,2 mil milhões de euros até 2026, num total de 25 mil milhões de euros. Portugal vai receber 12% desse bolo, ou seja, três mil milhões de euros.
De acordo com o administrador Miguel Setas, 1,5 mil milhões de euros serão aplicados nas redes de distribuição, sendo que “cerca de 31% será para digitalização, ou seja, redes que se vão tornar mais inteligentes”. “Temos um compromisso regulatório que até 2024 temos de ter 100% dos contadores inteligentes”.
“Acresce que 32% desses 1,5 mil milhões são para aplicar na modernização das redes, 17% em resiliências das mesmas face às alterações climáticas e fenómenos meteorológicos, e16% será para a “expansão das redes, novos clientes, ou seja, um alargamento da presença nas redes de distribuição”.
A complementar, a administradora Vera Pinto Pereira disse que ainda serão instalados 3500 pontos de carregamento de veículos elétricos em infraestrutura pública e que o plano de investimento estima que dos 1,8 gigawatts (GW) de instalações solares em termos globais, “cerca de um quarto será investimento feito em Portugal”.
Ainda estão previstos dinheiros para dois projetos de hidrogénio que estão a ser desenvolvidos em antigas centrais termoelétricas em Sines e no Ribatejo, o parque de solar flutuante na barragem do Alqueva, o desenvolvimento de um projeto híbrido com 70 megawatts (MW de solar flutuante, 70 MW de eólicas e 14 MW de solar, bem como o projeto de eólicas no mar Windfloat Atlantic.
Além destes investimentos, a EDP também prevê a contratação de três mil pessoas até 2026. “Grande parte vem de fora de Portugal, porque estamos a crescer a nível global. Mesmo assim, em Portugal talvez recrutemos um terço dessas pessoas, dois terços lá para fora”, prevê o CEO da EDP.
EDP não compreende IMI das barragens
Na mesma conferência de imprensa, Miguel Stilwell d”Andrade respondeu a questões além do plano apresentado. Sobre o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) às barragens, que o governo decidiu incumbir a Autoridade Tributária (AT) de fazer a cobrança, referente aos últimos quatro anos, o gestor disse não compreender a decisão e que entende que não se aplica a este tipo de bens. Mas aguarda despacho do governo para tomar decisões.
Outro tema comentado foi o mecanismo ibérico que estabelece um limite ao preço do gás para produção elétrica. “Há várias coisas boas que podem fazer para continuar a melhorar o mercado [de energia na União Europeia]. Acho que o mecanismo ibérico acaba por ser redutor”, afirmou.
“Somos a favor que o mecanismo seja comum a toda a Europa, seja ele o que for, desde que seja estável, visível e comum a todos. Criar exceções não faz sentido”, acrescentou.
A par do novo plano de negócios, o grupo EDP anunciou duas operações ambiciosas: uma OPA sobre a EDP Brasil, e dois aumentos de capital de mil milhões de euros cada, na EDP Renováveis e EDP.
“Muitas vezes se diz que Portugal não tem capital, mas a verdade é que vemos que há capacidade para ir buscar dois mil milhões de euros para se investir na EDP e na EDP Renováveis. E vamos buscar este capital a investidores diferentes, acionistas que têm confiança na empresa e nos planos de crescimento”, comentou.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Legenda e crédito da imagem: Miguel Stilwell d”Andrade, CEO da EDP, na apresentação do plano estratégico, ontem, em Londres. © D.R.