O PIB português terá variado entre -0,1% e 0,2% no terceiro trimestre, projeta o Fórum para a Competitividade, o que resulta numa desaceleração em termos homólogos para 1,8% a 2,1%.
O consumo continua a dar sinais de fragilidade, uma dinâmica que se irá agravar com a retoma do crescimento das poupanças das famílias, enquanto o investimento e exportações permanecem deprimidos.
Na nota de conjuntura referente a setembro, a instituição liderada por Pedro Ferraz da Costa sublinha o deteriorar das condições económicas portuguesas, que devem resultar num crescimento em cadeia semelhante à estagnação registada no trimestre anterior.
O indicador diário de atividade do Banco de Portugal (BdP) suporta esta visão, ao mostrar um abrandamento no terceiro trimestre associado a uma volatilidade grande.
Ao mesmo tempo, o investimento público continua muito abaixo do previsto: numa altura em que já passaram dois terços do ano, apenas 39,4% do orçamentado foi executado, uma realidade ainda mais grave se olharmos exclusivamente para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde a execução é apenas 20,1% do previsto.
Na mesma linha, as exportações continuam em queda, um cenário que se arrasta há quatro meses e que deve agravar-se com a paralisação da Autoeuropa.
Também os atrasos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não ajudam, apesar da reprogramação ter aumentado os fundos disponíveis para a economia nacional.
No último mês, “o valor de projetos aprovados subiu apenas 17 milhões de euros”, ou seja, “muito abaixo da média dos últimos 21 meses (511 milhões de euros)”.
“Os pagamentos a Beneficiários Diretos e Finais subiram apenas 58 milhões para 2582 milhões de euros, de novo muito abaixo da média necessária para cumprir a execução do programa inicial (277 milhões de euros)”, acrescenta a nota.
Do lado das famílias, a taxa de poupança voltou a subir, algo que o Fórum aplaude, dada a insustentabilidade do recurso às poupanças acumuladas durante a pandemia.
Por outro lado, tal afetará negativamente ainda mais o consumo privado, ao esmagar o rendimento disponível em conjunto com outros fatores.
À cabeça, a subida dos juros tem encarecido o crédito, uma realidade bastante gravosa num país com uma exposição tão elevada a taxas variáveis como Portugal.
A nota assinada por Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum, lembra que “a prestação do crédito à habitação acelerou de 32,6% para 40,0%, o maior crescimento desde 2009”, ao mesmo tempo que “a taxa de juro média foi de 4,09%, o máximo desde março de 2009”.
É uma combinação que claramente agrava a pressão sobre o consumo privado, alerta o documento.
Ainda assim, o cenário base para este ano continua a não passar por uma recessão. Em grande parte, tal deve-se ao spillover (efeitos retardados de períodos passados) na economia portuguesa, que registou um ano de 2022 muito forte e ainda beneficia de uma “recuperação atrasada dos efeitos das perturbações recentes”.
Para 2024, de salientar o retomar das regras orçamentais europeias, o que deve funcionar como novo travão ao crescimento português.
Fonte e crédito da imagem: O Jornal Económico / Portugal